Essa semana temos dois álbuns do Nevermore completando mais um ano de lançamento, são eles “This Godless Endeavor” e “Enemies of Reality“. O Memory Remains desta quarta-feira vai tratar do primeiro álbum listado aqui, lançado há 18 anos atrás, em 27 de julho de 2005.
Se em “Enemies of Reality“, que é um disco muito subestimado, a banda não obteve o sucesso esperado, depois do respaldo que “Dead Heart in a Dead World” proporcionou, a banda resolveu usar novamente a mesma fórmula utilizada cinco anos antes. Saem as músicas extremamente agressivas de “Enemies” e volta o virtuosismo de “Dead Heart“. Entretanto, aqui, temos um pouco de cada um dos dois álbuns, pois ainda que o virtuosismo esteja em voga, por aqui também podemos encontrar muitos momentos de brutalidade.
Após a péssima experiência com o produtor Kelly Gray, os caras apostaram na “bola de segurança”, trazendo o competentíssimo Andy Sneap para produzir “This Godless Endeavor“. E que conhece a banda já sabe, a combinação Nevermore + Andy Sneap nunca deu errado. O cara já havia sido chamado para consertar os erros cometidos no disco anterior, com muito êxito, então era a aposta mais que acertada para este play.
Em entrevista à época, o guitarrista Jeff Loomis afirmou que o aniversariante do dia não é exatamente um álbum conceitual e sim um disco “tópico a tópico”, com letras que tratam de problemas da vida real, que podem se referir a perda de identidade, o sistema em que vivemos, o significado da vida, a denúncia de Deus como solução para todos os problemas causados pelos conflitos que as religiões travaram ao longo dos tempos.
Loomis voltava a ter um companheiro na guitarra, após gravar sozinho todas as suas partes nos dois álbuns anteriores. Steve Smyth assumiria a segunda guitarra e iria permanecer na banda até ser diagnosticado com insuficiência renal, um ano depois. Então todos foram até a cidade de Derbyshire, mais precisamente no “Backstage Recording Studios”, no Reino Unido, onde permaneceram por lá entre os meses de fevereiro e abril de 2005. E saíram com esta pérola.
Vamos colocar a bolacha para conferir as onze faixas presentes neste maravilhoso play. Ai o ouvinte dá play e toma um susto nos primeiros segundos da música “Born“. E você pensa que é a trilha sonora do fim do mundo. Aquela bateria descaradamente Death Metal de Van Williams, junto com os riffs da nova dupla de guitarristas, Jeff Loomis e Steve Smyth, provavelmente os melhores riffs que Loomis compôs frente ao Nevermore. O ouvinte que pega o álbum, tem a impressão de que a Century Media colocou uma música de maneira errônea no meio do álbum do Nevermore, tamanha a brutalidade que a banda colocou nesta música e que funcionava muito bem ao vivo.
“Final Product” foi a faixa de trabalho, a primeira lançada como single e os caras fizeram um videoclipe oficial. E ela é uma faixa típica do Nevermore: Moderna, pesada, com bons riffs e muita influência do Prog Metal. Excelente. A curiosidade era que Warrel Dane detestava essa música com todas as suas forças, mas como fazia sucesso entre os fãs, ele se via obrigado a cantá-la ao vivo. E era a faixa que costumava abrir o setlist. O solo é um capítulo a parte, simplesmente destruidor, o melhor guitarrista dos anos 2000 atendia pelo nome de Jeff Loomis, hoje relegado a coadjuvante no Arch Enemy.
“My Acid Words” é uma música que te engana. Ela comera com uns riffs mais cadenciados, e o ouvinte pensa que vai ser uma música arrastada até o final, só que não. Ela logo ganha velocidade e aqui quem dita o ritmo é Van Williams e sua bateria rápida. No final, a música volta a ser mais cadenciada como na intro. Muito boa também.
“Bittersweet Feast” dá uma quebrada no disco, com seu clima denso e nem tão rápido quanto as faixas anteriores, mas isso não quer dizer que ela seja uma música ruim, ao contrário, ela é pesada e aqui quem brilha é Warrel Dane com sua belíssima voz. Destaque também para Van Williams, que sempre considerei um grande baterista, mas o ápice de sua performance foi aqui em “This Godless Endeavor“. O cara estava com uma pegada fenomenal em seu kit de bateria.
“Sentient 6” é uma espécie de continuação da “The Learning“, lançada 9 anos antes, lá o “The Politics of Ecstasy“. E isso era dito pelo próprio Warrel Dane em entrevistas. E as músicas se parecem mesmo, se conectam. É uma música sombria, pesada, linda. O final épico, arrepia qualquer ouvinte. E era presença obrigatória nos shows.
“Medicated Nation” é outra que agrada de cara, com seu peso, aliada aos vocais incomparáveis de Warrel Dane. E a letra inteligentíssima, crítica, ácida. “The Hollocaust of Thought” é uma faixa instrumental, que conta com a participação do guitarrista James Murphy fazendo um solo bastante interessante. Ela é uma ponte para a faixa que vem a seguir….
…”Sell My Heart for Stones” é uma espécie de balada. E o fã de Nevermore já sabe como a banda encarava suas baladas. Com muito peso. E aqui temos uma música pesada, densa, sombria, tudo dosado de forma cirúrgica. O solo é mágico. E o clima desta música lembra bastante o de “Insignificant“, lançado em “Dead Heart in a Dead World“. Destaque também para o trampo de Jim Sheppard no baixo. Pesadíssimo.
“The Psalm of Lydia“, que é uma música excelente, mesmo que ela fuja um pouco do som característico do Nevermore. Ela é pura e simplesmente Heavy Metal, pesada, podemos dizer que há flertes com o Hard Rock, mas somente breves flertes. Os riffs da introdução são maravilhosos, bem como os arpeggios de Loomis que antecedem a entrada do vocal, além do solo que mais uma vez enlouquece o ouvinte.
Os acordes de violão e a voz de Dane, bem calmos, na primeira estrofe de “A Future Uncertain” nos fazem pensar que estamos escutando uma música mais folk. Ledo engano, logo logo as guitarras tomam conta de tudo novamente, e um Van Williams possuído com suas viradas espetaculares dão um brilho incomum a esta música. Destaque também para o baixo de Jim Sheppard, sempre competente.
A faixa título encerra de forma brilhante o nosso disco homenageado de hoje, tem um início bem semelhante à música anterior: violãozinho bem calmo e a voz de Dane, mas logo Jeff Loomis pede licença e é ele quem brilha com suas bases e seus solos arrebatadores, na música mais épica da carreira da banda. Não é a toa que esta era a faixa de fechamento dos shows.
E assim se dá essa obra maravilhosa, que em 57 minutos deixa o ouvinte bastante satisfeito. Mesmo que esse disco não seja perfeito como “Dead Heart in a Dead World” nem tão raivoso quanto “Enemies of Reality“, ele é importante na discografia do Nevermore e indispensável na coleção de quem admira o Heavy Metal moderno, E “This Godless Endeavor” marca uma época em que a banda esteve entre as mais importantes e em mais evidência na cena.
O aniversariante de hoje foi bem recebido pela crítica, inclusive o site alemão “Hard Rock” o elegeu como o melhor e mais intenso álbum de Heavy Metal da década. E garantiu boas colocações em alguns charts mundo afora: 11° na categoria “US Top Heatseekers” e 23° no “US Independent Albums”, ambos da “Billboard”; 26° na Alemanha; 73° na Holanda e 134° na França. Além disso, os clipes de “Born” e “Final Product” fo ram bastante divulgados, sobretudo no programa Headbangers Ball, da MTV dos Estados Unidos.
Durante a turnê deste álbum a banda realizou uma extensa turnê, com shows nos grandes festivais como o Wacken Open Air e o extinto Live ‘n’ Louder, realizado em São Paulo. Um dos shows desta tour acabou eternizado com o CD/DVD “The Year of the Voyager“, que traz um apanhado de toda a carreira do quinteto, desde o primeiro álbum lançado em 1995 até o aquele momento. Gravado durante uma apresentação em Bochum, Alemanha, onde 666 afortunadas testemunhas presenciaram o único registro oficial da banda em cima dos palcos. A essa altura, a banda havia feito mais uma troca de guitarristas, Steve Smyth precisou ser substituído por Chris Broderick, que ficou até o ano de 2007, quando rumou para o Megadeth.
Uma pena que os conflitos internos dentro da banda tenham forçado a separação dos integrantes e com a morte da Warrel Dane, nós nunca mais teremos a oportunidade de vê-los ao vivo. Mas estamos aqui na missão de expressar a importância não só deste disco, mas de toda a obra Dane e seus companheiros realizaram. Por isso este disco se faz digno desta homenagem no dia de hoje. Vamos escutar essa bolacha no volume máximo, enquanto gritamos ao mundo a celebre frase: eu escuto gente morta.
This Godless Endeavor – Nevermore
Data de lançamento – 26/07/2005
Gravadora – Century Media
Faixas:
01 – Born
02 – Final Product
03 – My Acid Words
04 – Bittersweet Feast
05 – Sentient 6
06 – Medicated Nation
07 – The Holocaust of Thought
08 – Sell my Heart for Stones
09 – Psalm of Lydia
10 – A Future Uncertain
11 – This Godless Endeavor
Formação:
Warrel Dane – vocal
Jeff Loomis – guitarra/ piano em “Sentient 6”
Steve Smyth – guitarra
Jim Sheppard – baixo
Van Williams – bateria
Participação especial:
James Murphy – guitarra em “The Holocaust of Thought”