Memory Remains

Memory Remains: Megadeth – 35 anos de “So Far, So Good… So What!” e a homenagem de Mustaine para Cliff Burton

Memory Remains: Megadeth – 35 anos de “So Far, So Good… So What!” e a homenagem de Mustaine para Cliff Burton

19 de janeiro de 2023


Pouco mais de três meses do lançamento do estrondoso “The Sick, The Dying… And the Dead!“, O Megadeth comemora os 35 anos de um de seus álbuns mais clássicos: “So Far, So Good… So What!”, que é tema do nosso Memory Remains desta quinta-feira, dia de TBT. Vamos contar algumas histórias deste álbum.

Embora “So Far, So Good… So What!” seja um álbum indispensável na discografia da banda e recheado de clássicos, internamente, as coisas não andavam bem. Após a excelente repercussão do álbum anterior, “Peace Sells… But Who’s Buying?“, Dave Mustaine recrutou o guitarrista Jeff Young e o baterista Chuck Behler e este é o único registro de ambos os músicos em um álbum do Megadeth.

As músicas do nosso homenageado de hoje já eram conhecidas do público que acompanhava as apresentações do Megadeth em 1987, isso porque a banda já as tocava nas apresentações que eles fizeram com bandas como o Kreator e o Overkill, pela Europa.

Mustaine queria gravar o cover de “Problems” do Sex Pistols, mas não fora possível. A versão acabaria saindo no EP “Hidden Treasures“, de 1995. A banda se reuniu no estúdio “Music Grinder“, em Los Angeles, com Dave Mustaine na produção em parceria com Paul Lani e o resultado foi essa belezura que está sendo homenageada hoje e que iremos destrinchar cada uma das oito faixas contidas aqui.

Into the Lungs of Hell” é instrumental e já mostra a banda entrando de sola. Os caras não estavam para brincadeira e já queriam soar mais pesados do que no álbum anterior. Perfeita. “Set the World Afire” chega com riffs cortantes em sua intro, dando a impressão de que será uma música veloz e ríspida, mas curiosamente ela se desenvolve em um ritmo mais cadenciado, lembrando em muito algumas músicas de “Peace Sells”. Excelente. A curiosidade é que essa é uma das primeiras canções que Mustaine compôs após sua expulsão do Metallica. No primeiro momento, ela se chamava “Megadeth“, depois foi trocada para “Burnt Offerings” e finalmente ganhou o nome final. Mustaine tocou essa música no primeiro show da banda e optou por não incluí-la nos dois primeiros álbuns.

A sequência se dá com uma versão escrachada para “Anarchy in UK”, do Sex Pistols. Evidentemente que a versão ganhou mais qualidade, haja vista que os caras do Megadeth sabem tocar, enquanto que os punks ingleses mal sabiam segurar seus respectivos instrumentos. “Mary Jane” tem um clima prog em boa parte de sua extensão, com excelentes riffs e solos. Aqui eu destaco também o baixo de Dave Ellefson, dando bastante peso à música. A letra não fala sobre maconha, como muitos suspeitaram durante anos. É sobre uma lenda de uma pequena cidade americana da qual Dave Mustaine teve conhecimento quando esteve na cidade. Trata-se da história de uma família camponesa que na época da Inquisição americana, tinha uma filha que diziam falar com animais. Para evitar a vergonha da família, tendo uma filha julgada como bruxa, e para que ninguém descobrisse, a prendesse e a torturasse, o seu pai a enterrou viva no terreno da casa deles. O nome dessa menina era Mary Jane.

502” tem riffs hipnóticos e é cheia de mudanças em sua duração. O título remete a um código policial na cidade de Los Angeles, que pega quem dirige bêbado ou acima da velocidade. Isto realmente aconteceu com Dave Mustaine em uma oportunidade.

Aí chega um dos maiores clássicos da banda e obrigatória ao vivo: “In My Darkest Hour”, música que Dave compôs assim que soube do trágico acidente que custou a vida de Cliff Burton. Entretanto, a letra não tem nenhuma correspondência com o saudoso baixista e fala sobre os problemas de relacionamentos de Dave Mustaine com Diana, sua ex-namorada. A moça já havia sido citada na faixa “Wake up Dead“, do álbum anterior.  Essa música é simplesmente sensacional, sendo bem cadenciada em quase que sua totalidade, mas ao final ela fica veloz e ganha muito mais técnica. A melhor do disco, com certeza.

Liar” é uma música com uma pegada surreal e Dave Ellefson novamente dá as caras deixando a música absurdamente pesada com seu baixo. A letra é uma dedicatória, podemos assim dizer, de Dave Mustaine para Gar Samuelson e Chris Poland, dois ex-membros que foram demitidos do Megadeth por venderem os instrumentos da banda para comprar drogas. O final de dá com “Hook in Mouth”, outro clássico, onde a cozinha trabalha muitíssimo bem, sobretudo na primeira estrofe. Da segunda estrofe em diante, as guitarras entram em ação para deixar a música ainda melhor. A letra fala sobre a PMRC, aquela entidade que julga as letras que consideram ofensivas e aplica aquele selo “parental advisory – explicit lyrics”, que ao invés de inibir, faz com que as pessoas tenham mais interesse em adquirir a obra com o referido selo. Bela música, belo disco, cujo único defeito é ser curto demais.

So Far, So good… So What!” chegou ao 5° lugar nas paradas da Finlândia, 18º lugar no Reino Unido, 27° na Alemanha, 28º na “Billboard 200” e na Suíça, 37° na Suécia, 40° no Canadá, 41° na Nova Zelândia, 51° na Holanda, 57° no Japão. Foi certificado com Disco de Prata no Reino Unido e Disco de Platina nos Estados Unidos e Canadá. A receptividade foi ótima, tanto por parte da crítica especializada quanto do público. Era o auge do Thrash Metal dos anos 1980 e o Megadeth era somente uma das bandas a lançar um disco bem acima da média neste período.

É importantíssimo na discografia da banda, porém, foi durante a tour para este álbum que Dave Mustaine acabou preso por porte de drogas e internado em uma clínica de reabilitação. Por conta disso, a banda acabou se separando, o que custou a apresentação no Monsters of Rock na Inglaterra. Na ocasião, a banda foi substituída pelo Testament. O Megadeth voltaria logo depois com aquela que todos consideram ser a formação clássica. Mas isso é uma outra história, que nós iremos contar aqui no nosso quadro.

Hoje é dia de celebrar este disco maravilhoso, tocando-o no volume máximo. Mustaine pode até estar no vacilo com os fãs brasileiros por ter trocado o Rock in Rio para fazer turnê como banda de abertura do Five Finger Death Punch, mas ele tem um talento ímpar. “So Far, So Good… So What!” é só um dos vários tesouros que esse guitarrista talentoso gravou com sua banda. Certamente demitir Mustaine do Metallica foi a melhor coisa que James Hetfield e Lars Ulrich fizeram, pois ele renasceu e criou uma banda poderosa, que é o Megadeth.

So Far, So Good… So What! – Megadeth

Data de lançamento: 19/01/1988

Gravadora: Capitol Records

 

Faixas:

01 – Into the Lungs of Hell

02 – Set the World Afire

03 – Anarchy in UK

04 – Maryjane

05 – 502

06 – In My Darkest Hour

07 – Liar

08 – Hook in Mouth

 

Formação:

Dave Mustaine – vocal/ guitarra

Dave Ellefson – baixo

Jeff Young – guitarra

Chuck Behler –bateria