Memory Remains

Memory Remains: Pantera – 27 anos de “The Great Southern Trendkill” e agressividade de uma banda dividida

7 de maio de 2023


Em 7 de maio de 1996, um Pantera dividido e perto do fim, lançava o disco mais pesado e brutal de sua carreira: “The Great Southern Trendkill“, o oitavo álbum (ou quarto álbum, como preferem alguns, este que vos escreve está incluso neste grupo) da carreira desta que foi a maior banda de Metal dos anos 1990. Esse discaço é tema do nosso Memory Remains deste domingão.

Como sabemos, a banda teve em seus primórdios, uma sonoridade mais puxada para o Hard Rock, com seus integrantes vestidos como as bandas daquela época, fato que foi radicalmente mudado nos anos 1990, inclusive com os membros detestando relembrar daqueles tempos e era evidente o desconforto dos caras com esse “passado relegado”.

Com a perda da popularidade da maioria das bandas de Metal na década de 1990, motivada por alguns fatores tais como a tentativa da MTV em enterrar vivo o estilo que seguia vivo. Capengando, é bem verdade, mas estava longe de morrer. As bandas mudaram drasticamente seu visual e seu estilo, muitas se perderam, mas felizmente se recuperaram anos mais tarde. Bandas como o Pantera, Sepultura e o Machine Head se aproveitaram deste vácuo e se destacaram neste período.

A banda estava rachada e isso se refletiu no disco como um todo. Denso como nunca o Pantera havia sido antes e igualmente raivoso e brutal em alguns momentos. O racha era tão grande que Phil Anselmo não esteve no mesmo estúdio que o restante da banda. Enquanto que Dimebag Darrell, Rex Brown e Vinnie Paul gravaram suas partes no “Chasin Jason Studios“, no Texas, Anselmo gravou suas partes no “Nothing Studios“, em Nova Orleans. E não era só isso, Phil andava em um tour bus separado dos seus companheiros. Era o início do fim do Pantera e nós não sabíamos.

A abertura se dá com o extremismo de “The Great Southern Trendkill“, a faixa título. A música raivosa, em que Anselmo parece colocar para fora todas as suas angústias. Algumas partes flertam com o Death Metal, como por exemplo, a passagem depois do refrão. O solo de Dimebag é o ponto alto deste som.

War Nerve” é uma música menos rápida que a anterior, mas igualmente raivosa, linda, nem mesmo a citação de Anselmo sobre seu órgão sexual tira o brilho desta música. E “fuck the world“. “Drag the Waters” é a minha música favorita deste disco em que o ritmo do disco fica ainda mais cadenciado, grooveado. Por um tempo, a intro deste som foi o toque de chamada do meu celular.

10’s” é outra música maravilhosa, densa, angustiante. Essa foge da agressividade inicial, e podemos dizer que tem o mesmo clima da música “This Love”, lançada no não menos maravilhoso “Vulgar Display of Power“. “13 Steps to Nowhere” é calcada na bateria precisa de Vinnie Paul e nos excelentes riffs de seu irmão, Dimebag. E no refrão temos de volta a agressividade que seria a tônica deste álbum. Delícia de se ouvir este som.

Voltemos ao clima denso com a ‘inofensiva’ “Suicide Note pt I” em que apenas a guitarra de Dimebag acompanha um Anselmo cada vez mais angustiado. E a parte II da “Suicide Note” talvez seja o ponto de maior agressividade sonora do Pantera, coisa que os caras chegaram perto somente em “Slaughtred“, do lançamento anterior. É muita brutalidade para uma banda só.

Living Through Me (Hell’s Wrath)” é uma música que nos remete à fase do “Cowboys From Hell“. É a cara do Pantera, mas destoa um pouco da proposta do álbum. Não é uma música ruim, ao contrário. “Floods” é o que podemos chamar de balada. Ela é densa, com um clima fantástico e ganha peso do meio para o final. O solo desta música é com certeza o melhor e mais complexo já escrito por essa fera eterna chamada Dimebag Darrell. E olha que o cara costumava brilhar em suas composições.

Temos o final com duas músicas que, nas minhas primeiras audições eu achava se tratar de apenas uma: “Underground in America” é um petardo que serve de rito de passagem para “(Reprise) Sandblasted Skin“, onde o pau come solto na casa de Noca, fechando com chave de ouro um disco que é marcado por uma agressividade fora do comum. Uma agressividade que fora construída gradativamente, álbum por álbum. E deixe a bolacha rolando que após alguns minutos de silêncio você será agraciado com os riffs da música que acabara de encerrar-se. Eu confesso que tomei um susto tremendo quando “do nada”, as guitarras com afinação baixa de Dimebag voltaram a ecoar nos meus ouvidos. Um disco como os outros três anteriores, simplesmente impecável.

São 53 minutos de muita fúria e ao encerrar a audição, a impressão que temos é que um trem descarrilado em alta velocidade nos atingiu. Já são 27 anos, parece que o álbum foi lançado ontem e ele envelhece muitíssimo bem. Em 2016, para comemorar os 20 anos, o álbum foi relançado, contendo mixagens alternativas e uma gravação de um show da banda durante o Dynamo Open Air de 1998. Para os mais novos, o Dynamo era um dos grandes festivais do circuito do verão europeu na década de 1990 e acontecia em Eindhoven, Países Baixos.

O álbum teve um bom desempenho nos charts pelo mundo: 2° lugar na Austrália, 4° na ” Billboard 200“, permanecendo no principal chart estadunidense durante 16 semanas. Na Finlândia o álbum também alcançou a 4ª posição e na Nova Zelândia ficou em 5°; 7° na Suécia, 14° na Noruega, Áustria e Dinamarca, 17° no Reino Unido, 19° na Bélgica, 21° na Hungria, 29° na Alemanha, 37° na Suíça, 43° no Japão e 61° na Escócia e nos Países Baixos. Foi também certificado com Disco de Prata no Reino Unido, Disco de Ouro na Austrália e Nova Zelândia e Disco de Platina nos Estados Unidos.

Infelizmente com a morte dos irmãos Abott, primeiro Dimebag, cruelmente assassinado em 2004 e depois Vinnie Paul, cujo coração parou de bater em 2018, as chances de uma reunião do Pantera se tornaram nulas. O leitor pode dizer que a banda se reuniu, porém, isso não é uma verdade. Trata-se de uma banda tributo, mas não pode jamais ser chamada de Pantera, pois não existe Pantera sem os dois irmãos. Hoje é dia celebrar esse baita disco e de ouvir no volume máximo. Anselmo apesar de ser um completo imbecil nazista, ajudou a eternizar um ótimo legado.

The Great Southern Trendkill – Pantera

Data de lançamento – 07/05/1996

Gravadora – East West

 

Faixas:

01 – The Great Southern Trendkill

02 – War Nerve

03 – Drag The Waters

04 – 10’s

05 – 13 Steps to Nowhere

06 – Suicide Note Pt I

07 – Suicide Note pt II

08 – Living Through Me (Hell’s Wrath)

09 – Floods

10 – Sanblasted Skin

11 – (Reprise) Undergrond in America

 

Formação:

Phil Anselmo – vocais

Dimebag Darrell – guitarra

Rex Brown – baixo

Vinnie Paul – bateria

 

Participações especiais:

Seth Putnam – vocais adicionais em “The Great Southern Trendkill“, “War Nerve“, “13 Steps to Nowhere” e “Suicide Note Pt. II

Ross Karpelman – teclados em “Suicide Note Pt. I” e ” Living Through me (Hell’s Wrath)