O Metallica está na hype essa semana por ter sido descoberto pela Geração Z, depois de ter a música “Master of Puppets” na série “Stranger Things” e foi “cancelada” por essa mesma geração após “descobrir” o passado da banda. Mas o que eles mal sabem, é que o quarteto de San Francisco já havia sido “cancelado” há exatos 31 anos, quando eles lançaram o famoso álbum preto, que definitivamente os lançou ao estrelato, fazendo com que eles se tornassem a banda mais bem sucedida financeiramente do Heavy Metal. O “Black Album” é tema do nosso Memory Remains desta sexta-feira.
O motivo para este “cancelamento” tem a ver com o grande marco do aniversariante do dia: o Thrash Metal executado pela banda nos quatro primeiros álbuns é sumariamente deixado de lado, e eles demorariam para voltar a praticá-lo, mas nem de longe nada que se assemelhasse aos grandes clássicos dos anos 1980. Aqui o som continua a soar pesado, mas pela primeira vez, a produção era caprichadíssima. A intenção era agradar aos fãs antigos e angariar novos fãs. A segunda tentativa foi bem mais sucedida, tendo em vista que a banda alcançou as rádios e a MTV, tendo mais visibilidade E os créditos são para Bob Rock, goste você ou não deste play, é inegável o up que a banda deu em termos de produção aqui neste play.
O curioso é que Bob Rock não era cotado para produzir o play; em princípio ele seria apenas o responsável pela mixagem. Mas James e Lars ficaram impressionados com seu trabalho na produção do álbum “Dr. Feelgood”, do Mötley Crue. Aspas para Lars:
“Sentimos que temos a melhor gravação dentro de nós e Bob pode nos ajudar a torná-la real.”
O “Black Album” marca também por ser o primeiro sem ter uma faixa instrumental, coisa que eles sempre fizeram em seus discos anteriores; outro fator é por conter letras mais pessoais, como por exemplo, “The God That Failed”, que fala da morte da mãe do vocalista em decorrência de câncer e da sua recusa ao tratamento médico, preferindo esperar pela ajuda divina. E qualquer semelhança com um certo país da América do Sul que durante a pandemia do novo Coronavírus prefere refutar a ciência, amparados pelo slogam piegas de “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos,” preferindo esperar pela ajuda divina, não é mera coincidência. “Nothing Else Matters” trata da relação do frontman com uma namorada, enquanto este estava em turnê com a banda.
Outro marco (ou seria a banda se retratando?) é o devido espaço dadoo ao baixista Jason Newsted, pois o que foi feito com o rapaz no álbum anterior foi de um mau caratismo, para ser bem generoso, já que o que ele gravou foi sumariamente ignorado, e a sensação que temos é de que “… And Justice For All” só tem guitarra, bateria e o vocal. E Jason pôde enfim, mostrar que é um excelente músico. Infelizmente pouco valorizado durante sua passagem pela banda, o que reflete bem o caráter da dupla que manda por lá.
Sobre a capa, completamente negra, apenas com um desenho de uma cobra enroscada, não há uma razão especial. A banda apenas quis que o ouvinte prestasse mais atenção no som do que nas gravuras. Para a gravação, o estúdio seriam o mesmo utilizado no disco anterior: o “One on One Recording Studios”, onde a banda permaneceu entre os meses de outubro de 1990 e junho de 1991, Vamos então sem mais delongas discorrer sobre o play.
“Enter Sandman” já nasceu clássica. Sua introdução que serve para qualquer iniciante na guitarra (N. do R: este que vos escreve está muita coisa inserida nesta parte) e que cresce na medida em que se desenvolve. Um refrão grudento faz dela uma das maiores músicas do Heavy Metal. “Sad But True” e sua afinação bem baixa, com os riffs sombrios de sua introdução, fazem dela a música mais pesada da carreira do Metallica. E os riffs vão se repetindo nas estrofes provocando uma hipnose no ouvinte. Baita música.
“Holier Than You” é uma mescla do Thrash Metal outrora praticado pela banda com toques mais modernos, sem perder o peso, talvez o último suspiro de Thrash Metal da banda. Já “The Unforgiven” é uma balada densa e ao mesmo tempo pesada. Kirk Hammet, por quem eu tenho muitas ressalvas quanto a sua performance (o “cara” das guitarras é mesmo James Hetfield), fez o melhor solo de sua vida. Talvez o único. Essa foi a primeira música da banda que eu escutei, na época minhas fontes de música eram as “rádios rock”, e elas não tocariam “Master of Puppets” nem sob tortura.
“Whereaver I May Roam” tem uma introdução influenciada em música árabe, mas logo entra o peso e a música transcorre de forma cadenciada. O disco está bom demais. Outra das minhas favoritas é “Don’t Tread on me”, ainda que James a cante de maneira estranha, meio corrida, em contraste com a música que segue arrastada e pesada demais.
“Through the Never” é um baita Metalzão com as guitarras bastante técnicas nas estrofes e um refrão bem épico. “Nothing Else Matters” é uma segunda balada em um álbum do Metallica e o fã true vai bater pezinho, afinal de contas, a banda só pode compôr músicas movidas a palhetadas, segundo estes. Aqui a gente percebe a versatilidade da banda, que alcançaria a sua maturidade musical. Belas harmonias da dupla de guitarristas, James e Kirk, com um belo solo protagonizado pelo frontman.
O quadrado final do álbum conta com quatro músicas bem diferentes entre si: a divertida “Of Wolf and Man”, que tem bons riffs e um refrão grudento; “The God that Failed”, que transmite um clima bastante dramático, ao mesmo tempo que ela soa pesada e densa. Se trouxemos para o contexto atual do Brasil, onde pessoas em nome de Deus destilam seu ódio e todo tipo de preconceito contra as minorias
Se em “… And Justice for All”, a banda simplesmente agiu sem o menor respeito pelo recém-chegado Jason Newsted, aqui em “My Friend of Misery” ele é o protagonista, com seu solo na introdução e ajudando a imprimir mais peso enquanto a música se desenrola. É um sonzaço. E o final com se dá com a empolgante “The Struggle Within”, trazendo Lars Ulrich fazendo sua caixa rufar. Seria a última música genuinamente Heavy Metal que a banda escreveria, até “Death Magnetic“, 17 anos depois.
Após 62 minutos, temos um belo disco, mostrando que a banda era capaz de fazer tanto um som mais rápido, agressivo e técnico como os anteriores, quanto mais simples como o que encontramos aqui. É de longe o álbum mais bem produzido da carreira da banda, pode até não ser o melhor e quanto a isso há uma discussão infinita: alguns acham que é “Master of Puppets”, outros como este que vos escreve preferem “Ride the Lightning” e outros preferem o “Kill’ em All”.
“Metallica”, além de ter colocado a banda no mainstream, obteve diversos resultados: a começar pelo 1º lugar nos mais diversos charts: Austrália, Canadá, Alemanha, nova Zelândia, Noruega, Suíça, Reino Unido e na “Billboard 200”; é o disco de Heavy Metal mais vendido da história, com mais de 25 milhões de cópias e o 27º disco mais vendido da história, contabilizando todos os estilos musicais; foi certificado com disco de Platina por 16 vezes como disco nos EUA, 12 na Austrália, 10 na Nova Zelândia, 5 na Argentina, diamante no Canadá e outras premiações em outros países.
O aniversariante de hoje está em 14º lugar na lista dos 200 álbuns de definitivos elaborada pela Rock and Roll of Fame; em 2003, ficou em 252º lugar na lista dos “500 Melhores Álbuns de Sempre” da revista Rolling Stone e foi eleito o 25º melhor álbum de Metal pela mesma revista; em 1992, ganhou o Grammy Awards pela Melhor Performance de Heavy Metal.
Enfim, por mais que alguns fãs torçam o nariz, o disco não pode de maneira nenhuma ser subestimado. É um bom disco sim e que merece todas as suas conquistas. E ainda que o Metallica esteja longe do que um dia foi, o importante é que temos a banda ainda na ativa, inclusive tendo acabado de passar pelo Brasil recentemente, fazendo bons shows, com direito até a um parto durante o show de Curitiba. Um bebê teve a honra de nascer enquanto eles tocavam “Enter Sandman“, isso é uma honra. Com polêmicas ou sem elas, hoje é dia de botar esse discão para tocar no volume máximo e de desejar uma longa vida para este quarteto que tantas alegrias nos deu.
Metallica – Metallica
Data de lançamento – 12/08/1991
Gravadora – Vertigo
Faixas:
01 – Enter Sandman
02 – Sad But True
03 – Holier Than You
04 – The Unforgiven
05 – Whereaver I May Roam
06 – Don’t Tread on me
07 – Through the Never
08 – Nothing Else Matters
09 – Of Wolf and Man
10 – The God That Failed
11 – My Friend of Misery
12 – The Struggle Within
Formação:
James Hetfield – Vocal/ Guitarra
Lars Ulrich – Bateria
Kirk Hammet – Guitarra
Jason Newsted – Baixo