Há 44 anos, em 30 de novembro de 1979, o Pink Floyd lançava “The Wall“, o álbum de número onze da discografia desta banda que merece ser ensinada na escola, e o principal, para o fã que acha que o Rock pode se alinhar à governantes autoritários e que flertam com o fascismo. Essa obra de arte é tema do nosso último Memory Remains de novembro, essa quinta-feira, dia de TBT.
O Pink Floyd manteve-se firme na tendência de escrever álbuns conceituais, como já havia feito em seus três álbuns antecessores. E com “The Wall” não foi diferente, tendo o grandioso (e hoje desdenhado pelos que não entenderam nada do Pink Floyd) Roger Waters, à época, baixista, vocalista e principal letrista da banda se viu frustrado com seus espectadores. Se imaginou construindo um muro entre a banda e sei público e assim nasceu o álbum.
A frustração de Waters se deu quando a banda estava a fazer shows, em grandes arenas. Em um destes shows, em julho de 1977, no estádio olímpico de Montreal, no Canadá, Roger Waters ficou bastante irritado com um pequeno grupo de fãs barulhentos que estava ali perto do palco. Naquela mesma noite, ele conversou com seu amigo Bob Ezrin sobre a ideia de construir o muro que separaria a banda dos fãs e levou a ideia adiante.
O processo de composição ocorreu durante o final da turnê do álbum anterior, o não menos maravilhoso “Animals” (1977). Roger Waters criou um personagem central, chamado Pink. Inspirada nele próprio, Pink narra suas experiências que vão desde a perda do seu pai durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a sua mãe superprotetora, a ridicularização e o abuso dos seus professores (brilhantemente cantada em “Another Brick in the Wall Part II”, certamente o maior hino da banda até hoje) e o fim do seu casamento. Tudo isso é narrado através do uso da parede metafórica. É o álbum mais teatral da banda.
O processo de gravação foi bastante longo e perdurou entre os meses de abril e novembro de 1979. Diversos estúdios foram utilizados para que a obra fosse concebida. Nice, na França, Nova Iorque e Los Angeles, foram algumas das cidades onde a banda desembarcou para finalizar determinada etapa do registro. O tecladista Richard Wright foi desligado da banda durante este processo, porém, seguiu atuando como músico contratado e inclusive, acompanhou a banda durante a turnê. Assinaram a produção Bob Ezrin, David Gilmour, Roger Waters e James Guthrie.
O álbum possui duas datas de lançamentos distintas: a que estamos comemorando hoje, refere-se ao lançamento no Reino Unido e uma semana mais tarde, em 8 de dezembro de 1979, o álbum foi lançado nos Estados Unidos. O lançamento em ambos os países se deu por selos distintos: enquanto que na terra natal da banda, a responsável foi a Harvest Records, na terra do Tio Sam, foi lançado e distribuído pela major Columbia. Na época, foi lançado apenas em LP e era um duplo LP, dada a quantidade de músicas e o tempo de duração do álbum.
A capa do álbum é a mais simples dentre todos os álbuns já lançados pelo Pink Floyd. Ela apresenta um muro branco, sem nenhum texto dentro. É a primeira capa desde o álbum “The Piper at the Gates” a não ser produzida pela Hipgnosis, agência gráfica britânica. Alguns lançamentos tardios incluem o nome da banda e o título do album na capa, arte de Gerald Scarfe. Este já havia feito alguns desenhos para a turnê anterior, a mesma que gerou o sentimento de Waters em construir seu muro.
Botando a bolacha (ou as bolachas se o caro leitor estiver no vinil) para rolar, temos um álbum extremamente longo. São 81 minutos e uma aula de Rock Progressivo. Como já dito, o álbum foi lançado como LP duplo. Temos um total de 26 faixas, dentre as quais podemos destacar a segunda parte de “Another Brick in the Wall“, necessária para qualquer pessoa que esteja se iniciando neste tal de Rock and Roll. “Comfortably Numb” também é outra que entrou para o rol das músicas clássicas não só do Pink Floyd, mas do próprio Rock. “The Wall” cumpre bem a sua missão de se apresentar como uma Ópera-Rock.
O álbum foi um sucesso retumbante, de crítica e vendas. Alcançou o topo das paradas na Alemanha, Austrália, Áustria, “Billboard 200”, Noruega, Nova Zelândia, Países Baixos e Suécia, além de um 3° lugar no Reino Unido. Foi certificado com Disco de Ouro na Grécia, Platina na Argentina e Polônia, 4 vez s Platina na Alemanha, 11 vezes Platina na Austrália, 23 vezes Platina nos Estados Unidos, além de um disco de Diamante na França e Duplo Diamante no Canadá. Vendeu mais de 30 milhões de cópias no mundo inteiro, sendo que 11 milhões foram apenas nos Estados Unidos. Está entre os 30 álbuns mais vendidos da história da música e é o segundo do Pink Floyd em vendas, perdendo apenas para “The Dark Side of the Moon“, que está em 4° no geral.
Álbum lançado, era hora de botar o pé na estrada. E o Pink Floyd surpreendeu, construindo um muro de cartolina, que tinha doze metros e ia gradualmente subindo, entre a banda e a platéia, com frestas que permitia que o público visualizasse cenas de animação. A turnê começou em Los Angeles em 7 de fevereiro de 1980. Dez anos mais tarde, Roger Waters, já fora do Pink Floyd, organizou o espetáculo “The Wall Live in Berlin“, um show beneficente realizado onde era localizado o muro de Berlim, que dividia a cidade (e o mundo) entre os blocos capitalista (Estados Unidos) e socialista (União Soviética). O evento contou com participações de artistas do gabarito de Sinéad O’Connor, Brian Adams, Scorpions e Cindy Lauper.
Com o Pink Floyd inativo, nós tivemos uma última oportunidade de testemunhar o criador desta obra, Roger Waters, que em sua turnê de despedida, “This is not a Drill“, quando ele apresentou algumas das músicas presentes no aniversariante do dia. Mas hoje é dia de celebrar e comemorar mais um aniversário deste discaço que além de tudo, é uma aula de conscientização. É uma pena ver que nos dias atuais, alguns fãs tenham regredido a capacidade cognitiva e vêem não só o Pink Floyd, como Roger Waters como persona non grata, sendo que ele só nos ensinou ao longo da história que, Rock e fascismo não devem e nunca irão andar juntos. Azar de quem não compreendeu a mensagem. O disco envelhece muito bem, obrigado.
The Wall – Pink Floyd
Data de lançamento – 30/11/1979
Gravadora – Harvester/ Columbia
Faixas:
01 – In the Flesh?
02 – The Thin Ice
03 – Another Brick in the Wall Part I
04 – The Happiest Days of Our Lives
05 – Another Brick in the Wall Part II
06 – Mother
07 – Goodbye Blue Sky
08 – Empty Spaces
09 – Young Lust
10 – One of my Turns
11 – Don’t Leave me Now
12 – Another Brick in the Wall Part III
13 – Goodbye Cruel World
14 – Hey You
15 – Is There Anybody Out Here?
16 – Nobody Home
17 – Vera
18 – Bring the Boys Back Home
19 – Comfortably Numb
20 – The Show Must Go on
21 – In the Flesh
22 – Run Like Hell
23 – Waiting for the Worms
24 – Stop
25 – The Trial
26 – Outside the Wall
Formação;
Roger Waters – baixo/ vocal/ guitarra/ sintetizadores
David Gilmour – guitarra/ vocal/ baixo/ sintetizadores
Nick Mason – bateria
Richard Wright – teclado/ piano/ órgão
Participações especiais:
Bruce Johnson – backing vocal
Toni Tennille – backing vocals
Joe Chemay – backing vocals
Jon Joyce – backing vocals
Stan Farber – backing vocals
Jim Haas – backing vocals
Bob Ezrin – piano; órgão; sintetizadores; órgão; backing vocals; produtor; arranjo orquestral
James Guthrie – percussão; sintetizador; efeitos sonoros
Jeff Porcaro – bateria em “Mother”
Crianças da Islington Green School – vocais em “Another Brick in the Wall Part II”
Joe Porcaro, Blue Ocean & outros 34[90] – bateria em “Bring the Boys Back Home”
Lee Ritenour – guitarra rítmica em “One of My Turns”
Joe (Ron) di Blasi – violão em “Is There Anybody Out There?”
Fred Mandel – órgão em “In The Flesh?” e “In the Flesh”
Bobbye Hall – congas; bongos em “Run Like Hell”
Frank Marrocco – concertina em “Outside the Wall”
Larry Williams – clarinete em “Outside the Wall”
Trevor Veitch – mandolin em “Outside the Wall”
New York Orchestra – orquestra
New York Opera – coral
“Vicki & Clare” – backing vocals
Harry Waters – voz da criança em “Goodbye Blue Sky”
Chris Fitzmorris – voz masculina no telefone
Trudy Young – voz da groupie
Phil Taylor – efeitos de som