Memory Remains

Memory Remains: Pantera – 34 anos de “Cowboys From Hell”, a pedra fundamental do Groove Metal

24 de julho de 2024


Há 34 anos, em 24 de julho do já longínquo ano de 1990, o Pantera lançava “Cowboys From Hell“. Na prática, esse é o quinto álbum da discografia da banda. Entretanto, os irmãos Abott e 99,9% dos fãs consideram como sendo o primeiro álbum da banda. Em meio a essa eterna discussão, o clássico álbum é tema do nosso Memory Remains desta quarta-feira.

Se no álbum anterior, “Power Metal”, que marcava a estreia de Phil Anselmo como vocalista, as coisas davam sinal de melhoria na sonoridade da banda, aqui, as coisas começam a tomar proporções maiores, que com os álbuns “Vulgar Display Of Power” (1992) e “Far Beyond Driven” (1994), estes dois melhores em minha modesta opinião e que faria a banda se tornar gigante nos anos 1990 . Tudo começou aqui e por isso o álbum faz jus à celebração por parte dos headbangers na presente data.

Já era notória a mudança no direcionamento musical que o quarteto do Texas estava galgando, o que mostrou ser a atitude mais acertada. Os primeiros álbuns da banda eram mais do mesmo; eles soavam como cópia mal feitas das mesmas bandas contemporâneas, fazendo aquele Glam completamente sem graça e sendo somente mais uma em meio a multidão. O talento dos músicos era visível, mas faltava aquele algo a mais. “Power Metal“, o antecessor já mostrava uma mudança, mas no aniversariante do dia era o divisor de águas e faria com que o Pantera se tornasse o fenômeno que veio a se confirmar já naqueles longínquos (e saudosos) anos 1990.

A banda entrou no “Pantego Sound Studio“, no Texas em fevereiro de 1990, de onde sairia somente em abril, com produção de Terry Date (e com muita ajuda de Vinnie Paul), que produziria todos os álbuns da fase áurea do Pantera nos anos 90 e o resultado que alcançaram foi fantástico, dando início a uma das carreiras mais sólidas da primeira metade dos anos 1990, empatada, cabeça a cabeça com o Sepultura.

Mas antes de virar clássico, “Cowboys From Hell” foi rejeitado por diversas gravadoras. Ao que consta, foram ao todo 28 respostas negativas que a banda recebeu. Eles começaram os trabalhos de composição ainda em 1988. O executivo da Atco Records, Mark Ross voou até o Texas para assistir a uma apresentação ao vivo da banda, que simplesmente fez com que ele se convencesse de que deveria assinar com o quarteto. Aspas para ele:

“No final da primeira música, meu queixo estava no chão. O poder sonoro de tudo isso — a atitude e a musicalidade — me surpreendeu. Basicamente, você tinha que ser um idiota para não achar que eles são incríveis. Quero dizer, como você pode ver esses caras e não pensar, ‘Puta merda!'”

Contrato assinado, a banda esperou ainda pelo menos mais uns seis meses antes de começar de fato a gravar o que a gente tem a oportunidade de ouvir em “Cowboys From Hell“. O Pantera queria Max Norman como produtor. Estava quase tudo certo para que ele fosse o produtor, mas surgiu a possibilidade de trabalhar no álbum de estreia do Lynch Mob e Norman declinou, sendo substituído por Terry Date, que passou a trabalhar em todos os álbuns do Pantera a partir deste.

Onze músicas foram gravadas e apenas uma, intitulada “The Will to Survive“, ficou de fora. As gravações foram registradas na seguinte ordem: primeiro, Vinnie Paul fez suas partes de bateria, depois Dimebag gravou as guitarras; na sequência Rex Brown fez o baixo, acompanhando a reprodução das guitarras de Dime, e por fim, Anselmo colocou os vocais.

Para a capa, eles fizeram uma montagem utilizando uma foto de um salão de faroeste, datada de 1910. Na imagem, podemos perceber Dimebag no centro tocando guitarra, Vinnie Paul está à direita, contando dinheiro, Rex encostado no balcão e Phil Anselmo pulando no ar, à esquerda do baixista. O vocalista disse que pulou de um banco bem alto e que deu bastante trabalho para que o fotógrafo conseguisse captar a imagem que está colada na capa. Foram aproximadamente dez tomadas de fotografias só com ele.

Bolacha rolando, temos 57 minutos e dez canções matadoras. Grandes clássicos do Metal da década de 1990 estão aqui como a faixa-título, “Primal Concrete Sledge“, “Heresy“, “Domination” e também a balada “Cemetery Gates“. A primeira metade do play é de levantar defunto, mas a parte final também não é de se jogar fora. As influências do Pantera agora passavam a ser Judas Priest, ZZ Top, Metallica, Anthrax, Slayer, Megadeth, Overkill, Testament, Voivod, entre outras. É apontado como o marco zero do Groove Metal, ainda que essa vertente esteja mais presente a partir de “Vulgar Display of Power“, o sucessor deste.

Apesar de tudo ter sido parecido perfeito, Phil Anselmo deu à revista Kerrang! Em 2010 a seguinte declaração:

“Eu odiei estar no estúdio. O Pantera era uma banda poderosa ao vivo e foi um desafio tirar o som da guitarra de Dimebag e colocar num disco, (além de) ser perfeito, preciso e cantar todas as linhas de novo e de novo. Eu odiei aquela merda”.

Se do jeito que foi concebido e todos nós temos uma devoção fora do comum por esse álbum e Anselmo achou tudo tão ruim, imaginemos como seria ainda melhor se tudo tivesse acontecido da forma como ele gostaria que tivesse sido. Enfim, essa análise vai ficar apenas no nosso imaginário.

Enfim, “Cowboys From Hell” foi um divisor de águas na carreira do Pantera, alcançou a posição de número 27 da “Billboard” em 1992; em 2006, figurou na posição de número 11 em um ranking dos 100 maiores álbuns com guitarras pesadas de todos os tempos, pela revista “Guitar World”. A “IGN “(um portal de entretenimento que tem como foco videogames) elegeu o álbum como o décimo nono álbum de metal mais influente. E a banda ainda foi homenageada pelos cariocas do Gangrena Gasosa com uma “paródia”: os caras simplesmente batizaram um ep com o nome “Cambonos From Hell”. A homenagem da banda brasileira não é para se orgulhar tanto, devido ao acontecimento que envolveu a ex-percussionista da banda, que infelizmente, muitos já se esqueceram.

O álbum recebeu algumas certificações: foi Disco de Ouro na Argentina, Japão, Austrália e Reino Unido, e também recebeu Duplo Platina nos Estados Unidos. A banda produziu três videoclipes para ajudar na divulgação: “Cowboys From Hell“, “Psycho Holiday” e “Cemetery Gates“, o que ajudou nas vendas, e consequentemente, nas certificações que o álbum conquistou, merecidamente.

O Pantera saiu em turnê, que durou quase dois anos e no verão do hemisfério norte de 1990 a banda começou fazendo shows de abertura para o Exodus e Suicidal Tendencies. Em 1991, o Pantera abriu shows do Judas Priest e Annihilator pela Europa. No mesmo ano, tocaram no Monsters of Rock da Rússia, em uma ocasião histórica, onde juntamente com o Metallica, AC/DC, Mötley Crue e The Black Crowes, eles puderam tocar a música ocidental em território russo, depois do fim da guerra fria, para uma plateia de 500 mil pessoas. Abriram também para outras bandas, tais como Skid Row, Sepultura, Fates Warning, Prong, Morbid Angel, White Zombie e Sanctuary. E ainda fizeram uma turnê pela América do Norte junto com a banda Wratchild America.

Um disco absurdo de maravilhoso e que abriu caminho para as obras-primas da carreira desta banda. Não fossem as mancadas de Phil Anselmo, a banda teria tido uma vida mais longa, Provavelmente Dimebag não teria sido assassinado e hoje não estaríamos testemunhando essa vergonha que é o próprio Anselmo e Rex Brown se apossando do nome Pantera para fazer turnês, com todo respeito aos excelentes Zakk Wylde e Charlie Benante, mas, sem os irmãos Abott, não podemos chamar de Pantera, no máximo, é um tributo. “Cowboys From Hell” influenciou uma geração e merece a celebração eterna.

Cowboys From Hell – Pantera

Data de lançamento – 24/07/1990

Gravadora – Atco

 

Faixas:

01 – Cowboys From Hell

02 – Primal Concrete Sledge

03 – Psycho Holiday 

04 – Heresy

05 – Cemetery Gates

06 – Domination

07 – Shattered

08 – Clash With Reality

09 – Medicine Man

10 – Message in Blood

11 – The Sleep

12 – The Art of Shredding

 

Formação:

Phil Anselmo – vocal

Dimebag Darrell – guitarra

Rex Brown – baixo

Vinnie Paul – bateria