Memory Remains

Memory Remains: Judas Priest – 50 anos de “Rocka Rolla” e as dificuldades financeiras do início da carreira

6 de setembro de 2024

Há 50 anos, em 6 de setembro de 1974, o Judas Priest lançava “Rocka Rolla“, o álbum de estreia desta que é um dos maiores pilares do Heavy Metal, e, claro, tema do nosso Memory Remains desta sexta-feira.

Da sua formação até o álbum de estreia, passaram-se quatro anos. Durante esse tempo, a banda se apresentou em Manchester, onde se tornou famosa. À época, o vocalista ainda não era Rob Halford e sim um sujeito chamado Al Atkins, que ajudou a escrever algumas das músicas que estão aqui no nosso homenageado do dia. Como a grana era curta e a filha de Atkins havia acabado de nascer, ele saiu da banda.

Eles então se viram sem vocalista. Mas as coisas mudaram quando a noiva de Ian Hill apresentou seu irmão, Rob Halford, no ano de 1973. Eles ficaram impressionados com os agudos que o jovem conseguia alcançar e lhe fizeram convite para entrar na banda. Porém, perguntaram para Al Atkins se ele se importava em ceder as letras que ele havia ajudado a escrever e se poderiam utilizar o nome Judas Priest, uma sugestão dele. Com o aval do ex-vocalista, eles mantiveram o nome e o frontman se tornaria um dos nomes mais notáveis do Heavy Metal mundial. Rob Halford certa vez relembrou como foi o primeiro encontro com seus companheiros:

“O fato é que eu já conhecia um pouco do Judas Priest. A banda existia havia uns três ou quatro anos. Eu conhecia um pouco da história da banda e que houve altos e baixos. Cheguei até a ver um show deles, mais ou menos um ano antes. Lembro-me de pensar que eles definitivamente tinham alguma coisa diferenciada. Me parecia uma banda muito mais profissional do que o Hiroshima, que ia do nada para lugar nenhum. K.K., Ian e eu nos sentamos na sala e batemos um papo, nos demos muito bem logo de cara. Nossos gostos musicais em geral eram bem parecidos. K.K. era muito obstinado em relação ao Judas Priest, o que me agradava. Não parecia desanimado por ter perdido o vocalista, e falava em termos otimistas sobre o que ele queria que a banda conquistasse.”

Então era hora de a banda ir para o estúdio. Eles recrutaram o produtor Rodger Bain, que na época estava famoso por ter produzido os três primeiros álbuns de ninguém menos que o Black Sabbath. Eles utilizaram dois estúdios para fazer o primeiro registro: o Basing Street e o Trident Studios, ambos localizados em Londres. A curiosidade é que o guitarrista Glen Tipton ainda não fazia parte do Judas Priest, ele só foi integrado à banda quando eles já estavam no estúdio.

Eles gravaram tudo “ao vivo”, ou seja, não houve gravações separadas para que depois acontecessem a mixagem, como é praxe nos dias atuais. A banda enfrentou problemas durante o processo de gravação, como o fato de só gravaram no período da madrugada por questões financeiras, o que acarretou em ruídos que podem ser ouvidos no álbum. O estreante Glen Tipton apresentou algumas composições, mas o produtor Rodger Bain só aceitou as músicas “Run of the Mill” e na faixa-título. Músicas apresentadas por ele, como “Tyrant“, “Epitaph” e “Ripper“, foram rejeitadas, mas acabariam por entrar em “Sad Wings of Destiny“, o álbum sucessor.

As faixas “Winter, “Deep Freeze” e “Winter Retreat“, embora constem como faixas separadas em várias versões do álbum, são, na verdade, uma trilogia. Como dissemos acima, algumas das canções de nosso cinquentão têm a participação de seu ex-vocalista. A faixa “Caviar and Meths” era originalmente uma composição de 14 minutos, mas eles utilizaram apenas a introdução.

O álbum traz dez canções e duração de breves 38 minutos. A sonoridade é bem diferente do Heavy Metal tradicional que o Judas Priest se tornaria mundialmente conhecido. Aqui a sonoridade está mais para um Hard Rock, muito bem executado, com influências de Led Zeppelin e também muita coisa do blues. A banda foi moldando sua sonoridade ao longo do tempo e hoje não temos nem um resquício da sonoridade de “Rocka Rolla“.

A receptividade foi bastante fria, o álbum vendeu pouco e como a Gull estava em dificuldades financeiras, isso também se refletiu na banda. Há uma história de que os integrantes diziam estar morrendo de fome e que não sabiam quando seria a próxima refeição. Eles tentaram um acordo com a gravadora para pagar-lhes mesmo que fosse o mínimo pelas vendas das cópias, mas não foi possível. A saída foi trabalhar duro para que 50 anos depois, o Judas Priest se tornasse essa coisa gigante que é.

Ainda assim, eles saíram em turnê, com shows que passaram pela Alemanha, Holanda, Noruega e também na Dinamarca. Uma das apresentações, no hotel Klubben, em Oslo. Mas tal apresentação não rendeu bons frutos e eles se tornaram alvo de críticas negativas por parte da imprensa local. As músicas deste álbum pouco são lembradas hoje em dia nos shows da banda. Rob Halford, quando esteve fora do Judas, chegou a tocar “Never Satisfied“, no ano de 2003. Em 2021, durante apresentação no Bloodstock Open Air, a banda tocou a faixa-título pela primeira vez desde 1976.

A capa simula a logotipo da Coca-Cola, o que teria gerado um processo da multinacional contra a banda, por plágio. Em 1984, o álbum foi relançado, com uma capa diferente da original. A banda havia prometido um novo relançamento do álbum, exatamente para comemorar os 50 anos. Ian Hill declarou em entrevistas que o produtor Tom Allom estaria trabalhando na remasterização do álbum, uma vez que o Judas Priest recuperou os direitos sobre o álbum.

Esse é o único álbum a contar com o baterista John Hinch, que foi demitido em 1975, pouco antes de a banda iniciar os trabalhos de composição de “Sad Wings of Destiny“. Glen Tipton recordou mais tarde em entrevistas que a demissão do baterista se deu pelo fato de ele ser musicalmente inadequado para os planos futuros da banda.

Era só o começo e se não fosse por “Rocka Rolla“, talvez não tivéssemos um dos principais pilares do Heavy Metal britânico, que depois se tornaria uma referência da New Wave of British Heavy Metal, oi simplesmente NWOBHM. Hoje é dia de celebrar o mais novo cinquentão da cena. Felizmente a banda segue em plena atividade, tendo acabado de lançar o ótimo “Invencible Shield“, que mostra porque são a referência do estilo tão adorado por nós, metalheads. Longa vida ao Judas Priest.