Há 23 anos, em 20 de março de 2001, o Sepultura, que atualmente está realizando a sua turnê de despedida, lançava “Nation“, o álbum de número oito da discografia da maior banda brasileira de Heavy Metal e que é tema do nosso Memory Remains desta quarta-feira.
O ano era 2001 e o Sepultura tentava se reerguer depois da saída de Max Cavalera, em 1997, quando a banda optou por não renovar o contrato com Glória Cavalera, sua esposa e então empresária da banda. Derrick Green foi recrutado e assim eles lançaram “Against“, que se distanciou muito de tudo que o Sepultura havia gravado até então. O álbum soa hardcore em alguns momentos, e demasiadamente experimental em outros. Não fez tanto sucesso, mas mostrou que eles deveriam refazer o caminho, se não do zero, mas bem perto dele.
A banda chegou a negociar com o ex-baterista do The Police, Stewart Copeland. Em entrevista da época, Igor Cavalera, que ainda estava na banda, disse que chegaram a negociar com ele. Stewart assistiu a um show do Sepultura e a parceria não se confirmou por falta de espaço na agenda do produtor. Então eles fecharam com Steve Evetts, que já havia produzido Korzus (“KZS”), Incantation, Symphony X, Whiplash, entre outros. Em 2013, ele voltaria a produzir outro álbum do Sepultura, “The Mediator Between Head and Hands Must be The Heart“.
Diversos estúdios foram utilizados para a gravação do álbum, mas a maior parte se concentrou no Rio de Janeiro, no Ar Estúdios, o mesmo onde a banda havia gravado “Beneath The Remains“. Curiosamente, “Nation” foi o último álbum do Sepultura a ser lançado pela Roadrunner, logo, temos essa coincidência de a banda ter gravado no mesmo estúdio, o primeiro e também o último álbum pelo selo. Eles também utilizaram o Ouvir Studios, em São Paulo, além do The Magic Shop e o Coyote Studios, ambos em Nova Iorque. A faixa “Valtio“, gravada pelos finlandeses do Apocalyptica, foi gravada lá mesmo da Finlândia, no Millbrook Studio, em Helsinque e a produção desta faixa foi de Hiili Hiilesmaa.
Além da participação do pessoal do Apocalyptica, o aniversariante do dia contou com mais alguns convidados, entre eles, Jello Biafra e Jamey Jasta. E apesar de ter sido o segundo álbum com Derrick no vocal, era o primeiro em que ele participava ativamente do processo de composição. Sobre isso, Igor Cavalera falou com a Folha de São Paulo. Aspas para ele:
“Derrick entrou no Sepultura em um momento conturbado, ele não teve tempo de definir sua personalidade ao fazer o “Against”. Desta vez ele estava lá desde o zero, e a gente escreveu muita coisa pensando em realçar a parte vocal. E teve um dedo do produtor, que arrancou de dentro da garganta do Derrick a voz que a gente queria. Dá pra perceber que ele foi buscar em “Nation” sua identidade própria”.
Bolacha rolando, temos 15 faixas em 52 minutos de duração, sendo duas faixas as mais curtas de toda a carreira do Sepultura: a nervosa “Revolt” e “Human Cause“, com 56 e 57 segundos, respectivamente. “Nation” é um álbum que mostra um Sepultura ainda sem um rumo definido. Não é mais o Thrash Metal nem o Groove Metal, ainda que a sonoridade flerte com o Groove em diversos momentos. Tem um pouco de Hardcore e muito experimentalismo. Eles demorariam bastante para encontrar uma sonoridade e “Nation” certamente está entre os álbuns menos inspirados da banda. Não vamos dizer que o álbum é uma porcaria, e temos boas faixas como “Sepulnation“, “Revolt“, “Uma Cura“, “One Man Army” e “Saga“.
A relação do Sepultura com a Roadrunner não estava muito boa, tudo porque a gravadora não queria Derrick Green como o novo vocalista. O caldo azedou de vez quando a gravadora não deu o devido apoio tanto na divulgação do álbum quanto na produção do vídeo que a banda pretendia fazer, para a música “One Man Army“. E a gota d’água foi o álbum ao vivo “Under a Pale Grey Sky” foi lançado sem o aval da banda. Era um registro com Max Cavalera no vocal. Assim, o Sepultura partiu para a SPV no ano seguinte.
Apesar da boa receptividade tanto por parte da crítica quanto do público, “Nation” vendeu menos que seu antecessor, “Against“. Frequentou alguns poucos charts: 4° na categoria de álbuns independentes da “Billboard”, 9° na Polônia, 34° na Hungria e 134° na “Billboard 200“. Foi certificado com Disco de Ouro no Brasil. Em janeiro de 2001, o Sepultura se apresentou na terceira edição do Rock in Rio, que voltava a acontecer após dez anos e a banda tocou pela primeira vez a música “Sepulnation“.
O Sepultura está em seus últimos dias, realizando sua última turnê. Se vão voltar com a formação clássica, não sabemos. Se vai voltar para shows esporádicos, também não sabemos. Mas hoje é dia de celebrar o aniversário deste play, que foi parte do recomeço da jornada que a banda trilhou até hoje. E quem puder, aproveite os últimos shows do nosso maior nome da música pesada.
Nation – Sepultura
Data de lançamento – 20/03/2001
Gravadora – Roadrunner
Faixas:
01 – Sepulnation
02 – Revolt
03 – Border Wars
04 – One Man Army
05 – Vox Populi
06 – The Ways of Faith
07 – Uma Cura
08 – Who Must Die?
09 – Saga
10 – Tribe to a Nation
11 – Politricks
12 – Human Cause
13 – Reject
14 – Water
15 – Valtio
Formação:
Derrick Green – vocal/ baixo em “Water”
Andreas Kisser – guitarra/ baixo em “Water”
Igor Cavalera – bateria/ percussão
Paulo Junior – baixo
Participações especiais:
Eicca Toppinen – violoncello
Paavo Lötjönen – violoncello
Perttu Kivilaakso – violoncelo
Jello Biafra – vocal em “Politricks”
Jamey Jasta – vocal em “Human Cause”
Krztoff – programação em “Uma Cura”
Dr. Israel – vocal adicional em “Tribe to a Nation”
Dener – baixo em “Water”
Eduardo Marsola – voz
Inder J. Kohli – voz
Helmut Karbacher
Marinho Nobre – baixo adicional/ voz
Steve Evetts – percussão
Fernando P9 – percussão
Alex – percussão