Há 25 anos, em 31 de agosto de 1999, o Megadeth lançava o álbum mais controverso de sua rica discografia: “Risk” é o oitavo na linha do tempo da banda formada por Dave Mustaine após sua sumária expulsão do Metallica e tema do nosso Memory Remains deste sábado, o último do mês.
Esse foi o primeiro álbum a não contar com a formação clássica, que gravou os álbuns definitivos do Megadeth entre o final da década de 1980 e 1990. “Rust in Peace“, “Countdown to Extinction“, “Youthanasia” e “Cryptic Writtings“. Esta formação foi a que mais tempo ficou estável e até hoje está na memória dos fãs da banda. Nick Menza havia sido dispensado por Dave Mustaine e desde 1997, Jimmy DeGrasso era o dono das baquetas.
A saída de Menza foi um tanto quanto traumática: ele havia sido diagnosticado com um tumor benigno no joelho e submetido a uma cirurgia bem-sucedida. No entanto, Dave Mustaine não cancelou a agenda de shows do Megadeth e fez a troca de músicos. E quando Nick ainda se recuperava, no quarto do hospital, recebeu uma ligação do dono da banda, comunicando-o que “seus serviços não eram mais necessários”. Sendo assim, esse é o primeiro dos dois álbuns a contar com Jimmy DeGrasso na bateria.
A sonoridade adotada em “Risk” dá sequência a algumas canções que já foram apresentadas no álbum anterior, “Cryptic Writtings“, como por exemplo a faixa “Almost Honest“, que já trazia elementos modernos. Dave Mustaine contou que o título veio depois que Lars Ulrich sugeriu que ele assumisse mais riscos ao gravar um novo álbum do Megadeth (o que dá para imaginar, uma vez que o Metallica passou a inovar em seu som a partir de “Load“, em um caminho praticamente sem volta). Além disso, Marty Friedman queria explorar novas sonoridades, principalmente ao flerte com a música Pop. Jimmy DeGrasso era a voz contrária, pois queria fazer um álbum pesado. Entretanto, estava chegando e era voto vencido.
Mustaine escolheu repetir o mesmo produtor do álbum anterior e Dann Huff foi mais uma vez chamado para coordenar o processo de gravação. A banda levou cerca de cinco semanas, no final de 1998, para escrever e ensaiar as novas canções. E em janeiro, todos zarparam para Nashville, onde se instalaram no The Track Room, por onde ficaram até o mês de abril de 1999. O líder do Megadeth também atuou como co-produtor.
Este foi o segundo álbum seguido do Megadeth a não contar com a mascote Vic Rattlehead. Pegou mal a ausência seguida de Vic e parece que Mustaine percebeu a mancada e em “The World Needs a Hero“, ele se redimiu e trouxe de volta a mascote. Em 2004, o álbum foi lançado com remasterização e o rosto de Vic aparece na ratoeira presente na capa.
Bolacha rolando e a decepção foi quase que completa. Os fãs reclamaram muito do distanciamento do Thrash Metal. Não era nem sombra da banda que nove anos antes abalou a cena com o clássico “Rust in Peace“. Mas “Risk” não é uma porcaria absoluta, há bons momentos entre as 11 canções e seus 51 minutos de duração. “Insomnia“, que traz inspiração na música persa, “Prince of Darkness“, onde o Megadeth mais chega perto do Thrash, a própria “Crush ‘Em“, que gerou fúria nos fãs, “Breadline“, “Wanderlust” e “Time: the End“, são bons exemplos e só aí já é metade do álbum. Mas não caiu nas graças dos fãs.
A faixa “Crush ‘Em” fez parte da trilha sonora do filme “Soldado Universal“, estrelado por ninguém menos que Jean-Claude Van Damme e fez com que o ator se tornasse amigo de Dave Mustaine. A música também foi executada durante uma partida da NHL e também em eventos de luta livre nos Estados Unidos. E deu certo, a música atingiu o Top 10 dos singles na “Billboard”. “Breadline“, a qual podemos chamar de a faixa da discórdia, também chegou no Top 10.
Ainda sobre “Breadline“, a música foi uma das razões que fizeram com que Marty Friedman saísse do Megadeth. Tudo porque, segundo o próprio guitarrista afirmou em entrevistas, o solo que ele gravou originalmente na música foi alterado por Dave Mustaine, que por sua vez, colocou a culpa no produtor, afirmando que foi Dann Huff quem não teria gostado e sugerido a alteração. Sendo assim, esse foi o último álbum a contar com Marty Friedman na guitarra. Ele ainda ficou na banda até o mês de março de 2000, quando foi substituído por Al Pitarelli.
A recepção foi de média para baixa. Os veículos de imprensa especializada foram impiedosos com o álbum, tendo a NME dado nota zero ao álbum. Mas talvez a melhor definição tenha sido dada por Jeff Treppel, da Decibel, que disse que “Risk” é um bom disco de Hard Rock, mas que não deveria ter sido lançado sob o nome Megadeth. Dave Mustaine concorda com tal afirmação e completou dizendo que o álbum teria vendido mais se fosse lançado por outra banda. Qualquer semelhança com “Load” é mera coincidência.
Durante entrevista para Eddie Trank, no ano de 2012, Mustaine afirmou que “Risk” era nada mais do que um desejo de Marty Friedman de desacelerar a sonoridade. Ele disse ainda que o desejo de Marty era de ver a banda “soando como o maldito Dishwalla”. Na mesma entrevista, ele disse que não se arrepende de ter feito “Risk“, ainda que admita que não era o que os fãs gostariam de ter como um álbum do Megadeth, e que à época gostaria de continuar a trabalhar com Marty Friedman e Nick Menza. Ele afirmou ainda que considera “Wanderlust” uma das melhores composições que já criou.
Marty Friedman, por sua vez, afirmou que também não se arrepende de ter feito “Risk” e que tudo que poderia ter dito sobre o álbum, provavelmente foi dito naquela época. Disse ainda que todos deram o máximo de si para entregar um bom álbum e que tudo foi feito com a melhor das intenções. As rusgas entre os dois gênios da guitarra foram encerradas no ano passado, quando Marty Friedman tocou com a banda na arena Budokan, no Japão. Na ocasião, ele tocou “Countdown To Extinction“, “Symphony Of Destruction” e “Tornado Of Souls“, na companhia de Mustaine e também de Kiko Loureiro, que ainda estava na banda.
Mesmo não sendo um sucesso de vendas, “Risk” figurou em algumas paradas de sucesso mundo afora: 8° lugar na Finlândia, 11° no Japão, 14° no Canadá, 16° na “Billboard 200”, 17° na Suécia, 27° na Nova Zelândia, 29° no Reino Unido, 31° na Noruega, 33° na Itália, 34° na Noruega e Escócia, 37° na França, 38° na Alemanha e 39° nos Países Baixos. Foi certificado com Disco de Prata em Portugal.
A banda lançou três canções como singles e todas elas receberam também videoclipes. “Crush ‘Em“, “Breadline” e “Insomnia“. A turnê não foi muito extensa e logo após a saída de Friedman, a banda estaria entrando em estúdio para gravar o sucessor, “The World Needs a Hero”, que trouxe o Megadeth de volta ao caminho do Heavy Metal. Mustaine só voltaria a fazer as pazes com o Thrash Metal lá em 2007, com “United Abominations“.
Apesar de controverso, é um álbum que pertence a história do Megadeth. Até que envelhece bem, se lembrarmos o quanto a banda foi execrada na época de seu lançamento. E ainda que Mustaine não faça questão de incluir nenhuma de suas faixas nas apresentações ao vivo da banda (e o público parece também não fazer muita questão disso), vale o registro por ter alcançado ¼ de século.
Risk – Megadeth
Data de lançamento – 31/08/1999
Gravadora – Capitol
Faixas:
01 – Insomnia
02 – Prince of Darkness
03 – Enter the Arena
04 – Crush ‘Em
05 – Breadline
06 – The Doctor Is Calling
07 – I’ll Be There
08 – Wanderlust
09 – Ecstasy
10 – Seven
11 – Time: The Beginning
12 – Time: The End
Formação:
Dave Mustaine – vocal/ guitarra
David Ellefson – baixo
Marty Friedman – guitarra
Jimmy DeGrasso – bateria