Em 24 de outubro de 2014, o Korzus lançava “Legion“, o sexto e até então o último registro de estúdio do quinteto paulistano e que é tema do nosso Memory Remains desta segunda-feira. Vamos tratar desta obra, uma das pérolas do Thrash Metal tupiniquim.
O Korzus sempre foi conhecido pelos longos hiatos entre um disco e outro, mas entre o aclamado “Discipline of Hate” e o aniversariante do dia, foram “apenas” 4 anos. A banda colhia os frutos do antecessor: turnê na Europa com os húngaros do Ektomorf, participação no Rock in Rio em 2011, quando o festival retornava ao seu local de origem após dez anos e a consolidação como a maior banda de Thrash Metal do Brasil naquele momento, uma vez que o Sepultura abandonou de vez o estilo que o consagrou, fazendo com que o Korzus herdasse a vaga na ocasião.
“Legion” é o segundo álbum com a formação que se mantém estável desde o ano de 2008, quando Antônio Araújo assumiu o posto de guitarrista, em lugar do fundador Silvio Golfetti. É o lineup mais duradouro de toda a história do Korzus, que hoje tem apenas no vocalista Marcello Pompeu e no baixista Dick Siebert os membros originais. Os cinco guerreiros do Metal foram ao Mr. Sound estúdio, que é de propriedade de Pompeu e do guitarrista Heros Trench, por onde ficaram entre 2013 e 2014 registrando a obra. O próprio Heros Trench foi o produtor, repetindo o trabalho que fez em “Discipline of Hate“.
Vamos colocar a bolacha para rolar e conferir as treze faixas contidas aqui: “Lifeline” é aquela típica faixa de abertura que o Korzus costuma fazer, com aquela introdução longa e épica, para depois o Thrash Metal comer solto, onde as palhetadas da dupla Heros Trench e Antônio Araújo são as protagonistas. O refrão grudento também é marcante. Em seguida, temos “Lamb“, curta, grossa é rápida, com uma breve inserção grooveada ali no meio, mas ela é capaz de gerar um moshpit lindo e aqui quem quebra tudo é o batera Rodrigo Oliveira.
E já que falamos em moshpit, a faixa número três trata exatamente deste tema: “Six Seconds” é uma ode ao nosso ritual de escutar Metal, bater cabeça e entrar no moshpit. Ela é menos rápida do que as anteriores, dando privilégio maior aos riffs mais trabalhados e não se torna menos linda por isso. Em “Broken“, eles tiram ainda mais o pé do acelerador, trazendo uma música mais arrastada, o que parece não ter sido combinado com Rodrigo Oliveira, pois o cara tá com os pés nervosos e desce velocidade nos bumbos. O solo, bem melódico, é outro destaque. A música explana bem a complexidade das músicas do Korzus e neste sentido, eles são a banda mais técnica do Metal nacional.
“Vampiro” devolve a velocidade e o caos ao disco, em uma letra cantada em português, coisa que o Korzus tem feito em pelo menos uma música desde o clássico “Ties of Blood“. A música é uma pedrada. “Die Alone” é aquela faixa Thrash Metal que você escuta e já identifica o Korzus antes mesmo de Marcello Pompeu abrir a boca, pois ali estão os timbres de guitarra, a levada da bateria. Ela tem momentos rápidos intercalados com partes mais cadenciadas, até mesmo atmosféricas ali no refrão. Tudo lindo até aqui.
A metade final da bolacha começa com “Apparatus Belli“, que é uma breve introdução e logo dá espaço para “Time Has Come“, onde a banda traz de volta uma música não muito rápida, porém, pesada e assim como na faixa anterior, traz o clima atmosférico no refrão. E Rodrigo Oliveira descendo o braço (e os pés) em seu kit de bateria. Os riffs são uns dos melhores de todo o play. Aqui temos os solos gravados por Eduardo Ardanuy e Marcelo Soldado, este último, ex-guitarrista da própria banda, que gravou o álbum “KZS” (1995).
A velocidade e a quebradeira retornam em “Purgatory“, que dão uma trégua somente no refrão. É Thrash Metal da melhor qualidade e quem desconhece a banda, pode duvidar que os caras sejam brasileiros. “Self Hate” é pesada, com riffs intrincados, além de um solo muito bem trabalhado. “Bleeding Pride” é faixa número onze e apresenta um Korzus moderno, apostando no Thrash Metal nas estrofes e um refrão bem diferente, que acabou combinando. A música foi o primeiro single na época.
O álbum chega ao final e temos duas faixas bem diferentes entre si: “Devil’s Head“, de longe, a minha favorita de todo o play, com a bela mistura de Thrash Metal com Groove, que deixou transparecer a modernização na sonoridade do Korzus sem que eles perdessem a sua essência pesada. E a faixa título, onde a banda traz algo que jamais havia feito em nenhum de seus álbuns anteriores, que é uma música densa, atmosférica e melódica, cuja duração ultrapassa os sete minutos. Eu particularmente confesso que estranhei a música no primeiro momento, mas depois eu fui me acostumando. A música é bela e nem assim eles abriram mão do peso.
Em 49 minutos que passam rápidos como a queda de um raio, temos esse baita disco, onde o Korzus se moderniza sem necessariamente abrir mão das principais características do Metal. É pesado, rápido, moderno e técnico como quase sempre a banda foi. A produção é perfeita e isso só valoriza ainda mais o trabalho executado pelo quinteto.
Felizmente o Korzus segue em atividade e os caras superaram a pandemia sem maiores danos. Enquanto o novo álbum não é lançado, a gente vai celebrando mais um aniversário deste belo disco. Então você já sabe, hoje é dia de botar “Legion” para escutar no talo. E vamos desejar longa vida para estes lindos do Thrash Metal brasileiro.
Legion – Korzus
Data de lançamento – 24/10/2014
Gravadora – AFM Records
Faixas:
01 – Lifeline
02 – Lamb
03 – Six Seconds
04 – Broken
05 – Vampiro
06 – Die Alone
07- Apparatus Belli
08 – Time Has Come
09 – Purgatory
10 – Self Hate
11 – Bleending Pride
12 – Devil’s Head
13 – Legion
Formação:
Marcello Pompeu – vocal
Heros Trench – guitarra
Antônio Araújo – guitarra
Dick Siebert – baixo
Rodrigo Oliveira – bateria
Participações especiais:
Marcelo Soldado – guitarra (solo) em “Time Has Come”
Eduardo Ardanuy – guitarra (solo) em “Time Has Come”