Memory Remains

Memory Remains: Pantera – 30 anos de “Far Beyond Driven” e a chegada ao topo da Billboard

22 de março de 2024

Em 1994, o mundo era muito diferente deste que vivemos atualmente: não tínhamos smartphones, as notícias demoravam um pouco mais para serem divulgadas, o Brasil era apenas tricampeão mundial e a nossa moeda estava passando pelas mudanças que dariam origem ao que conhecemos hoje como Real. Sob este contexto histórico, em 22 de março de 1994, portanto, há 30 anos, o Pantera lançava “Far Beyond Driven“, que é tema do nosso Memory Remains desta sexta-feira.

O quarteto seguia bem, juntamente com o Sepultura, segurando a onda do Heavy Metal, uma vez que as bandas dos anos oitenta, mudaram sua sonoridade e passaram por uma profunda crise de criatividade. O quarteto texano foi na contramão dos grandes nomes, pois evoluiu seu som que começou como um Glam Metal, e com a chegada de Phil Anselmo, foram deixando mais pesado, até que o ápice se deu aqui no nosso aniversariante do dia, que na prática, é o sétimo álbum de estúdio lançado por eles, mas muitos não consideram a fase Glam e entendem “Far Beyond Driven” como o quarto play.

Para “Far Beyond Driven“, eles baixaram ainda mais a afinação, fazendo com que o peso e a brutalidade fossem ainda maiores. E novamente sob a batuta do produtor Terry Date e todos rumaram para Nashville, onde a bolacha foi gravada. O Pantera bem que tentou causar polêmica com a capa: a original, trazia uma imagem de uma broca enterrada no ânus de uma pessoa, mas a gravadora barrou, temendo que isso fosse prejudicar as vendas, principalmente em lojas como o Walmart e a Target. Lembrando que se hoje a gente vive essa onda conservadora no Brasil, onde até metaleiro trevoso vota em candidato fascista apoiado por pastores sem qualquer escrúpulo, lá nos Estados Unidos, o conservadorismo já acontece desde sempre. Então eles trocaram a imagem, mantiveram a broca, desta vez enterrada em um crânio. Alguns poucos afortunados possuem o disco com a capa original e a quem interessar possa, no Mercado Livre, existe o vinil disponível, mas não sai por menos de R$228.

Na época das gravações, Phil Anselmo sofria com dores crônicas, provenientes de hérnia de disco. Isso fez com que ele abusasse da perigosa combinação de analgésicos, relaxantes musculares, álcool e drogas, em especial, heroína, que ele dizia ser para aliviar a dor. A letra de “I’m Broken” trata dessas dores. Sobre a música “5 Minutes Alone“, Vinnie Paul disse certa vez que era sobre um sujeito que estava na plateia, enquanto o Pantera abria para o Megadeth e esse homem não parava de perturbar. Daí a banda parou a apresentação e dez pessoas deram-lhe uma surra, o que fez com que o pai deste ser ligasse para o empresário do Pantera, dizendo que queria apenas 5 minutos com Phil Anselmo, para “quebrar a cara dele”. São duas das músicas mais clássicas da história não só do Pantera, mas do Heavy Metal da década de 1990 em si.

Na parte lírica, o álbum é repleto de temas variados. “25 Years“, por exemplo, fala da relação de Phil Anselmo com seu pai. Ele conta que certa vez se desentendeu com seu progenitor e acabou escrevendo, segundo ele, “uma linda canção”. “Becoming“, fala sobre o próprio Pantera ter chegado no ápice, enquanto as grandes bandas de Heavy Metal estavam em crise, lançando álbuns com canções mais comerciais e tirando o peso das músicas de maneira vertiginosa. “Good Friends and a Bottle of Pills” é uma letra mais pessoal, onde Anselmo conta sobre os erros cometidos por ele e que foi inspirada em Nick Cave. E “Slaughtred” é uma crítica às religiões de uma maneira geral. Anselmo pode até ter vacilado feio quando mostrou seu flerte com o nazismo, mas aqui nesta música, ele acertou em cheio.

Bolacha rolando, temos doze músicas, sendo onze delas autorais, cada uma mais poderosa que a outra e no final, um cover que parece destoar de tudo: eles simplesmente escolheram fechar o álbum com “Planet Caravan“, do Black Sabbath. E ficou legal, depois de mais de 50 minutos de muito esporro no ouvido, uma canção agradável para fechar com chave de ouro. É simplesmente impossível escolher uma só música, o álbum é fantástico. As quatro primeiras canções são de levantar qualquer defunto do caixão: “Strenght Beyond Strength“, “Becoming“, “5 Minutes Alone” e “I’m Broken” estão sem sombras de dúvidas, entre os melhores momentos do Pantera. Mas também não podemos esquecer de outras boas canções como “Slaughtered” e “Throes of Rejection“. É um álbum simplesmente perfeito. A edição japonesa trouxe uma faixa bônus, um cover da música “The Badge“, do Poison Idea. A música, entrou depois na trilha sonora do filme “O Corvo“.

“Far Beyond Driven” foi um estouro comercial. Sucesso de crítica e público, a banda realizou uma extensa campanha de divulgação, viajando por 12 cidades em um espaço de cinco dias, visitando as lojas e dando autógrafos, tudo isso com a MTV documentando cada passo de Phil Anselmo, Dimebag Darrell, Vinnie Paul e Rex Brown. O álbum atingiu o topo das paradas na “Billboard 200” e também na Austrália. Ficou em 2° na Suécia, 3° no Reino Unido e na Finlândia, 6° na Europa, 8° na Escócia e na Áustria, 14° na Noruega e Nova Zelândia, 18° no Canadá, 21° na Suíça, 47° nos Países Baixos e em 2014, quando completou vinte anos, ele alcançou a 7ª posição nos charts húngaros. Foi certificado com Disco de Ouro no Japão e no Reino Unido e Platina nos Estados Unidos, Austrália e Canadá. Na primeira semana, o álbum vendeu 185 mil cópias somente nos Estados Unidos.

No ano de 2011, o álbum ficou em 6° lugar em uma lista compilada pela revista Guitar World, que classificava os dez melhores álbuns daquele ano de 1994. A mesma Guitar World compilou outra lista, que trazia os 50 discos mais icônicos que definiram o ano de 1994 e “Far Beyond Driven” aparece em 20°. Em 2014, para celebrar os vinte anos, o álbum foi relançado trazendo um CD duplo. O primeiro disco é o próprio “Far Beyond Driven” remasterizado, enquanto que o segundo disco é a apresentação da banda no Monsters of Rock de 1994, o mesmo que o Sepultura também se apresentou.

O Pantera diversos shows com o Sepultura nesta turnê, o que fez com que as duas bandas criassem vínculos muito fortes. Na turnê de “Far Beyond Driven” o Pantera desembarcou pela segunda vez em solo brasileiro, em 1995, quando se apresentou em São Paulo e no Rio de Janeiro, apresentação essa que ficou marcada por um corte no braço se Phil Anselmo, vindo de uma garrafa arremessada da plateia.

O tempo passou, a banda acabou, Dimebag foi assassinado de uma forma cruel, em 2004, dez anos depois do lançamento desta obra de arte. Em 2018, Vinnie Paul nos deixou, sem nunca perdoar Phil Anselmo por este não ter dado a devida prioridade ao Pantera, que tinha tudo para ser o novo Metallica. “Far Beyond Driven” deixou o quarteto gigante como eles mereciam, mas não souberam lidar com a pressão. Hoje Anselmo leva a cabo essa homenagem à banda, que ele insiste em chamar de Pantera. E todos nós sabemos que sem os irmãos Abott, não existe Pantera. O importante é que o álbum envelhece bem e merece todos os confetes.