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Memory Remains: Ozzy Osbourne – 41 anos de “Blizzard of Ozz” e a competição com o Black Sabbath no início de sua carreira solo

Memory Remains: Ozzy Osbourne – 41 anos de “Blizzard of Ozz” e a competição com o Black Sabbath no início de sua carreira solo

20 de setembro de 2021


Em 20 de setembro de 1981, Ozzy Osbourne lançava o seu primeiro álbum solo, “Blizzard of Ozz“. E esse marco na carreira daquele que foi um dos criadores do Heavy Metal é tema do nosso Memory Remains desta segunda-feira. Venha comigo que te contarei tudo.

Antes de mais nada, é preciso deixar claro que o disco possui duas datas de lançamento distintas: a que comemoramos hoje refere-se ao lançamento no Reino Unido, porém, somente  em 27 de março de 1982 o play foi lançado nos Estados Unidos. Ficamos então com a data do lançamento original.

Para contar a história desse magnífico play, precisamos voltar alguns anos no tempo: como se sabe, Ozzy foi vocalista do Black Sabbath no período mais frutífero da banda. Mas saiu no ano de 1976, tendo um ano sabático. Voltou em 1978 e gravou “Never Say Die“, que acabou por ser o último registro de estúdio feito com os quatro membros originais. Demitido no ano de 1979, partiu em carreira solo.

Ozzy se reuniu então com o eterno guitarrista Randy Rhoads e com o baixista Bob Daisley e começaram a escrever e ensaiar o material, mais precisamente no País de Gales. Um amigo de Ozzy, de nome Barry Screnage, participou destes ensaios, atuando como baterista. Lee Kerslake, do Uriah Heep acabou gravando a bateria no álbum. A primeira música composta foi “Goodbye to Romance“, cuja letra fala sobre a saída do Madman do Black Sabbath. Mais tarde ele admitiria em entrevista que sentia que estava em competição com sua ex-banda.

O selo Jet Records, de propriedade de Don Arden, pai de uma certa Sharon, que a partir de 1982 passaria a usar o sobrenome Osbourne, sendo além de esposa, empresária e a pessoa que decide o futuro do cantor, se interessou em lançar “Goodbye to Romance” como single. Então, todos foram ao Ridge Farm Studio, em Rusper, Inglaterra. Chris Tsangarides seria o responsável pela produção, porém, seu trabalho não agradou a Ozzy, que chamou Max Norman para concluir a produção. Todos ficaram em estúdio entre 22 de março e 19 de abril daquele ano de 1980. O selo não somente lançou o single, mas também o produto final, o full-lenght.

E botando a bolacha para rolar, quem achou que Ozzy seguiria na onda de sua ex-banda, se enganou, pois o Madman apostou no Hard Rock, numa decisão acertadíssima, a começar pela abertura do play, com a excelente “I Don’t Know“, onde os riffs de Randy Rhoads se repetem à exaustão, acompanhados do baixo bem presente e um solo de guitarra fenomenal. E era só o começo.

Porque a faixa dois dispensa maiores apresentações, trata-se da clássica “Crazy Train” e seus belos acordes de guitarra da intro. Na minha opinião é o maior clássico de toda a carreira de Ozzy e talvez a música que melhor represente os anos 1980. E dá uma saudade de Randy Rhoads quando ouvimos essa canção, principalmente no seu solo, caprichado na técnica Two Hands. Que perda lastimável e tão precoce tivemos desse talento.

Em seguida, a canção que Ozzy fez para falar de sua saída do Black Sabbath, “Goodbye to Romance“. Ela é ao mesmo tempo melódica e traz aquele clima de melancolia, muito em virtude do teclado de Don Airen, que a deixou sofrível em alguns momentos . Na verdade, era mesmo um adeus ao romantismo do Black Sabbath e sua formação original. A carreira solo de Ozzy seria muito mais bem sucedida, enquanto que Tony Iommi meio que se perdeu nos anos 1980, ainda que num primeiro momento, tenha lançado bons álbuns como “Heaven and Hell” e Born Again, por exemplo.

Dee” é uma pequena faixa instrumental onde apenas Randy Rhoads dá seu show em um violão, exibindo muita técnica em melodias e harmônicas. “Suicide Solution” chega para fechar o lado A do vinil e se não é uma música brilhante, não decepciona. Ela é medianamente pesada e chamou mais atenção por toda a polêmica em volta dela. Se você ainda não sabe, mais abaixo eu explicarei.

Virando a bolacha, temos “Mr. Crowley” e seu clima sombrio que fascina o ouvinte e aqui, sim, o teclado trabalhou muito bem. Essa é mais uma que nasceu clássica e é um hino do Rock, obrigatória nas apresentações de Ozzy. Com certeza inspirou muitos que montaram banda dos anos 1980 para cá. O Testament fez uma versão para essa música que ficou tão excelente quanto a original.

No Bone Movies” tem um refrão grudento e um clima bem legal, além de um Lee Kerslake bem empolgado atrás do seu kit de bateria, sobretudo na parte final da música, que é bem divertida. Já “Revelation (Mother Earth)” é musicalmente a música mais complexa do play, ela tem de tudo um pouco: melodia, um clima psicodélico e até mesmo às vezes bem melancólico. Em uma parte dela, a gente acha que não vai acontecer nada, até que Rhoads tira uns belos riffs da cartola para encerrar muito bem a música. O Nevermore fez uma versão para essa música, que ficou maravilhosamente boa, interpretada pela lenda Warrel Dane e com Jeff Loomis honrando os riffs de Rhoads, uma pena que eles nunca tenham incluído-a em algum álbum da banda.

Steel Away (The Night)” traz Ozzy chegando o mais próximo do Heavy Metal em sua carreira solo como você jamais voltaria a ver. Uma música rápida, contagiante e quem estiver desatento, pode achar que o vocalista havia trocado o Sabbath pelo Judas Priest, pois aqui a banda emendou um NWOBHM de dar gosto. O final não poderia ser melhor, um disco curto, é bem verdade, mas direto e reto, mostrando que o Madman estava chegando para ficar e o futuro mostrou isso.

E assim se foram 39 minutos de um verdadeiro tufão musical que é esse “Blizzard of Ozz“, a estreia com o pé na porta de Ozzy Osbourne, que mesmo no ápice do seu vício em drogas, mostrava que ainda poderia dar muito para esse tal de Rock and Roll, que nós tanto amamos e vestimos a camisa. O futuro nos mostrava que viriam por aí ótimos discos e nós brasileiros, testemunharíamos sua apresentação histórica na primeira edição do Rock in Rio, no ano de 1985;

O disco foi muito bem recebido e é o mais vendido da carreira do velho Ozzy, juntamente com “No More Tears“, lançado onze anos mais tarde. Foi certificado com disco de Ouro na Austrália; Prata no Reino Unido; Platina no Canadá e cinco vezes Platina nos Estados Unidos. Figurou ainda nos charts do Reino Unido, Canadá, na Nova Zelândia e claro, na famosa e badalada “Billboard 200“.

Agora, as controvérsias em torno do disco: a primeira diz respeito a música “Suicide Solution“, onde a letra teria motivado o suicídio do jovem John McCollum, no ano de 1984. Os pais do adolescente processaram Ozzy, que se defendeu dizendo que o teor da letra não fala sobre cometer suicídio e sim sobre a relação com as bebidas alcoólicas. Felizmente, o Madman foi absolvido.

A outra polêmica aconteceu no ano de 1986, quando Bob Daisley e Lee Kerslake reclamaram que não haviam recebido os devidos royalties das vendas tanto do aniversariante do dia, quanto do disco sucessor deste, o também ótimo “Diary of a Madman“. O que Ozzy fez? Relançou o álbum de estreia, em 2001 e decidiu que tanto o baixo quanto a bateria fossem regravados e isso foi feito pelos músicos que ocupavam o posto naquela época: Robert Trujillo e Mike Brodin.

Nada disso tira o brilho deste play, que chega aos 41 anos com um corpinho de 25. E era só o começo de uma carreira solo longeva, com direito a dois retornos pelo Black Sabbath. Hoje é dia de celebrarmos essa data, escutando o play no talo e torcendo para que essa pandemia dê uma trégua para que possamos ver Ozzy em ação em um futuro breve.

Blizzard of Ozz – Ozzy Osbourne
Data de lançamento – 20/09/1980
Gravadora – Jet Records

Faixas:
01 – I Don’t Know
02 – Crazy Train
03 – Goodbye to Romance
04 – Dee
05 – Suicide Solution
06 – Mr. Crowley
07 – No Bone Movies
08 – Revelation (Mother Earth)
09 – Steel Away (The Night)

Formação:
Ozzy Osbourne – vocal
Randy Rhoads – guitarra
Bob Daisley – baixo
Lee Kerslake – bateria
Don Airey – teclado