O tema do nosso quadro Memory Remains de hoje é um discão para ninguém colocar defeito: “Abigail II: The Revenge”, deste sacerdote do Heavy Metal que atende pelo nome de King Diamond.
Estamos no ano de 2002 e King Diamond dá sequência ao seu projeto, uma vez que o Mercyful Fate havia se separado mais uma vez em 1999. O sucessor de “House of God” é o 10° álbum da banda, que está na ativa desde 1985 sem se separar em nenhum momento.
O aniversariante do dia, como o nome sugere, é uma continuação do clássico “Abigail”, segundo álbum da discografia, lançado 15 anos antes. E para tal, King Diamond reformulou praticamente todo o seu time: saiu o guitarrista Glen Drover e entrou em seu lugar o outrora companheiro de Mercyful Fate, Mike Wead, tornando-se assim, o novo parceiro do excelente Andy LaRocque; Dave Harbour saiu para o retorno do baixista Hal Patino e John Herbert saiu para a entrada de Matt Thompson.
Lineup reformulado, todos embarcaram para Dallas, no Texas, onde ficaram entre os meses de maio e setembro de 2001 no “Nomad Recording Studio”, com a produção assinada por Kol Marshall, King Diamond e Andy LaRocque. Vamos sem mais delongas destrinchar cada uma das treze faixas deste play:
Temos em “Spare this Life” uma intro bem chatinha, mas faz parte do roteiro, afinal, trata-se de um álbum conceitual. Felizmente essa intro dura pouco e logo o Metal dá as caras com “The Storm” e King Diamond chega com seu agudo inconfundível em uma música fantástica, com riffs e solo maravilhosos, além do ótimo trabalho do baixo, que deu ainda mais peso à música.
“Mansion in Sorrow” é NWOBHM puro, em uma música sensacional e novamente eu destaco o solo, bastante melódico e bem tocado, além dos belos riffs. A dupla Andy LaRocque e Mike Wead parece ter se entrosado muito bem. King Diamond, como sempre, mesclando seu vocal gutural e agudo com a maestria que só ele consegue ter.
“Miriam” viaja entre o Hard e o Heavy, com riffs simples, porém, eficientes e a inserção de climas atmosféricos aqui e acolá. Uma música bem divertida e assim o disco segue beirando a perfeição. “Little One” tem um início bastante medonho, mas a medida em que ela se desenvolve, vai ganhando peso e novamente um solo melódico abrilhanta a canção, que conta com a primeira participação de Alyssa Biesenberger.
Jimmy Hubbard/Divulgação
Riffs cavalgados e sombrios anunciam a chegada de “Slippery Stairs”, uma música bastante moderna para o padrão King Diamond, mas ele a deixa bem destacada com sua performance vocal impecável. Falar do solo é chover no molhado, mas não podemos deixar passar em branco: o primeiro é limpo; já no segundo, a velocidade toma conta e a música se torna um Power Metal por alguns instantes, até voltar ao andamento inicial.
“The Crypt” é uma sucessão de andamentos diferentes em uma mesma música: ela começa com um dedilhado, dando a impressão de que vai ser uma balada, mas a música vai crescendo, ganhando peso, passando para um clima atmosférico e denso e assim essas partes vão intercalando se entre si nesta maravilha de composição.
“Broken Glass” é uma canção bem certinha, sem deixar de lado o peso e alguns momentos bem sombrios. King Diamond alternando vocais agudos, graves e rasgados, se destacando como sempre. “More Than Pain” é uma breve canção com seus menos de 3 minutos, que oscila em maus momentos como na sua primeira parte, com muito peso, horror e a consequente melhora à medida que o tempo passa. Essa fica um pouco abaixo das demais, mas longe de ser considerada um anti-climax.
“The Wheelchair” tem um pé na NWOBHM, com muito peso e muito clima de terror, como exige uma história que se passa no ano de 1863, que o leitor bem sabe sobre Abigail. Os riffs aqui disputam palmo a palmo com os vocais de King quem vai ser o destaque maior e o redator que vos escreve fende a escolher a dupla Andy LaRocque e Mike Wead.
“Spirits” começa com jeito de quem vai desapontar, mas King Diamond raramente, para não dizer nunca, desaponta. A faixa ganha peso e uma atmosfera incríveis. E as guitarras novamente falam alto por aqui. E por “alto”, caro leitor, não entenda somente o volume e sim a forma como a dupla conduz as coisas, deixando a faixa agradável aos ouvidos do headbanger que curte um Heavy Metal bem tocado. Puro e cristalino.
“Mommy” é a última música do play e com seus mais de seis minutos, ela é a mais extensa do play. Ela viaja por algumas mudanças de andamento e em alguns momentos as guitarras soam em clima épico. O play se encerra com a vinheta “Sorry Dear” que nada mais é que uma conversa entre King Diamond e Alyssa Biesenberger, interpretando os personagens da história de Abigail, uma jovem de 18 anos que sofreu estupro e acaba se vingando ao final.
Em 53 minutos temos um excelente álbum. Ainda que “Abigail II” não supere a primeira parte do conto, é um álbum que merece destaque e é um item obrigatório na discografia de qualquer headbanger que se preze. A se destacar também a produção, impecável, como manda o figurino e os instrumentos todos perfeitamente audíveis.
“Abigail II: The Revenge” conseguiu destaque nos charts da Suécia e da Finlândia, onde ocupou as posições 42 e 24, respectivamente. A belíssima capa é assinada pela autoridade chamada Travis Smith, criador de diversas obras de arte quando se trata de capas de álbuns de Heavy Metal.
Enfim, hoje é dia de celebrar mais um ano deste play e também de manifestar nosso desejo de que em breve possamos ter toda a humanidade vacinada e por consequência, imunizada, para que no meio deste vírus maldito, possamos ter uma vida normal, ainda que este novo normal seja bem diferente daquele com o qual estávamos acostumados. Mas que traga de volta os artistas que amamos, King Diamond, certamente é um deles. Longa vida a esse monstro do Heavy Metal.
Abigail II: The Revenge
Data de lançamento: 29/01/2002
Gravadora: Metal Blade
Faixas:
01 – Spare This Life
02 – The Storm
03 – A Mansion in Sorrow
04 – Miriam
05 – Little One
06 – Slippery Stairs
07 – The Crypt
08 – Broken Glass
09 – More Than Pain
10 – The Wheelchair
11 – Spirits
12 – Mommy
13 – Sorry Dear
Formação:
King Diamond – vocal
Andy LaRocque – guitarra
Mike Wead – guitarra
Hal Patino – baixo
Matt Thompson – bateria
Participações especiais:
Kol Marshall – piano
Alyssa Biesenberger – vocal nas faixas 5, 12 e 13