O ano de 1993 foi especial no cenário da música pesada e muitos artistas lançaram álbuns naquele ano. Tem para todos os gostos, do Punk ao Thrash Metal, passando pelo Progressivo. Todos eles estão completando 30 anos em 2023 e o Memory Remains desta quinta-feira vai tratar do mais novo trintão da cena: “I Hear Black“, do Overkill.
Embora recheada de lançamentos, a década de 1990 provocou uma crise sem precedentes no Heavy Metal de maneira geral. Praticamente todas as bandas que haviam feito obras primas nos anos 1980, simplesmente resolveram cada uma pegar o seu caminho e chegamos em um período que, salvo raríssimas exceções, nao tínhamos bandas de Thrash Metal. Algumas até lançaram bons discos sem as rápidas palhetadas de guitarra e baterias à velocidade da luz, como o Metallica em seu “Black Album” (1991) ou o Megadeth com seu “Countdown to Extinction” (1992). Porém, as outras bandas fizeram discos abaixo do esperado.
Com o Overkill não foi diferente. Esperava se muito da banda, pois o último lançamento, “Horroscope” é uma verdadeira pérola do Thrash Metal. Mas o que aconteceu foi que a banda tentou se enveredar por outros caminhos, o que descaracterizou a sonoridade que os fãs da banda estavam acostumados. O resultado é uma banda que abriu mão das palhetadas rápidas, típicas do estilo que fez a banda se tornar notável, para experimentar elementos mais Groove. Não é ruim, o álbum é bem tocado e a gente percebe que é o Overkill por causa do vocal inconfundível de Bobby “Blitz” Ellsworth.
O álbum é marcado por estreias, a primeira é a gravadora. Os caras migraram da Megaforce Records para a Atlantic. A segunda estreia, foi a do baterista Tim Mallare, vindo do M.O.D. para ocupar a posição deixada por Sid Falck, que por sua vez, se viu obrigado a deixar a banda depois de sofrer um acidente de automóvel. O álbum também marca um retorno: o produtor Alex Perialas, que produziu os três primeiros álbuns da banda, “Feel the Fire” (1985), “Taking Over” (1987) e “Under the Influence” (1988) estava de volta, e à ele é creditada essa mudança radical na sonoridade do quinteto. Assim sendo, durante o ano de 1992, a banda se reuniu no Pyramid Sound Studios, em Ithaca, estado de Nova Iorque para registrar a bolacha.
Apesar de evidenciar a mudança da água para o vinho na questão da sonoridade, “I Hear Black” é um dos álbuns mais bem sucedidos comercialmente do Overkill. Alcançou a posição de número 122 dentre os 200 listados da badalada “Billboard“, melhor posição que a banda alcançou até a década passada, quando figurou em 77° com “Electric Age” (2012), 31° com “White Devil Armory” (2014) e “The Grinding Wheel” (2017). No ano de seu lançamento, “I Hear Black” chegou a 3ª posição na categoria Top Heatseekers. Certa vez, em entrevista para o site Invisible Oranges, o vocalista Bobby “Blitz” Ellsworth fez uma reflexão sobre o novo trintão do Metal. Aspas para o frontman:
“Quando eu olho para ‘I Hear Black’, eu não penso que é um disco ruim. Eu penso que é um álbum em que não trabalhamos tempo suficiente nele. Os outros membros também queriam escrever músicas, então acabamos por nos desviar da fórmula do Overkill. Às vezes alguém chega para nós e fala: ‘eu realmente amo a música Shades Of Grey’, e D.D. e eu dizemos: ‘Mas aquilo foi um grande equívoco’!”
Musicalmente, o álbum não seria tão desastroso se fosse lançado sob outro nome. Pois aqui temos canções até bem tocadas, com a técnica habitual demonstrada por todos os membros da banda. Só se sente (e muito) a falta do Thrash Metal. Podemos salvar a faixa “Weight of the World“, que ainda conserva um resquício do Thrash Metal apresentado no ótimo álbum anterior. Curiosamente, a melhor faixa, foi privilégio apenas dos japoneses: “Killogy“, um baita Thrash Metal com a cara do Overkill, foi bônus track da edição nipônica. E tendo a concordar com o vocalista Bobby, a música “Shades of Grey” é de causar vergonha alheia.
Após o lançamento, o quinteto caiu na estrada, na chamada “World of Hurt Tour“. Na perna europeia desta tour, a banda teve o Savatage, que na época divulgava seu clássico “Edge of Thorns” (1993), como banda de abertura. No início da turnê, eles chegaram a incluir oito das onze músicas em seu repertório, porém, rapidamente foram substituídas por músicas mais relevantes na carreira. Desde 2002 eles não tocam nenhuma das faixas deste play. Eles ainda produziram um videoclipe para a música “Spiritual Void“, incrivelmente inspirada no Black Sabbath, pouco divulgado na MTV, que à época valorizava o Rock Alternativo e pregava que o Heavy Metal estava morto, o que, para alegria de todos, não aconteceu.
Era o início de um período que a banda experimentava novas tendências e a partir do excelente “Ironbound” (2010), eles concluíram que uma volta às raízes era inevitável e desde então estão nos brindando com lançamentos acima da média. Enquanto o vindouro álbum não chega, “Scorched” tem previsão de lançamento para dia 14 de abril, a gente celebra este álbum que completa 30 anos e é parte da história do grandioso Overkill.
I Hear Black – Overkill
Data de lançamento – 09/03/1993
Gravadora – Atlantic
Faixas:
01 – Dreaming in Columbian
02 – I Hear Black
03 – World of Hurt
04 – Feed my Head
05 – Shades of Grey
06 – Spiritual Void
07 – Ghost Dance
08 – Weight of the World
09 – Ignorance and Ignorance
10 – Undying
11 – Just Like You
12 – Killogy (bônus track da edição japonesa)
Formação:
Bobby “Blitz” Ellsworth – vocal
D.D. Verni – baixo/ backing vocal
Merritt Gant – guitarra/ backing vocal
Rob Cannavino – guitarra/ backing vocal
Tim Mallare – bateria