Memory Remains

Memory Remains: Megadeth – 16 anos de “United Abominations” e a ira de Dave Mustaine contra a ONU

15 de maio de 2023


O 15 de maio registra na história do Megadeth o lançamento de dois álbuns. Em 2001 a banda lançava “The World Needs a Hero“, mas o tema do nosso Memory Remains desta segunda-feira é “United Abominations“, o álbum de número 11 da banda de Dave Mustaine, que completa 16 anos de lançamento na presente data.

O aniversariante do dia é um marco, pois o Megadeth voltava a lançar um excelente disco. Sim, eu digo isso, pois, depois de “Cryptic Writtings” (1997), a banda não manteve uma regularidade em seus lançamentos: o controverso “Risk” (1999), o mediano “The World Needs a Hero” (2001), o pedante “The System Has Failed” (2004), que mais se parece com um disco solo de Dave Mustaine. Só que desta vez, ele resolveu remontar o Megadeth e pegou o melhor produtor da época: Andy Sneap (N. do R: O cara fez “estragos” quando produziu o Nevermore e ainda coube a ele a tarefa de consertar os erros do produtor Kelly Gray, que quase colocou o álbum “Enemies of Reality” na escória, mas isso é história para uma outra oportunidade) e o resultado é esse disco maravilhoso, fazendo o fã relembrar a época de ouro da banda. Além de Andy, o próprio Dave Mustaine e Jeff Balding participaram da produção.

Então, diferente do álbum anterior, quando Mustaine gravou como membro único, acompanhado de outros músicos contratados, desta vez ele juntou os irmãos Shawn e Glen Drover, além do baixista James LoMenzo, que recentemente voltou a fazer parte do lineup do Megadeth, e assim todos foram para o “Sarm Hook End Studios“, em Londres e a mixagem e masterização ocorreu no “Backstage Productions“, em Derbyshire, Inglaterra. A bolacha marcou a estreia do Megadeth pela “Roadrunner”, selo por onde a banda lançou três álbuns antes de ir para a Universal, gravadora atual.

O álbum traz letras bastante ácidas contra a ONU, inclusive, seu título é um trocadilho irônico com o nome da instituição. No ano de seu lançamento, houve um bate-boca virtual entre Mark Leon Goldberg, porta-voz da UN Dispatch e Dave Mustaine. Eu por exemplo, não concordo muito com algumas das letras que Musta escreve, e depois que ele se converteu ao cristianismo, ficou ainda mais chato, porém, me atento mais ao som produzido pelo Megadeth e principalmente, pela sua forma de produzir riffs como poucos na cena. Mustaine afirmou que não começou a composição com ideias pré-concebidas e que as letras em um primeiro momento eram “recados” para as ex-gravadoras, Capitol e Sanctuary, de onde a banda saiu sem deixar um clima amistoso.

A regravação de “A Tout le Monde” era em um primeiro momento um bônus para a edição japonesa, porém, o presidente da Roadrunner quis que a faixa fosse o primeiro single do álbum. Dave Mustaine convidou Cristina Scabbia para fazer um dueto com ele e certa vez, a frontwoman falou sobre a experiência

“Eu fiquei muito surpresa com isso porque ‘A Tout le Monde’ é uma música que eu sempre amei. Foi uma grande surpresa para mim receber este convite – fiquei muito honrada em fazer parte dele.”

Colocando a bolacha para rolar, o disco abre com um dedilhado de Mustaine, que logo traz a seguir os seus riffs matadores e a transformam em uma excelente música. Eu lembro que quando eu escutei pela primeira vez, falei: “Uau! Enfim, o meu Megadeth voltou”. E é esse o sentimento que “Sleepwalker” traz ao ouvinte que ficou mal acostumado com álbuns como “Peace Sells…But Who’s Buying?”. “So Far, So Good…So What?“, o mais maravilhoso álbum da história do metal que atende pelo nome de “Rust in Peace“, “Countdown to Extinction” ou “Youthanasia“. E o “United Abominations” tem uma abertura fantástica. E para nossa sorte vai seguir assim do início ao fim.

Washington is Next” mantém o nível do disco no alto, com variações dos duetos de guitarras e os riffs que o ouvinte de primeira saca que pertence ao velho Mustaine. Ele tem uma forma própria de tocar e de fazer o seu timbre parecer ser único. Que excelente canção.

Em “Never Walk Alone…A Call to Arms“, temos um Megadeth mais puxado para o Groove. E a coisa ficou boa, a música é uma delícia de se escutar, com solos bem estruturados e os riffs muito bons. Chega a faixa título e ela é mais densa, pesada, bem trabalhada, com refrão grudento. Não ficando a dever em nada às músicas anteriores. A densidade musical se mantém em “Gears of War“, outra música estupenda de boa. A faixa faz parte da trilha sonora do jogo homônimo, porém, só a parte instrumental, pois quando Mustaine completou as letras, não houve tempo hábil para incluir no jogo.

Em “Blessed Are the Dead” temos uma das melhores composições de toda a carreira do Megadeth. Não é exagero. A música é realmente boa, a composição é bem simples, calcada no Heavy Metal puro e simples, mas muito interessante. Eu facilmente a coloco entre as quinze melhores músicas da carreira da banda. “Pray For Blood” tem de volta os riffs de Mustaine, que junto com os demais integrantes elevam a música ao nível mais alto. E falando em riffs, estes são simplesmente hipnotizantes e lhes desafiam a manter seus pescoços parados, seja na sua sala, no transporte coletivo ou onde quer que você esteja.

A faixa oito traz a clássica “A Tout Le Monde“, que aqui ganha um ‘sobrenome’ “Set me Free“, com uma nova roupagem, deixando de ser (pelo menos do ponto de vista da execução musical) melancólica. E Mustaine acertou em cheio ao trazer a linda e talentosíssima vocalista do Lacuna Coil, Cristina Scabbia, para não somente uma participação especial. Foi um dueto mais que perfeito. Não tenho como escolher um ponto alto de um disco ótimo do início ao fim, mas este momento é histórico com certeza. Duas gerações do Metal em um entrosamento ímpar.

Amerikhastan” é outro metalzão para ninguém colocar defeito, em partes que Mustaine canta, outras ele recita a letra, um solo matador e os riffs, como sempre, sem comentários. Em minha opinião, em matéria de riffs, Mustaine só perde para o rei dos reis, um certo Tony Iommi. Em “You’re Dead” os riffs já são um pouco mais arrastados na primeira estrofe, aumentando um pouco mais na segunda, mas seguem tão bons quanto as anteriores. A coisa fica mesmo boa no solo, quando a bateria resolve acompanhar a velocidade das guitarras. Nessa hora, a roda abre e tudo pode acontecer.

A bolacha fecha em grande estilo com “Burnt Ice“. Uma música grooveada quase que do início ao fim, quando no final, o pau canta, com solos arrebatadores. Enfim, era o grande Megadeth de volta. Se não com a formação clássica, mas com músicos que honrariam a história da banda e ajudariam a banda no seu retorno ao “mainstream”.

São 47 minutos que passam como um foguete e tudo que queremos após a audição é apertar o play novamente. Temos a veia Thrash Metal de volta em muitas músicas, além de peso e virtuosismo do início ao seu fim. O álbum foi muito bem recebido pela crítica e público. A banda logo saiu em turnê, porém, Glen Drover acabou por sair e foi substituído por Chris Broderick, que veio do Nevermore, na época , mais pra lá do que pra cá, e ele ficou no posto até dar a vaga para o “tesouro” Kiko Loureiro, dono da segunda guitarra atualmente.

O álbum teve uma boa performance nos charts mundo afora: 2° na Finlândia, 5° no Canadá, 8° na “Billboard 200” (a posição mais alta que um álbum do Megadeth alcançou desde “Youthanasia“, de 1994), 9° no Japão, 15° na Suécia, 17° na Áustria, 20° na Escócia, 21° na Noruega, 22° na Dinamarca, 23° na Austrália e no Reino Unido, 24° na Itália, 28° na Alemanha, 31° na Irlanda, 38° na Suíça, 40° na França, 41° no México, 49° na Holanda, 62° na Bélgica e 79° na Espanha.

Hoje é dia de celebrarmos os dois álbuns aniversariantes do dia e também devemos comemorar o fato de Dave Mustaine estar completamente recuperado de seu câncer e também de exaltamos o fato de o Megadeth estar na ativa, passando pela pandemia sem maiores sustos, além de ter lançado um dos melhores álbuns de sua história mais recente, que é o “The Sick, The Dying… And the Dead“. Está faltando só Mustaine se redimir do vacilo de ter trocado o Rock in Rio por uma turnê com o Five Finger Death Punch e retornar o Brasil, afinal, já são quase seis anos sem desembarcar por aqui. Vamos pôr essa bolacha pra tocar no volume máximo.

United Abominations – Megadeth

Data de lançamento – 15/05/2007

Gravadora – Roadrunner

 

Faixas:

01 – Sleepwalker

02 – Washington is Next

03 – Never Walk Alone… A Call to Arms

04 – United Abominations

05 – Gears of War

06 – Blessed Are the Dead

07 – Pray For Blood

08 – A Tout Le Monde (Set me Free)

09 – Amerikhastan

10 – You’re Dead

11 – Burnt Ice

 

Formação:

Dave Mustaine – vocal/ guitarra

Glen Drover – guitarra

James LoMenzo – baixo

Shawn Drover – bateria

 

Participação especial:

Cristina Scabbia – vocal em “A Tout le Monde (Set me Free)”