Há exatos 30 anos, em 22 de novembro de 1994, o Pearl Jam, a mais sucedida das bandas de Seattle e que conseguiu fazer sucesso mesmo com todas as tentativas fracassadas de auto sabotagem, lançava “Vitalogy”, o terceiro álbum de sua vasta discografia e que é assunto nosso por aqui nesta sexta-feira.
Importante ressaltar que o registro tem duas datas de lançamento: em 22 de novembro, fora lançada a versão em vinil; E em 06 de dezembro, as versões em CD e fita cassete. Então nos atentaremos à primeira versão lançada. E aqui, as músicas do lado A são de excelente qualidade, enquanto que o lado B tem uma pegada mais experimental. No primeiro momento o álbum se chamaria “Life“, sendo depois trocado para o título pelo qual é conhecido. Eddie Vedder criou todo o conceito da capa e do encarte, que tem trechos de um livro de medicina, adquirido pelo vocalista em um sebo.
Apesar do sucesso e da ascensão, as coisas não andavam muito bem para a banda: eles deixaram de produzir videoclipes para a MTV, também não concediam mais entrevistas, entrou em uma quebra de braços com a Ticketmaster, empresa que domina as vendas de ingressos em boa parte das casas de shows nos Estados Unidos. A situação entre a banda não era boa, tanto que o baterista Dave Abbruzzese fora demitido durante as sessões por “não lidar bem com o sucesso”, ainda que os membros nunca tenham explicado o que significa esse “não lidar bem com o sucesso”. Há relatos, não confirmados de que Abbruzzese atrasava às sessões de gravação e que por muitas vezes aparecia armado. E os membros do Pearl Jam não são entusiastas de armamentistas, vide a letra da música “Glorified G“, do álbum anterior, “VS.”.
Talvez eles não estivessem preparados para o “boom” que a sua música provocaria e no sucesso absoluto que eles alcançariam, tanto de vendas, como de apresentações e os clipes veiculados à exaustão. E isso, influiu no resultado final de “Vitalogy”. O sucesso incomodava absurdamente a banda, mas de nada adiantou. O Pearl Jam só crescia ainda mais, mesmo com a reclusão.
Eddie Vedder, que era o letrista principal, resolveu tirar da dupla Stone Gossard e Jeff Ament a exclusividade das composições. Ele trouxe boas ideias, mas também tem coisa que poderia não ter entrado. Vedder assumiu o controle de quase tudo, o encarte do disco ele reproduziu de um livro de medicina que fora comprado por ele em um sebo, além também de ter passado a tocar guitarra a partir deste momento. Anos mais tarde foi revelado que esse controle que Eddie Vedder decidiu tomar sobre a banda quase acabou com a mesma. Stone Gossard pensou em sair da banda e Mike McCreaddy aproveitou para entrar em uma clínica de reabilitação. Seu vício em drogas e álcool estava no ápice. Jack Irons entrou na banda já na parte final da gravação, e na prática ele gravou somente a faixa derradeira, “Hey, Foxynophandlemama, That’s Me (Stupid Mop)“. A faixa “Satan’s Bed” foi gravada pelo técnico de bateria de Dave Abbruzzese, Jimmy Shoaf. A razão era que o então titular da bateria estava em um procedimento cirúrgico para remoção de suas amígdalas. Ou seja, a sessão em estúdio era uma bagunça pura e tinha tudo para dar errado.
Apenas um mês depois do lançamento de “VS“, a banda começou a intercalar shows e sessões de gravações. Isso perdurou entre novembro de 1993 e outubro de 1994. Eles se reuniram em 4 estúdios: Bad Animals, em Seattle, Southern Tracks e Doppler Studios, ambos em Atlanta, além do Kingsway, em New Jersey. O produtor Brendan O’ Brien teve muito trabalho para que “Vitalogy” fosse concluído. Algumas fontes dizem que o álbum ficou pronto ainda no início de 1994, porém, a Epic atrasou o lançamento propositalmente.
As letras de “Vitalogy” tratam deste período em que a banda, sobretudo Eddie Vedder encarava a pressão da fama x privacidade. Letras como “Not for You“, “Pry, to“, “Bugs“, “Immortallity” (que à época foi cogitada como uma dedicatória à Kurt Cobain, fato que foi desmentido por Eddie) são as que mais tratam deste tema. Enquanto que “Nothimgman” e “Better Man” falam sobre relacionamentos, sendo que esta última pertencia a antiga banda de Eddie Vedder, a Bad Radio e foi excluída do álbum anterior por ser considerada comercial demais em relação as outras. Depois que fez as pazes com a imprensa, Eddie Vedder falou sobre os sentimentos à época que escreveu as letras do nosso aniversariante. Aspas para ele: :
“Sou totalmente vulnerável. Sou mole demais para todo esse negócio, toda essa viagem. Não tenho nenhuma casca. Há uma contradição aí, porque provavelmente é por isso que posso escrever músicas que significam algo para alguém e expressar algumas dessas coisas que outras pessoas não podem necessariamente expressar.”
O aniversariante do dia é composto por 14 canções, uma variedade musical maior do que as encontradas nos dois álbuns anteriores. Com uma ênfase maior ao Punk Rock, como podemos perceber nas ótimas canções “Spin the Black Circle” e “Whipping“, baladas como “Nothimgman” e “Better Man” (esta já havia sido deixada de lado no álbum anterior); o Hard Rock também se encontra presente em canções como “Not for You” e “Corduroy“, além dos flertes com o Progressivo, como em “Last Exit” e “Immortallity“. Os improvisos dão as caras em canções como a engraçadíssima “Pry, to” e em “Bugs“, onde Eddie Vedder canta e toca um acordeon comprado em um brechó. Esquitices como as músicas “Aye Devanita” e “Hey, Foxynophandlemama, That’s Me“, esta foi criada usando gravações em loop de pacientes reais de um hospital psiquiátrico.
Outras duas canções chegaram a ser cogitadas para entrarem no álbum; são elas “Hard to Imagine” e “Out of my Mind“. A primeira, já havia sido gravada durante as sessões de “VS.”, e de acordo com Stone Gossard, elas foram descartadas do álbum porque não combinavam com as demais canções escritas. Enfim, um bom álbum, que encerrou a fase áurea e colocou a banda em um período obscuro e que gerou uma crise de criatividade, ainda que eles tenham lançado um bom disco como banda de apoio de Neil Young. Mas depois disso, a banda até lançou álbuns razoáveis. Nenhum dos que vieram depois chegaram perto dos álbuns da chamada “santíssima trindade” do Pearl Jam.
A banda fez poucos shows nos Estados Unidos, então a turnê foi concentrada em shows pela Ásia e Oceania. Dos poucos shows nos Estados Unidos, um acontecimento inesperado. Em junho de 1995, o Pearl Jam iria tocar em San Francisco, porém, Eddie Vedder sofreu uma intoxicação alimentar e por conta disso, acabou sendo substituído por Neil Young, nascendo aí a parceria que rendeu o álbum “Mirrorball“, citado no parágrafo acima.
O álbum vendeu mais de 5 milhões de cópias, mesmo com a banda se isolando com o boicote à Ticketmaster. Foi certificado com Disco de Ouro na Holanda, Polônia, Espanha e Reino Unido; Platina na Nova Zelândia, três vezes Platina na Austrália, cinco vezes Platina no Canadá e seis vezes nos Estados Unidos. Só perde em número de vendas na primeira semana para seu antecessor, “VS.”. Nos charts mundo afora, alcançou o topo na “Billboard 200“, também na Austrália, Irlanda, Nova Zelândia e Suécia; 2° no Canadá, 3° na Finlândia, 4° na Dinamarca, Portugal e Reino Unido, 5° na Escócia, 7° na Áustria, Holanda e Noruega; 8° na Alemanha, 11° na Espanha, 17° na Suíça, 22° na França e 28° no Japão. “Vitalogy” foi ainda indicado ao Grammy Awards de 1996 nas categorias “Álbum do ano” e “Melhor Álbum de Rock”. Não venceu, mas mereceu muito.
O Pearl Jam segue em plena atividade, tendo lançado em 2024 o álbum “Dark Matter“, onde eles resgataram um pouco da sonoridade de seus primórdios. Durante este ano, Eddie Vedder passou por um grave problema de saúde, o que fez com que ele próprio temesse por sua vida. Mas ele já se encontra recuperado e felizmente a banda ainda toca hoje em dia, muitas músicas do nosso mais novo trintão. Hoje é dia de celebrar esse belo álbum.
Vitalogy – Pearl Jam
Data de lançamento – 22/11/1994
Gravadora – Epic
Faixas:
01 – Last Exit
02 – Spin The Black Circle
03 – Not For You
04 – Tremor Christ
05 – Nothingman
06 – Whipping
07 – Pry, to
08 – Corduroy
09 – Bugs
10 – Satan’s Bed
11 – Better Man
12 – Aye Devanita
13 – Immortallity
14 – Hey, Foxynophandlemama, That’s Me (Stupid Mop)
Formação:
Eddie Vedder – vocal/ guitarra/ acordeon
Stone Gossrad – guitarra
Jeff Ament – baixo
Mike McCreaddy – guitarra/ violão
Dave Abbruzzese – bateria (exceto em “Satan’s Bed” e “Hey, Foxynophandlemama, That’s Me (Stupid Mop)”/ baixo e tremolo em “Aye Devanita”
Jack Irons – bateria em “Hey, Foxynophandlemama, That’s Me (Stupid Mop)”
Participações especiais:
Brendan O’Brien – piano/ órgão
Jimmy Shoaf – bateria em “Satan’s Bed”