Há 43 anos, em 8 de novembro de 1980, o Motörhead lançava um de seus álbuns mais importantes. “Ace of Spades“, o álbum de número quatro da discografia da banda (o quinto se considerarmos “On Parole“, que, cronologicamente, foi o primeiro a ser gravado) e que é tema do nosso Memory Remains desta quarta-feira.
Trata-se do primeiro álbum a ser lançado em terras estadunidenses, através da Mercury e veio embalado de dois grandes álbuns lançados pela banda no ano anterior, que são “Overkill” e “Bomber“, além do lançamento involuntário do já citado álbum “On Parole“. Era o Motörhead na crista da onda, com um estilo novo de tocar, meio Punk, meio Metal e tanto o álbum quanto a música do Motörhead iria influenciar uma vertente que estava nascendo e que se tornaria uma das mais populares do Heavy Metal: o Thrash Metal. No livro livro ‘Overkill: The Untold Story of Motorhead”, de Joel Mclver, Lemmy falou sobre como rotular o Motörhead. Aspas para ele:
“Eu gosto do Iron Maiden e do Saxon do novo mob, e é isso, realmente… Chegamos tarde demais para o primeiro movimento de metal e cedo para o próximo… O Motörhead não se enquadra em nenhuma categoria, realmente .Não somos heavy metal puro, porque somos uma banda de rock ‘n’ roll, que ninguém sabe mais como comercializar.”
Para gravar o aniversariante do dia, o Motörhead contratou o produtor Vic Maile, a quem Lemmy conheceu quando era baixista do Hawkwind e tem em seu currículo, trabalhos com gente do gabarito de Led Zeppelin, Jimi Hendrix e The Who. Todos foram para o Jackson’s Studio, em Rickmansworth, por onde ficaram entre os dias 4 de agosto e 15 de setembro de 1980. No encarte da reedição do álbum, em 1986, Steffan Chirazi fez uma importante observação acerca do trabalho de Maile.
“Vic Maille, no comando da produção, usou um ouvido especializado para traduzir o monstruoso som ao vivo e a sensação da banda para o vinil.”
Maile recebeu o título carinhoso de “tartaruga” por sua semelhança com este animal, tem fundamental importância por dar ao Motörhead uma sonoridade elegante sem abrir mão da sujeira e brutalidade, itens característicos do trio. Ele tinha tato e estava sempre pronto para lidar com os constantes desentendimentos entre os integrantes em estúdio. No documentário “The Guts and the Glory”, o baterista Phil “Animal” Taylor lembra do produtor:
“Mesmo que ele estivesse com raiva, ele estava com raiva assim: ( assumindo um tom de voz suave ) ‘Vocês não deveriam fazer isso assim’ ou ‘Parem com isso, rapazes’.” Lemmy concorda: “Vic foi ótimo. Ele foi o primeiro que nos disse que éramos todos idiotas e trabalhávamos mais. Ele tinha uma personalidade muito seca: ‘Essa é realmente a melhor chance que você tem?'”
Lemmy afirmava que Vic o fez cantar ao invés de apenas berrar, enquanto que Fast Eddie Clarke dizia que o produtor fez com que ele tocasse de forma mais sólida. Então muito da importância e relevância deste álbum tem a ver com o belo trabalho realizado por Vic Maile aqui. Foi uma escolha mais que acertada da banda.
Botando a bolacha para rolar, o álbum é composto por doze canções em apenas trinta e seis minutos, o que dá uma média de três minutos por faixa. A mais longa, “The Chase is Better Than the Catch“, não passa de quatro minutos. Esta, aliás, se tornou uma das músicas mais populares da banda, juntamente com “(We are) the Road Crew“, que é uma homenagem aos roadies da própria banda, além, é claro, da faixa-titulo, que alcançou a honrosa 15ª posição na lista dos singles das paradas britânicas. Vamos dar aspas para Lemmy mais uma vez, que em sua autobiografia, “White Line Fever“, falou sobre a composição do maior hit do Motörhead:
“Usei metáforas de jogo , principalmente cartas e dados – quando se trata desse tipo de coisa, gosto mais de caça-níqueis, na verdade, mas não dá para cantar sobre frutas girando e as rodas caindo. a música é apenas pôquer , na verdade – ‘Eu sei que você precisa me ver, lê-los e chorar, a mão do homem morto de novo, ases e oitos’ – essa era a mão de Wild Bill Hickock quando ele levou um tiro. Para ser honesto, embora “Ace of Spades” seja uma boa música, estou farto dela agora. Duas décadas depois, quando as pessoas pensam no Motörhead, elas pensam em “Ace of Spades”. sei. Tivemos alguns bons lançamentos desde então. Mas os fãs querem ouvi-la, então ainda a tocamos todas as noites. Para mim, já estou farto dessa música.”
O álbum foi muito bem recebido por todos e é tido como um dos melhores, se não o melhor disco do Motörhead. Nos charts mundo afora, o álbum alcançou a 4ª posição nas paradas britânicas (o que no caso do Motörhead é uma vitória grande); no Canadá, o álbum ficou em 29° e na Noruega, alcançou a 37ª posição. Foi ainda certificado com Disco de Ouro no Reino Unido. Em 2020, a revista Rolling Stone elegeu o álbum na 408ª posição em sua lista dos 500 Melhores Álbuns de Todos os Tempos. Também está listado no famoso livro “Os 1001 Álbuns que Você Precisa Ouvir Antes de Morrer“, do autor Robert Dimery.
Infelizmente não temos mais o Motörhead na ativa e nenhum dos três integrantes está entre nós. Mas hoje é dia de celebrar não só esse discaço, um dos melhores já lançados em toda a história por uma banda de Rock. O Motörhead tem um rico legado e nosso papel é lembrar sempre do caminho trilhado por Lemmy Killmster, o cara mais Rock N’ Roll que já pisou neste mundão. É por isso, caro leitor, que eu sempre vos digo: eu ouço gente morta!
Ace of Spades – Motörhead
Data de lançamento – 08/11/1980
Gravadora – Bronze Records
Faixas:
01 – Ace of Spades
02 – Love Me like a Reptile
03 – Shoot You in the Back
04 – Live to Win
05 – Fast and Loose
06 – (We Are) The Road Crew
07 – Fire, Fire
08 – Jailbait
09 – Dance
10 – Bite the Bullet
11 – The Chase Is Better than the Catch
12 – The Hammer
Formação:
Lemmy Killmster – baixo/ vocal
Fast Eddie Clarke – guitarra
Phil Animal Taylor – bateria