hbNews

Memory Remains: Korzus – 18 anos de “Ties of Blood”, marcando a união da cena nacional

Memory Remains: Korzus – 18 anos de “Ties of Blood”, marcando a união da cena nacional

2 de abril de 2022


Em 2004, o mundo vivia uma nova ordem mundial: havia  a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, sob o falso pretexto de que o líder iraquiano Saddam Hussein estava produzindo armas químicas, o que nunca foi confirmado. Em terras brasileiras, tínhamos o Korzus lançando “Ties of Blood“, o quarto álbum da carreira dos paulistanos e que é assunto do nosso Memory Remains deste sábado.

Após 9 longos anos de hiato, eles voltaram com tudo e fizeram a espera valer e muito a pena. O trabalho anterior, “KZS“, embora seja um bom álbum, é um tanto quanto descaracterizado, uma vez que eles enveredaram por outros caminhos, como o Industrial e até mesmo o Hardcore, o que acabou gerando algumas controvérsias. Aproveitando o clima bélico que o  mundo vivia, o quinteto veio com sua artilharia musical pesadíssima. E para isso, eles convidaram uma turma de peso, que vai desde Andreas Kisser à João Gordo, passando por Boka, Redson, Andre Matos, entre outros, fortalecendo os laços de sangue da música pesada, que deu origem ao título do disco.

O disco marca a estreia do excelente guitarrista Heros Trench, gravando em estúdio com a banda, uma vez que ele já havia marcado presença no “Live at Monsters of Rock”. Ele, que já estava na banda desde o ano de 1998, faria com Silvio Golfeti, a mais letal das duplas de guitarristas do Metal nacional (N. do R: ainda que mais tarde, o pernambucano Antônio Araújo substituísse Silvio e mantivesse a letalidade das guitarras do Korzus).

A banda entrou no “Mr. Som Studio”, de propriedade da dupla Marcelo Pompeu e Heros Trench, tendo este último assinou a produção do aniversariante do dia. Ele já tinha alguma experiência como em estúdio, e já havia atuado nas mais diversas funções com outras bandas em estúdio, como na mixagem, na masterização, como engenheiro e já havia produzido discos de bandas como Hangar, Corpse Grinder, Siegrid Ingrid, Reviolence, entre outras. E o resultado foi simplesmente espetacular, como iremos saber, colocando a bolacha para rodar e destrinchar uma a uma, as treze faixas deste álbum clássico:

A abertura se dá de maneira apoteótica, com a longa intro de “Guilty Silence“, que logo se transforma em uma verdadeira máquina de riffs, onde as palhetadas da dupla Heros Trench e Silvio Golfetti estão bem nervosas, transformando essa faixa certamente em uma das melhores de toda a carreira da banda. A pancadaria continua em “Respect“, curta e grossa que em menos de três minutos dá o seu recado, da mesma forma da faixa anterior: com palhetadas rápidas e muita rispidez. Outra excelente música.

What Are You Looking For” é mais cadenciada, onde os riffs mais arrastados e os gritos de Marcelo Pompeu são os pontos altos. Destaque para o solo, muito bem estruturado. “Screaming for Death” é bem direta também, uma das diversas faixas com menos de dois minutos de duração. Uma música para levantar até defunto da cova rumo ao “Wall of death”, comum nos shows da banda.

Never Get Me Down” é uma música mais moderna, com algumas influências do “pula-pula” do Metal contemporâneo, até similar a algumas músicas do “KZS“. Mas ela segue brutal, pesada, onde mais uma vez, as guitarras são os destaques. “Punisher” é bem trabalhada e traz de volta, além do peso característico da banda, mudanças de andamento, até uma parte mais, digamos, acústica, antes do solo, muito bem trabalhado.

Evil Sight” é pesada, sombria, densa. E conta com a participação do vocalista Andre Matos, fazendo um belo dueto com Pompeu. Impressionante como a voz de Andre casou bem com o som Thrash Metal da banda, mesmo que essa faixa não seja rápida como as faixas costumeiras do Korzus. Aqui temos também a participação do saudoso guitarrista do Golpe de Estado e do Mobilis Stabilis, Hélcio Aguirra. Certa vez, o Korzus executou essa música ao vivo com o imortal Warrel Dane cantando as partes que Andre Matos registrou em estúdio e ficou sensacional.

Correria” traz além da letra em português, a participação de Andreas Kisser na guitarra e mais uma vez o “pula-pula” volta a ter vez. Mas aqui, ao contrário das bandas modernas estadunidenses, o Korzus passa longe de soar pedante ou chato. Bem interessante.

Cruelty” faz o fã “das antigas” se lembrar das faixas do clássico “Mass Illusion“, a velocidade desta música nos remete à esta fase da banda, porém, aqui, bem melhor produzida e com a banda tendo muito mais bagagem, deu um peso monstruoso e isso acaba influenciando na qualidade. “Ties of Blood” chega trazendo riffs que lembram bastante o baixo na introdução de “No More Tears“, de Ozzy Osbourne. Uma música em que a banda tira o pé do acelerador, mas a fábrica de riffs segue com a criatividade em voga. Ou seja, até aqui, está tudo perfeito.

It Wasn’t Me” é, em minha opinião, a melhor faixa do disco. Ela traz consigo riffs maravilhosos, um peso brutal, mantendo “Ties of Blood” beirando a perfeição. A única música um pouco abaixo do nível das demais atende pelo nome de “The Sadist“, não que ela seja uma música ruim, ela até cresce no final, ganhando velocidade, é apenas uma questão de gosto mesmo, pois a música é bem executada, embora seja mais arrastada.

Agora as duas músicas finais são um verdadeiro atentado ao pudor. Desafio o leitor a permanecer inerte durante “Who’s Going to be the Next” e em “Peça Perdão“. A primeira, rápida, violenta, crua, enquanto que a segunda não fica muito atrás, porém, mais voltada ao Hardcore, uma vez que temos participações especiais de Boka e João Gordo (Ratos de Porão), Redson (Cólera) e de Taurus, vocalista da banda punk finlandesa Força Macabra, que canta músicas em português. Um final de tirar o fôlego.

O disco, cheio de participações especiais, como a banda dizia na época de seu lançamento, era para mostrar os laços de sangue entre os músicos da cena, o que foi uma excelente iniciativa, já que todos os músicos brilharam e ajudaram ao Korzus a crescer e chegar a outro patamar. A qualidade da produção aqui é brilhante, mas a banda ainda evoluiria ainda mais com os seus sucessores “Discipline of Hate” (este considerado por mim o melhor deles) e com “Legion“, outra pérola dessa banda que jamais decepciona.

Minha relação com esse disco é de muito carinho, pois foi o primeiro play da banda que eu adquiri. Eu já os curtia desde a época do “KZS“, inclusive havia assistido a uma apresentação da banda em 1999. Além de tudo, foi uma bela atitude de juntar grandes nomes da cena metálica, mostrando que há a possibilidade de unir o movimento. A obra traz a tona o amadurecimento do grupo e tal amadurecimento seria atestado nos álbuns subsequentes. É um disco que mostra o quão prolífera é a cena brasileira e como as bandas locais são capazes de produzir um material que não fica devendo nada para as bandas gringas. Essa tem o selo “Made in Brazil” e nos dá um baita orgulho.

A banda está para lançar um novo disco, coisa que os fãs já estão aguardando ansiosamente. Enquanto esse novo disco não vê a luz do dia, vamos celebrando mais um ano desse verdadeiro petardo que é o “Ties of Blood“, uma aula de Thrash Metal para ninguém botar defeito. Esse merece ser tocado no volume máximo, pois tudo aqui é perfeito, os riffs nervosos, a bateria precisa, o baixo competente e os vocais raivosos. Esse play merece ser tombado. Longa vida ao Korzus, a banda que herdou com maestria o posto deixado pelo Sepultura, como a maior banda brasileira da atualidade.

Ties of Blood – Korzus

Data de lançamento: 02/04/2004

Gravadora: Unimar Music

Faixas:

01 – Guilty Silence

02 – Respect

03 – What Are Looking For

04 – Screaming for Death

05 – Never Get Me Down

06 – Punisher

07 – Evil Sight

08 – Correria

09 – Cruelty

10 – Ties of Blood

11 – It Wasn’t Me

12 – The Sadist

13 – Who’s Going to be the Next

14 – Peça Perdão

Formação:

Marcelo Pompeu – Vocal

Silvio Golfetti – Guitarra

Heros Trench – Guitarra

Dick Siebert – Baixo

Rodrigo Oliveira – Bateria

Participações especiais:

Hélcio Aguirra – Guitarra em “Evil Sight”

Andre Matos – Vocal em “Evil Sight”

Andreas Kisser – Guitarra em “Correria”

Boka – Bateria em “Peça Perdão“

João Gordo – Vocal em “Peça Perdão“

Redson – vocal em “Peça Perdão“

Otto Taurus – Vocal em “Peça Perdão“