Na década de 1990, o Heavy Metal andava bem em baixa. O álbum preto do Metallica foi o grande lançamento, antes de Sepultura e Pantera tomarem conta da cena. Mas isso não significa que não tivemos bons álbuns lançados neste período. O Memory Remains deste sábado vai tratar de um dos álbuns deste período: “Cryptic Writings“, do Megadeth foi lançado em 17 de junho de 1997, há 26 anos.
Esse disco era o ápice da fase em que a banda se distanciava do Thrash Metal que consagrou o Megadeth. Era também o último disco gravado com a formação clássica. Nick Menza saiu em definitivo depois do lançamento e a frustração fora ainda maior quando de sua morte, havia a possibilidade do seu retorno para o lineup.
A banda vinha do aclamado “Youthanasia” e antes a banda lançou o EP “Hidden Treasures”, para tentar fazer com que a ansiedade dos fãs fosse diminuída. Todos foram para o estúdio “The Track Room“, em Nashville, tendo Dann Huff e Dave Mustaine na produção. Também foram utilizados o “The Castle”, na cidade de Franklin para gravações adicionais e o “Gateway Mastering Studios”, em Portland, onde a bolacha foi masterizada. Foi um dos últimos discos a ser lançado pela “Capitol”, gravadora com quem o Megadeth sairia poucos anos depois, em litígio, com direito a um álbum coletânea chamado, em português, de “Punição da Capitol”. As sessões perfuraram durante o mês de setembro de 1996.
Segundo Marty Friedman, o processo de criação do álbum durou cerca de um ano. Eles começaram a compôr quando ainda estavam na estrada. Max Norman foi descartado para trabalhar em um novo álbum do Megadeth e Dave Mustaine explicou abaixo as suas razões para dispensar o renomado produtor e optar por Dann Huff.
“Max veio com essa fórmula idiota de que cada música tinha que ter 120 batidas por minuto para entrar no rádio. Quando as pessoas tomam decisões drásticas para fazer coisas assim e o tiro sai pela culatra, geralmente acaba, de uma forma ou de outra, custando-lhes seus empregos.”
O álbum segue produzindo hits para a banda, marcando uma continuidade do que já se passava desde “Countdown to Extinction”. Aqui, temos músicas como “Trust”, “She-wolf”, “A Secret Place” e “Use the Man”, por exemplo, que são tocadas até hoje nos shows da banda. E à época, Dave Mustaine deu uma explicação sobre esse sucesso que a banda fez, mesmo abrindo mão do Thrash Metal na década de 1990. Aspas para o chefão da banda:
“Acho que muito do nosso sucesso agora tem a ver com o fato de estarmos dispostos a estudar o mercado e nos educar. A maioria dos músicos não tem a oportunidade de entrar no mercado mercado com estratégia educada. Felizmente, para nós, nossa administração nos ensinou como estudar o que é atual sem perder nossa integridade e nos manter atualizados enquanto permanecemos na vanguarda do que é importante agora.”
Temos o início com a comercial “Trust“. Mesmo comercial, ela é poderosa, técnica, pesada e um clima como poucas músicas o Megadeth compôs em toda a sua carreira. Tem fãs que torcem o nariz para este som. Puro radicalismo desta galera, pois essa música além de técnica , tem uma energia fenomenal. “Almost Honest” tem um clima modernoso, onde o baixo de Dave Ellefson brilha. As guitarras são meio estranhas, mas não comprometem a música.
“Use The Man” é uma música mais lenta, embora no final ela fique mais rápida. Fala sobre o vício em heroína e na sua intro traz um trecho da música “Needles & Pins“, na versão da banda The Searches. É uma das minhas favoritas deste disco. Já “Mastermind” traz de volta o clima modernoso ao disco. Com riffs interessantes e uma pegada mais arrastada na primeira parte, crescendo na parte do solo. Muito boa.
Em “The Desintegrators“, temos de volta um esboço do Thrash Metal. Uma música bem a cara do Megadeth, rápida, agressiva e ríspida. Os riffs com o selo de qualidade de Dave Mustaine, aliados ao baixo pesadão de Ellefson. Música maravilhosa. “I‘ll Get Even” é uma balada que acalma os ânimos depois da música destruidora que a antecedeu. E ela é agradabilíssima de se escutar, enquanto que “Sin” é vistosa, pesada, moderna, linda. Aqui eu destaco a bateria precisa do nosso saudoso Nick Menza.
“A Secret Place” é melódica e ao mesmo tempo pesada e densa, fazendo dela uma combinação perfeita, enquanto que “Have Cool Will Travel” é uma música mais calminha, sobretudo em seu refrão. A diferença entre essas duas músicas fazem uma conexão perfeita no disco. Ai temos o riff cavalgado de “She-Wolf“, um dos melhores já compostos por Dave Mustaine. Essa música é outra que se destaca neste play e as influências de Iron Maiden se mostram latentes no dueto de guitarras ao final da música. Perfeita.
“Vortex” traz novamente a trilha moderna em que o Megadeth estava se enveredando neste disco. Com uma pegada Prog incrível, ela é também pesada e densa, linda e poderosa. “FFF“, as iniciais para “Fight For Freedom” fecha o disco com chave de ouro, em que seu instrumental é, digamos, uma releitura de “Motorbreath“, lançada pelo Metallica em seu debut, “Kill’em All“, com algumas diferenças, o solo muitíssimo bem executado por Marty Friedman, o baixo de Dave Ellefson com muito peso. Ela é bem curta e grossa, então, no meu caso, eu não vejo problemas em repetí-la à exaustão.
E chegamos ao final de um disco curto, porém, interessante, em que pese o fato de ter o Megadeth pelo terceiro álbum consecutivo se distanciando do que fora produzido no seu supra-sumo, o inquestionável “Rust in Peace“. Um álbum que eu tenho o maior carinho, por ter sido o segundo disco dos caras que conheci e foi aí que eu passei a gostar da banda e a procurar pelo material mais antigo.
“Cryptic Writings” saiu em três edições: esta que o redator tem em suas mãos, que é a mais conhecida, com as doze faixas e a capa cinza; e edição japonesa, com uma faixa bônus, “One Thing” e a versão remixada, lançada mais tarde, com uma capa preta, que inclui versões alternativas para as músicas originais, como por exemplo, a versão em espanhol para “Trust”, além de uma faixa chamada “Bullprick“, que é uma versão para a faixa “FFF“, uma versão Alternativa para a música “Vortex“, uma música inédita, “Evil That Within” e outras músicas gravadas ao vivo.
A banda saiu em turnê para divulgação do álbum, com direito a uma apresentação acústica em Buenos Aires. Nick Menza foi demitido durante a turnê, sendo substituído por Jimmy DeGrasso. Foi com este baterista que a banda desembarcou no Brasil em 1998, quando se apresentou na última edição do Monsters of Rock daquela década. A banda tocou junto a nomes como Korzus, Dorsal Atlântica, Glenn Hughes, Savatage, Slayer, Dream Theater e Manowar.
Nos charts mundo afora, nosso aniversariante do dia ficou em 2° na Finlândia, 7° no Japão, 10° na “Billboard 200” (EUA), 14° na França, 15° na Suécia, 16° na Itália, 17° no Canadá, 22° na Alemanha, 30° na Áustria, 32° na Noruega, 34° na Nova Zelândia, 38° no Reino Unido, 43° na Austrália, 44° na Bélgica, 45° na Escócia e Suíça; por fim, ficou em 48° nos Países Baixos. O single “Trust“, obteve a melhor posição na “Billboard”, ficando em 5°. Foi certificado com Disco de Ouro na Argentina, Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos.
Apesar de meio desprezado por pequena parcela dos fãs, trata-se de um álbum de Heavy Metal bem acima da média e que envelhece bem, recebendo as nossas justas homenagens. O Megadeth segue bem, obrigado e hoje com uma formação que se não é tão clássica como essa que é cultuada por todos nós, é tão talentosa quanto. Desejamos uma longa vida ao Megadeth e torcendo para um retorno de Dave Mustaine e Cia. ao nosso país. Precisamos ouvir as músicas não só do homenageado do dia, mas também do mais recente play da banda, o petardo que é “The Sick, The Dying… And the Dead!“.
Cryptic Writings – Megadeth
Data de lançamento – 17/06/1997
Gravadora – Capitol
Faixas:
01 – Trust
02 – Almost Honest
03 – Use The Man
04 – Mastermind
05 – The Desintegrators
06 – I’ll Get Even
07 – Sin
08 – A Secret Place
09 – Have Cool Will Travel
10 – She-Wolf
11 – Vortex
12 – FFF
Formação:
Dave Mustaine – Vocal/Guitarra
Dave Ellefson – Baixo
Marty Friedman – Guitarra
Nick Menza – Bateria