Há três décadas, o Nirvana lançava “Incesticide“, um álbum recheado de lados B e de versões alternativas para músicas lançadas anteriormente em outros álbuns pelo trio. O Memory Remains desta quarta-feira vai contar um pouco da história deste disco.
O aniversariante do dia não é exatamente um full-lenght, mas pelo fato de a banda ter estourado com seu segundo álbum, o icônico “Nevermind“, a ânsia tanto da gravadora em lucrar ainda mais com as vendas de sua mais nova galinha dos ovos de ouro, os fãs também queriam obter mais material dessa “nova” banda que abalava as estruturas do Rock e chamava a atenção se todos para a cena de uma cidade chuvosa, localizada no noroeste dos Estados Unidos: Seattle.
Se fôssemos utilizar um termo pejorativo, poderíamos dizer que se trata de um caça-níqueis, o que não é uma mentira. Com a banda estourada e fazendo turnês mundo afora, não tinha como tirar os caras da estrada e enfiá-los no estúdio novamente, então a saída foi fazer uma compilação com singles, lado B, covers e uma versão inusitada para a música “Polly“, originalmente lançada de forma acústica, em “Nevermind“. Então temos um apanhado se gravações que vão desde as sessões para o debut álbum da banda, “Bleach“, até gravações com a formação derradeira e que ficou conhecida, com Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl. Entretanto, outros bateristas também deixaram seus registros, uma vez que as sessões de gravações estão separadas por alguns anos.
As músicas “Beeswax,” “Downer,” “Mexican Seafood,” “Hairspray Queen,” e “Aero Zeppelin” foram gravadas no Reciprocal Recording Studios, em Seattle, no dia 23 de janeiro de 1988, com produção de Jack Endino, que mais tarde ficaria conhecido no Brasil por produzir álbuns dos Titãs. O mesmo Reciprocal Recording Studios também foi utilizado para a gravação da faixa “Big Long Now“, entre dezembro de 1988 e janeiro de 1989, nas sessões de gravação de Bleach, também com produção do mesmo Jack Endino. Já a faixa “Stain” foi gravada no Music Source Studios, também em Seattle, em setembro de 1989. “Dive” foi gravada entre 2 e 6 de abril de 1990, no Smart Studios, em Madison, com produção de Butch Vig. Em 11 de julho de 1990, eles retornaram ao Reciprocal Recording Studios para gravar a faixa “Sliver”, também com produção de Jack Endino. E por fim, duas sessões no estúdio da BBC, uma em 21 de outubro de 1990 e outra em 9 de novembro de 1991, foram gravadas “Turnaround“, “Molly’s Lips,” e “Son of a Gun“, na primeira sessão e “Been a Son,” “(New Wave) Polly,” e “Aneurysm“.
Vamos colocar então a bolacha para rolar e a abertura se dá com “Dive“, que é bem diferente daquela sonoridade limpa e até certo ponto comercial que o trio alcançou em Nevermind, lembra mais como a banda soava no disco de estreia, “Bleach” e também no derradeiro, “In Utero“. A música é densa e pesada e mostra um Nirvana visceral, soando bastante sujo. “Sliver” é mais Punk Rock e poderia perfeitamente estar no álbum que estourou. A letra é divertida e fala de uma criança que foi deixada pelos pais na casa dos avós e pede para voltar para sua casa. Bem legal.
“Stain” é suja e bem pesada, onde o baixo de Krist Novoselic aparece mais que a guitarra de Kurt Cobain. “Been a Son” é um dos grandes momentos do álbum e a canção soa como se fosse uma do álbum “Nevermind“, enquanto que “Turnaround” é um cover do Devo e essa versão deixa mais evidente as influências Punk que sempre acompanharam o Nirvana, aliadas às guitarras sujas do Grunge e com um competente Dave Grohl e suas batidas certeiras no seu kit de bateria.
“Molly’s Lips” é uma versão para a música da banda The Vaselines e bem reta e conta com um vocal mais melódico de Kurt Cobain, o que deixa a música mais agradável. “Son of a Gun” é outra versão para a música do The Vaselines e é bem suja, mas Kurt Cobain repete a fórmula utilizada na música anterior em sua maneira de cantar e o resultado é igualmente satisfatório. Em tempo: ambas as versões originais são horrendas e o Nirvana conseguiu uma proeza em melhorar e muito essas duas canções.
A seguir temos uma versão New Wave para a música “Polly“, que em “Nevermind” era tocada apenas por Kurt Cobain no violão. Aqui ela ganha uma versão plugada e com um andamento mais acelerado… E ficou ótima. Uma grata surpresa no álbum. ‘Beeswax” abre a segunda metade do play e é uma música bem enfadonha, chata e mal tocada. Mas ainda assim, os elementos do Nirvana estão presentes ali.
O álbum continua com “Downer“, uma música que já era conhecida, pois havia sido lançada no debut, “Bleach“. Aqui temos um Nirvana soando bem Punk Rock e com uma energia impressionante. Curta, grossa e certeira. “Mexican Seafood” é suja e aqui o baixo de Krist Novoselic é quem comanda as ações, em muitos momentos aparecendo mais do que a guitarra de Kurt Cobain. As próximas quatro músicas são composições da formação derradeira da banda e até então jamais lançadas. “Hairspray Queen” é bem psicodélica e traz o vocal completamente desafinado de Kurt Cobain e também uma guitarra sem muita preocupação com timbragem. Mas acreditem, esse relaxamento funciona.
“Aero Zeppelin” é outro grande momento do álbum em uma música relativamente pesada e com Dave Grohl detonando seu kit com sua performance magistral. “Big Long Now” já mostra a sonoridade mais arrastada e densa que a banda viria a nos apresentar no álbum “In Utero“. E o melhor eles deixaram para o final, com “Aneurysm“, que se tornou clássica e obrigatória nos shows da banda, com uma pegada visceral e apostando nos três acordes, essa música encerra muito bem um disco que serviu como um tapa buraco de uma legião de fãs que aguardavam por um novo full-lenght do Nirvana.
Alavancado pelo sucesso de “Nevermind“, Incesticide vendeu bem também. Foi certificado com Disco de Ouro na França, Platina nos Estados Unidos e Reino Unido, além de um duplo Platina no Canadá. Nos charts, alcançou a primeira posição na Austrália, na categoria álbuns de Rock Alternativo; ficou em 10° na Áustria, 14° no Reino Unido, 16° na Finlândia, 17° no Top 100 da Europa, 18° na Suiça, 21° no Canadá, 22° na Austrália, 23° na Nova Zelândia, 27° na Suécia, 28° na França, 39° na Billboard 200 e mais recentemente, chegou ao 6° lugar nos charts da Grécia.
Temos um bom álbum que serve para colecionadores e aficcionados pelo Nirvana, essa banda que abalou as estruturas do Rock no início dos anos 1990 e mostrou ao mundo uma cena que existia em Seattle. Goste você ou não do Nirvana, é impossível não atestar a importância que a banda teve. E por isso ela é tão amada por muitos. Vamos celebrar esse adorável caça-níqueis. Pois como sempre costumo escrever aqui, eu escuto gente morta!
Incesticide – Nirvana
Data de lançamento – 14/12/1992
Gravadora – DCG
Faixas:
01 – Dive
02 – Sliver
03 – Stain
04 – Been a Son
05 – Turnaround
06 – Molly’s Lips
07 – Son of a Gun
08 – (New Wave) Polly
09 – Beeswax
10 – Downer
11 – Mexican Seafood
12 – Hairspray Queen
13 – Aero Zeppelin
14 – Big Long Now
15 – Aneurysm
Formação:
Kurt Cobain – vocal/ guitarra
Krist Novoselic – baixo
Dave Grohl – bateria Turnaround,” “Molly’s Lips,” “Son of a Gun”,
Dale Crover – bateria em “Beeswax,””Been a Son,” “(New Wave) Polly,” and “Aneurysm” “Downer,” “Mexican Seafood,” “Hairspray Queen,” and “Aero Zeppelin”
Chad Channing – bateria em Big Long Now, Dive, e Stain
Dan Peters – bateria em Sliver