Mas Wood morreu de overdose em 1990 e o projeto teve de ser abortado, embora tenha lançado um álbum póstumo, chamado “Apple”. Porém, a dupla persistiu e por intermédio do baterista Jack Irons, que havia tocado no RED HOT CHILLI PEPPERS e mais tarde integraria o próprio PEARL JAM, encaminhou uma demo tape com linhas instrumentais para que seu amigo, um certo Edward Louis Severson III, que mais tarde seria conhecido como Eddie Vedder (o sobrenome ele passaria a utilizar e que era de sua mãe) e que vivia em San Diego. O trabalho dele seria escrever letras, gravar em cima das músicas compostas pelo agora trio Gossard. Ament e Mike McCreaddy e mandar a fita de volta à dupla. Irons havia sido convidado, porém, declinou.
Vedder, que vivia em San Diego e havia sido vocalista de bandas como a BAD RADIO, trabalhava na época como segurança, mas já havia sido frentista e até mesmo coveiro, recebeu a demo de seu amigo Jack Irons, ex-baterista do RED HOT CHILLI PEPPERS e que viria a tocar com o PEARL JAM anos depois e passou a trabalhar em cima dos instrumentais que tinha à sua disposição.
Reza a lenda que Vedder, surfista, foi pegar onda e teria saído de lá com três letras compostas: “Alive”, “Once” e “Footsteps”. Apenas esta última nunca fora lançada em um álbum oficial do PEARL JAM. Os integrantes gostaram muito do que fora gravado pelo vocalista e logo ele foi convidado a se mudar para Seattle e assim se juntar aos novos parceiros.
A banda seria chamada de Mookie Baylock, um jogador de basquete, mas ainda bem que desistiram da ideia. Porém, para o álbum de estreia, fora escolhido o número da camisa que este atleta utilizava. Antes, os músicos se juntaram ao saudoso Chris Cornell e Matt Cameron, que se tornaria baterista do PEARL JAM até os dias atuais, e gravaram um disco tributo a Andrew Wood. O projeto se chamou TEMPLE OF THE DOG e teve um relativo sucesso.
Com o nome da banda alterado (o PEARL é uma homenagem a avó de Vedder e o JAM a banda adotou após assistir a uma jam session comandada por Neil Young, grande influência da banda), nome do disco definido e um baterista escolhido para gravar o álbum, Dave Krusen, era a hora de a banda adentrar ao “London Bridge Studio”, na cidade de Seattle, sob a batuta de Rick Parshar na produção. E entre os dias 27 de março e 26 de abril de 1991, “Ten” fora gravado.
Em 54 minutos o que temos aqui é um belo disco de Rock, com peso, melodia e melancolia bem dosados. Em onze músicas, a banda chegaria para fortalecer um movimento que estava entrando em evidência na cidade de Seattle e que movimentaria o mundo: o Grunge. E curiosamente, esse movimento logo seria esquecido e dentre as bandas mais notórias do estilo, somente o PEARL JAM e o ALICE IN CHAINS seguem em atividade atualmente.
Temos a abertura com a belíssima faixa “Once”, em que temos fortes influências de Hard Rock e uma bateria bem swingada no refrão. Era a rebeldia em forma de música. “Even Flow” nasceu clássica e segue não só clássica, mas clássica e obrigatória nos shows da banda até hoje. É outra música com boas partes de guitarra, swing e até mesmo funkeada. Uma bela mescla e uma bela música.
Paul Bergen
Imagem rara do baterista que gravou “Ten” e logo saiu da banda. A foto foi retirada do site oficial de Dave Krusen.
“Alive” segue clássica até hoje, assim como a faixa anterior, é mais um rock alternativo de muito boa qualidade. Eddie Vedder fez um ótimo trabalho aqui. “Why Go” é a que menos me agrada neste disco, mas ela tem seu valor, ela é bem pesada e tem o clima de rebeldia.
“Black” é outro clássico deste disco que deu os maiores clássicos da história da banda: uma balada um tanto quanto melancólica, mas ela é linda desse jeito. Suas harmonias são perfeitas e ganha peso e densidade na sua parte final.
“Jeremy” é outra das famosas deste disco e conta a história real de um garoto que sofria de dislexia que matou alguns de seus colegas de classe e depois se matou. Recentemente alguns colegas do menino se colocaram contra a banda por ter escrito essa música. Mas voltando a parte musical ela é um belo Hard Rock e os caras conseguiram traduzir bem a história, dando à música o drama que ela precisa.
A segunda parte do disco já não traz músicas tão fortes, se caracterizando pelo lado mais deprê. “Oceans” é uma balada bem bonitinha, com um ótimo trabalho de Eddie Vedder. “Porch” tem uma pegada mais punk, bem legal, com bons riffs de guitarra, enquanto que “Garden” é a mais deprê. Não chega a ser ruim, mas é uma amostra do que o estilo denominado Grunge se caracterizaria.
“Deep” é bem pesada, com fortes influências de blues e com solos bem trabalhados. É bom ressaltar que o PEARL JAM nunca foi uma banda necessariamente virtuosa, eles sempre fizeram o feijão-com-arroz e o resultado, pelo menos nos seus três primeiros álbuns, foram muito bons. O final se dá com “Release” que é mais lenta, densa e… bingo! Deprê! mas há boas harmonias aqui.
E assim temos um álbum que num primeiro momento, não fez tanto sucesso, mas que um ano depois, era um estouro. “Ten” chegou ao segundo lugar da “Billboard 200” e vendeu mais de 10 milhões de cópias somente nos EUA. A revista “Kerrang” elegeu o disco como o 11º em uma lista dos 100 discos que você deve ouvir antes de morrer; já a “Spin”, elegeu o disco como o 33º em uma lista dos 90 melhores álbuns dos anos 90; a “Rolling Stone” estadunidense elegeu “Ten” como o 207º entre os 500 melhores discos de todos os tempos, enquanto que a versão alemã da mesma revista o classificou em 20º na mesma lista. A “Guitar World” colocou o disco entre os 15 melhores álbuns de guitarra de todos os tempos.
Minha relação com este álbum… bem, como o caro leitor pode conferir na minha bio, abaixo desta publicação, o PEARL JAM foi a minha “teenage band”. Eu tenho um carinho muito grande por esse disco. Já tive a fita cassete original dele e hoje o CD está em um lugar bem guardado na minha casa. E de vez em quando eu escuto a versão em MP3 no meu smartphone. Eu ainda acho o seu sucessor melhor, o “VS”. mas é uma questão de ter sido esse o primeiro disco que eu escutei da banda e o primeiro que comprei, contudo, não posso deixar de reconhecer a importância do debut dos caras, e que fez a banda ser o que hoje ela é: a banda mais bem sucedida comercialmente dentre as bandas do movimento Grunge.
Hoje o PEARL JAM mudou radicalmente o seu som e eu já não me interesso tanto pelos seus discos mais recentes, ainda que eles estejam cumprindo com sucesso o discurso no que tange as preocupações com o meio ambiente e as questões sociais, o maior exemplo disso é o mais recente álbum, “Gigaton”.
Vez ou outra ainda assisto a uma apresentação dos caras, somente por puro saudosismo. Escutar não só o homenageado de hoje, mas os seus dois sucessores, me traz boas lembranças da minha vida, como a 7ª série do ensino fundamental, a primeira namorada, a época em que não tinha as responsabilidades que tenho hoje, como adultos que somos.
É pela qualidade sonora deste disco, aliado ao saudosismo deste redator que vos escreve, que este disco deve ser sim, lembrado. Você pode até não gostar da banda, mas, reconhecer que eles foram importantes na cena musical, completamente sem muito a oferecer, na primeira metade dos anos 1990.
Pearl Jam – Ten
Data de lançamento: 27 de Agosto de 1991
Gravadora: Epic Records
Faixas:
01 – Once
02 – Even Flow
03 – Alive
04 – Why Go
05 – Black
06 – Jeremy
07 – Oceans
08 – Porch
09 – Garden
10 – Deep
11 – Release
Formação:
Eddie Vedder – Vocal
Stone Gossard – Guitarra
Jeff Ament – Baixo
Mike McCreaddy – Guitarra
Dave Krusen – Bateria