Memory Remains

Memory Remains: Metallica celebra os 40 anos de “Ride The Lightning”

27 de julho de 2024


O ano de 1984 é marcado por alguns fatos que entraram para a história: quem nunca viu a maratonista suíça Gabrielle Andersen chegando na linha de chegada da Maratona durante os Jogos Olímpicos de Los Angeles, completamente desidratada e desorientada? Na mesma Olimpíada, tivemos a inédita medalha de ouro para o brasileiro Joaquim Cruz, nos 800 metros. No Brasil, o movimento das “Diretas Já” ganhava força e se hoje nós temos a oportunidade de escolher nossos governantes, podemos agradecer diretamente a esse movimento. Na música, tínhamos o Megadeth, fundado pelo ex-guitarrista do Metallica, Dave Mustaine, lançando seu disco de estreia, enquanto que o Metallica lançava o segundo álbum, “Ride the Lightning“, exatamente no 27 de julho daquele ano, o mais novo quarentão e tema do nosso Memory Remains deste sábado. Vamos nessa.

Apesar de ter bem presente a veia Thrash Metal do primeiro álbum, que deixou o mundo inteiro apavorado (no bom sentido, claro) com aquela nova sonoridade, o aniversariante do dia já ganhou um pouco mais de amadurecimento, e também é um disco bem mais técnico. È um disco importante em qualquer coleção de um headbanger que se preze.

O título é uma gíria usada entre os presidiários para designar a condenação à cadeira elétrica, que ilustra a capa do play. Algumas das músicas presentes aqui já eram tocadas na turnê anterior e a banda passou por alguns percalços durante esta tour, como no episódio em que teve seu equipamento roubado e contou com a ajuda dos membros do Anthrax, que emprestaram os instrumentos para que o Metallica pudesse concluir a agenda de shows.

Outro fator curioso é que, à época, James Hetfield estava desconfortável com a dupla função na banda, de cantar e tocar guitarra base e cogitou ficar apenas na guitarra. A banda ofereceu o posto de vocalista para o então jovem John Bush, mas este recusou, pois na época estava com o Armored Saint, que estava bem, inclusive, era apontada por muitos como a banda que iria dar mais certo, dentre todas aquelas da Bay Area. O futuro mostrou que não era bem assim. James foi ganhando confiança e permanece como vocalista e guitarrista do Metallica até os dias atuais.

Então todos partiram para a Dinamarca, a terra natal do baterista Lars Ulrich, onde ficaram no “Sweet Silence Studios”, entre fevereiro e março daquele ano de 1984. E eles tiveram que correr com o processo de gravação, pois haviam shows agendados pela Europa em breve. A produção foi de Flaming Rasmussen, que viria a produzir outros álbuns da banda futuramente. A escolha de Lars por este produtor foi porque ele havia gostado do trabalho de Rasmussen no álbum “Difficult to Cure”, do Rainbow, lançado em 1981.

Logo depois do lançamento do álbum, executivos da Elektra assistiram a uma apresentação da banda e ofereceram um contrato. Como eles estavam insatisfeitos com o apoio limitado que a Megaforce Records de Jon Zazula estava dando, eles aceitaram o contrato e em 19 do novembro daquele mesmo ano, o álbum seria relançado pela nova gravadora.

Nosso quarentão ainda apresenta músicas que têm a participação de Dave Mustaine como um dos compositores. A faixa-título e a derradeira, “The Call of Ktulu” são elas. Em contrapartida, já apresenta também a participação de Kirk Hammet, que em “Kill’ Em All” havia somente gravado as canções. Sendo a partir daqui, um dos compositores. Três das canções foram escritas somente quando a banda já estava em solo dinamarquês: são os casos de “For Whom the Bell Tolls“, “Escape” e “Trapped Under Ice“.

Os tempos eram outros e o Metallica zarpou para a Escandinávia com pouca grana e não puderam reservar quartos de hotel por lá. Então eles dormiram no estúdio durante o dia e gravavam à noite. Durante esse processo, a banda quase fechou com a Bronze Records. O acordo só não foi adiante porque o selo queria que o álbum fosse gravado nos Estados Unidos e eles também sugeriram o renomado Eddie Kramer como produtor. A banda não aceitou e como os executivos não gostaram do que ouviram durante das gravações, o acordo não foi selado.

Bolacha rolando, temos oito canções, uma melhor do que a outra, e nitidamente, haviam muitas influências progressivas no som do Metallica, que era rápido, mas não tanto como no álbum de estreia. Houve muita reclamação, inclusive quando eles “ousaram” em incluir uma balada, “Fade to Black“, que hoje é amada por muitos seguidores da banda. Há uma preocupação com o capricho nos arranjos, muito por conta do conhecimento em teoria musical que Cliff Burton trazia consigo. As letras também são mais reflexivas, do ponto de vista social e mostram um amadurecimento.

Grandes clássicos foram forjados neste álbum, como “For Whom the Bell Tolls“, a já citada “Fade to Black“, a própria faixa-título, “Creeping Death“, música que muitas vezes é a que abre as apresentações da banda hoje em dia, “The Call of Ktulu“, enfim, é um álbum que dá para se escutar umas três vezes seguidas sem que tal atividade se torne repetitiva.

A recepção ao álbum foi a melhor possível, tanto por parte dos fãs, quanto da crítica especializada, que destacou o amadurecimento das composições e também as ideias passadas nas letras, apontado por todos os veículos como um passo a frente dado pela banda. A Megaforce fez uma tiragem inicial de 75 mil cópias do álbum para comercialização nos Estados Unidos. Na Europa, a distribuição foi feita pela Music for Nations e ao final do ano de 1984, mais de 85 mil cópias haviam sido comercializadas e gerou uma matéria de capa para o Metallica na Kerrang!, a primeira da história da banda.

O aniversariante do dia teve um bom desempenho nas paradas de sucesso pelo mundo: 4° na Polônia, 9° na Finlândia, 20° nos Países Baixos, 21° na Alemanha, 31° na Suécia, 32° na Nova Zelândia, 35° em Portugal e na Suíça, 36° na Espanha, 38° na Austrália, 39° na Hungria, 40° na Noruega, 48° na “Billboard 200”, 49° na Áustria, 55° na Irlanda, 66° na Itália, 87° no Reino Unido, 116° na Bélgica e 126° na França. Foi certificado com Disco de Ouro na Itália, Platina no Canadá, Alemanha, Polônia e Reino Unido, Duplo Platina na Dinamarca, Triplo Platina na Austrália e Sêxtuplo Platina nos Estados Unidos.

Álbum lançado, era hora de partir para a turnê e eles levaram 4 meses para dar o start, que aconteceu em 16 de novembro, pela França, tendo a banda Tank fazendo os shows de abertura. A tour passou ainda por países como Bélgica, Itália, Alemanha e países nórdicos. Após uma pausa para as festividades de final de ano, eles pegaram a estrada novamente, desta vez para 50 datas pelos Estados Unidos, onde foram headliners juntamente com o W.A.S.P. e com o Armored Saint como banda de abertura. Em março eles encerraram a perna estadunidense e logo começaram a trabalhar nas composições do álbum subsequente, o poderoso “Master of Puppets“. Os shows continuaram e o Metallica foi uma das atrações do Monsters of Rock, onde tocou entre o Ratt e o Bon Jovi, o que levou a James Hetfield a soltar a seguinte provocação ao público que estava em Castle Donington. Aspas para ele:

“Se vocês vieram aqui para ver spandex, maquiagem nos olhos e as palavras ‘oh baby’ em cada porra de música, esta não é a porra da banda!”

Eles ainda iriam se apresentar no festival Day on the Green, em Oakland, Califórnia, para um público de 90 mil pessoas e antes de a banda retornar para Copenhagen e gravar “Master of Puppets“, eles ainda fizeram uma última apresentação, no Lorey Hammer Metal Festival, realizado na Alemanha e que teve o Venom como headliner. Nesta ocasião, o quarteto apresentou a até então inédita canção “Disposable Heroes“.

Temos um álbum que fez história e que é colocado por muitos, incluindo este redator que vos escreve, como o melhor play do Metallica. Se hoje a banda não é nem sombra do que era há 40 anos atrás, ao menos seu legado é importantíssimo. Portanto, hoje é dia de celebrar esse discaço, escutando-o no volume máximo. O Metallica tem um encontro marcado com os fãs brasileiros, infelizmente somente São Paulo será contemplada com duas apresentações, nos dias 14 e 16 de novembro. E se eles não mudarem o setlist, são quatro as canções de “Ride The Lightning” que estão sendo apresentadas aos fãs: a faixa-título, “For Whom the Bell Tolls” (essa não pode jamais ficar de fora), “The Call of Ktulu” e “Fight Fire With Fire“. Aguardemos. .

Ride the Lightning – Metallica

Data de lançamento – 27/07/1984

Gravadora – Megaforce Records/ Elektra/ Vertigo

 

Faixas:

01 – Fight Fire With Fire

02 – Ride the Lightning

03 – For Whom the Bell Tolls

04 –Fade to Black

05 – Trapped Under Ice

06 – Escape

07 –Creeping Death

08 –The Call of Ktulu

 

Formação:

James Hetfield – vocal/ guitarra

Kirk Hammet – guitarra

Cliff Burton – baixo

Lars Ulrich – bateria