Memory Remains

Memory Remains: Rush – 35 anos de “Hold Your Fire” e o excessivo uso dos sintetizadores

Memory Remains: Rush – 35 anos de “Hold Your Fire” e o excessivo uso dos sintetizadores

8 de setembro de 2022


Em 8 de setembro de 1985, o Rush lançava “Hold Your Fire“, o álbum de número doze da riquíssima discografia do maior power-trio da história da música e que é assunto do nosso Memory Remains desta quinta-feira de TBT.

A banda havia terminado a turnê de divulgação do álbum antecessor, “Power Windows” durante o verão do hemisfério norte de 1986 e eles resolveram tirar uns meses de férias. Um ano antes do lançamento do aniversariante do dia, em setembro, Neil Peart iniciou o trabalho nas letras, ao mesmo tempo que Geddy Lee iniciava as composições utilizando seu teclado e o Macintosh e Lifeson trabalhou em algumas linhas instrumentais gravados em fita cassete.

As gravações foram iniciadas em 5 de janeiro de 1987, quando eles atravessaram o Atlântico e partiram rumo a Inglaterra e se instalaram no The Manor Studio. Por lá eles gravaram a bateria em modo analógico como gostava Neil Peart. O baixo, teclados, guitarras e vocais também foram gravados neste estúdio, mas tudo registrado diretamente em formato digital. Em 7 de fevereiro, eles foram para o Ridge Farm Studio, onde gravaram os teclados adicionais e outros ítens. Em 1° de março, eles foram para o Air Montserrat para gravar uns overdubs para as guitarras de Lifeson e ainda no mês de março, a banda retornou ao Canadá, mais precisamente ao McClear Place Studios, em Toronto, para a conclusão dos overdubs, além de gravar arranjos orquestrais para algumas músicas e as participações especiais. As gravações terminaram em 24 de abril, sob a supervisão do produtor Peter Collins.

Duas semanas depois, a banda atravessa novamente o Atlântico, desta vez tendo como destino Paris, afim de fazer a mixagem do disco, que aconteceu no William Tell Studio, no dia 7 de maio. Em julho, Geddy Lee foi até a Masterdisk, em Nova Iorque, onde masterizou o álbum juntamente com Bob Ludwig. Perdeu as contas? Eles utilizaram seis estúdios para produzir o disco de hoje.

Colocando a bolacha no play, temos a enérgica “Force Ten“, que apesar da pegada mais pop em virtude dos sintetizadores, é uma faixa bem divertida, uma das melhores dessa fase mais comercial/ eletrônica da banda. A seguir temos outro hit do Rush nos anos 1980: “Time Stand Still“, uma música com clima mais atmosférico e bem mais calma, se comparada a primeira, porém, igualmente ótima, proporcionada pelas melodias bastante agradáveis, tendo a voz de Aimee Mann ajudando nesta empreitada.

A faixa três, “Open Secrets” é dominada pelos sintetizadores e teclados, embora existam boas viradas aqui e acolá, por parte de Neil Peart. A guitarra só aparece de verdade no solo, um belo solo, diga-se de passagem. Em “Second Nature“, temos o Rush bem pop, em uma música que é bem calma, se comparada às demais. Neil Peart coloca algumas viradas que aparentemente não tem muito a ver com a canção, mas que acabam por ser as melhores inserções dentro da mesma.

Prime Mover” é a última faixa do lado A do Vinil, que infelizmente começou em alto astral, mas foi ficando morno. E essa faixa em questão trata de manter as coisas mornas por aqui. As boas linhas de baixo executadas por Geddy Lee não são suficientes para fazer o play decolar, infelizmente. “Lock and Key” mantém a proposta pop do grupo e a música é bem feita, bem tocada e bem produzida. A guitarra aparece um pouco mais por aqui e novamente temos Neil Peart dando um espetáculo com mais viradas sensacionais tiradas da cartola.

O álbum volta a crescer com duas músicas que se tornaram icônicas e obrigatórias nas apresentações da banda futuramente: a futurista “Mission“, que começa melancólica, mas que fica enorme à medida que se desenvolve, e com “Turn the Page“, onde brilha a estrela de Geddy Lee, com ótimas linhas de baixo e um teclado que dá um clima sem igual para a faixa.

A seguir, temos a música que segundo os próprios membros da banda admitiram mais tarde que foi um erro: “Tai Shan“, com elementos da música chinesa. Não vou dizer que ela é ruim, mas desnecessária. Uma música que nada tem a ver com nada que o Rush fez durante toda a carreira. “High Water” é a faixa final e se ela não empolga pela sua monotonia, é infinitivamente melhor que a faixa que a antecede. E é com esse clima agridoce que nos despedimos do álbum, que ao menos tem boas passagens de Geddy Lee no seu baixo durante esta derradeira faixa.

São 50 minutos de um álbum cheio de altos e baixos. Se está longe de estar na primeira prateleira entre os melhores álbuns da história do Rush, também não é um disco que deve ser jogado fora, pois contém algumas das músicas que ficaram eternizadas. É preciso compreender que o trio entrou na onda dos sintetizadores que diversas bandas também entraram. Na década seguinte, eles retornariam com uma sonoridade mais crua e pesada. Mas há pontos positivos como a produção que ficou excelente. O álbum recebeu críticas mistas, mas no geral foi bem recebido, afinal de contas é um álbum do Rush e como tal, no mínimo apresenta o selo de qualidade da banda.

Comercialmente, o álbum não foi tão bem quanto os anteriores. Ainda assim, o álbum alcançou a posição de número 13 na “Billboard 200“, a mais baixa posição de um disco do Rush desde “Hemispheres” (1978). O álbum alcançou a 9ª posição no Canadá e na Finlândia, 10ª no Reino Unido, 21ª na Suécia, 34ª na Alemanha, 40ª na Holanda e 67ª no Japão. Recebeu disco de prata no Reino Unido, Ouro nos Estados Unidos e Platina no Canadá. Ainda assim, bons números para um álbum que ficou um pouco abaixo que seus antecessores no quesito qualidade das composições.

Após o lançamento, a banda saiu em turnê ao redor do mundo, que não incluiu o Brasil, obviamente, eles só iriam fazer a primeira visita por estas terras no ano de 2002, e este que vos escreve esteve no estádio do Maracanã, testemunhando a apresentação que virou a gravação do CD/ DVD “Rush in Rio“. Mas voltando a turnê do aniversariante do dia, ela rendeu o disco ao vivo + VHS “A Show of Hands“, no qual entraram quatro músicas do play de hoje: “Force Ten“, “Time Stand Still“, “Mission” e “Turn the Page“. É um belo registro da banda, que algum dia iremos trazer aqui no quadro.

Enfim, hoje é dia de celebrar e exaltar não só este álbum, mas o Rush, a maior banda musical que já apareceu neste planeta e que nós tivemos a dádiva de viver na mesma geração que Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart, esses três lendas. Peart, infelizmente nos deixou no início de 2020, mas seu legado está aí e nossa obrigação é manter vivo. Esperamos que Lee e Lifeson voltem a trabalhar juntos, ainda que seja sem usar no nome Rush.

Hold Your Fire – Rush

Data de lançamento – 08/07/1985

Gravadora – Anthem

 

Faixas:

01 – Force Ten

02 – Time Stand Still

03 – Open Secrets

04 – Second Nature

05 – Prime Mover

06 – Lock and Key

07 – Mission

08 – Turn the Page

09 – Tai Shan

10 – High Water

 

Formação:

Geddy Lee – baixo/ vocal/ teclado/ sintetizadores

Alex Lifeson – guitarra/ violão

Neil Peart – bateria/ percussão

 

Participações especiais:

Aimee Mann – vocal em “Time Stand Still”/ backing vocal em “Tai Shan”, “Open Secrets” e “Prime Mover”

Andy Richards – teclados adicionais/ sintetizadores/ programação