Memory Remains

Memory Remains: Sepultura – 38 anos do EP “Bestial Devastation” e o início da caminhada rumo ao topo

Memory Remains: Sepultura – 38 anos do EP “Bestial Devastation” e o início da caminhada rumo ao topo

1 de dezembro de 2023


Há 38 anos, em 1 de dezembro de 1985, era lançado o play de estreia do Sepultura, a maior banda de Heavy Metal do nosso Brasil. Estamos falando de “Bestial Devastation“, que é tema do nosso Memory Remains desta sexta-feira, a primeira do mês que faz com que a gente se despeça do corrente ano.

Lançado como um split LP, do lado A, tínhamos o Overdose, banda conterrânea dos irmãos Cavalera. Eles traziam o EP chamado “Século XX“. E do lado B, nosso homenageado do dia. O Sepultura era naquele momento uma banda formada por adolescentes. E dos integrantes que gravaram aquele play, nenhum deles está mais na banda. O leitor poderá argumentar que Paulo Xisto, à época, Paulo Junior estava na banda. Sim, ele estava, mas é de conhecimento de todos que o primeiro álbum que ele de fato gravou suas partes, foi “Chaos A.D.“, que completou 30 anos recentemente e nós falamos dele.

Nos primórdios, o Sepultura fazia canções com letras em português. Mas a partir do momento em que decidiram gravar o aniversariante do dia, eles, acertadamente, tomaram a decisão de escrever em inglês, a língua universal. No entanto, nenhum dos membros tinha domínio sobre o idioma de Shakespeare. A solução foi pedir a ajuda de um amigo, Lino, que cuidou de fazer a tradução.

Outro problema era a falta de dinheiro dos integrantes. Eles não possuíam instrumentos próprios, o que fez com que eles pegassem alguns instrumentos emprestados para que pudessem gravar o álbum. Assim, em agosto de 1985, eles partiram para o JG Estúdios, na capital mineira. No estúdio, mais confusão, pois o técnico de som, que não estava acostumado com a sonoridade do Heavy Metal e sugeriu que na mixagem, o som ficasse limpo, ou seja, sem distorção alguma. Isso causou indignação nos membros e Igor Cavalera afirmou em uma entrevista que eles tiveram de levar um disco do Venom para que o rapaz escutasse e assim, pudesse compreender a proposta dos brasileiros.

O play é marcado por algumas participações: uma das lendas do Metal de Minas Gerais, Vladmir Korg, hoje no The Mist, mas que fez história pelo Chakal, participa cantando na faixa “Necromancer“, que aliás, é a primeira composição da história da banda. Um outro amigo da banda também participou, gravando o vocal na faixa “The Curse“, mas Igor Cavalera diz não se lembrar quem foi que deu a colaboração.

Uma coisa que me lembro é que um de nossos amigos veio e fez a voz da introdução (‘The Curse’) porque ele fazia aquela voz sem efeitos – ele estava meio que arrotando. Foi engraçado, então pedimos que ele viesse e fizesse isso no estúdio. Eu nem lembro o nome dele!”

Uma das composições, chamada “Antichrist” foi originalmente escrita por WagnerAntichrist“, primeiro vocalista da banda, que saiu depois de desavenças e acabou montando o Sarcófago, banda que rivalizou não só com o Sepultura, mas também com o Ratos de Porão. Max manteve a letra intacta até o ano de 1993, quando depois de uma batida policial ao ônibus da banda, na Alemanha, onde os tiras procuravam por substâncias “proibidas”. Max Cavalera, então, revoltado com a postura policial, mudou a letra para “Anticop“.

Bolacha rolando, no lado A, temos o Overdose com três canções, na época em que a banda ainda investia no Heavy Metal puro e simples. Anos mais tarde, eles iriam incorporar elementos do Groove e até mesmo as batucadas brasileiras. No lado B, tínhamos o Sepultura trazendo um Death Metal cru, tosco, rápido e com muita rispidez. Soando como Venom e Possessed, as grandes inspirações do início da banda, o Sepultura trazia letras recheadas de blasfêmia. À exceção da intro, todas as faixas mostram uma banda com um certo poderio, muito provavelmente prejudicada pela falta de dinheiro e também de recursos tecnológicos para dar uma maior qualidade à gravação. Hoje a gente vê álbuns gravados por aqui que não ficam devendo nada para as produções gringas.

O álbum gerou reações tanto positivas quanto negativas. A parte negativa ficou por parte dos fãs. Reza a lenda que os fãs do Sepultura riscavam o lado da capa que tinha o Overdose e os fãs do Overdose faziam o mesmo com o lado da capa que tinha o Sepultura. Uma rivalidade que foi alimentada por muitos, exceto pelos membros das bandas. Tal fato é comprovado pelo fato de Bozó, vocalista do Overdose, ter trabalhado como desenhista para o Sepultura.

Na década de 1990, o EP foi disponibilizado como bônus do primeiro full-lenght do Sepultura, “Morbid Visions“, lançado originalmente em 1986. Em 2023, os irmãos Cavalera regravaram ambos os plays, que foram lançados separadamente e finalmente, a tecnologia pôde mostrar o quão valioso as composições eram desde que foram originalmente criadas. Claro, há os que preferem a versão contida aqui. Hoje, a atual formação do Sepultura simplesmente rejeita este play.

Seja como for, hoje é dia de celebrar esse play, a pedra fundamental do Sepultura, escutando-o no volume máximo. Há fãs que acreditam que a essência do Sepultura estava apenas neste “Bestial Devastation” e em “Morbid Visions“. É óbvio que é um exagero, pois a partir daqui a banda iria explorar os caminhos da música pesada, evoluir e mostraria ao mundo que o Brasil é muito mais do que sol, praia, futebol e bumbum de fora (N. do R: não se trata de machismo por parte deste redator que vos escreve e sim a forma como os estrangeiros vêem o Brasil). Era o início da caminhada de um dos nomes brasileiros mais conhecidos no planeta.

Bestial Devastation – Sepultura

Data de lançamento – 01/12/1985

Gravadora – Cogumelo

 

Faixas:

01 – The Curse

02 – Bestial Devastation

03 – Antichrist

04 – Necromancer

05 – Warriors of Death

 

Formação:

Max Cavalera – guitarra/ vocal/ baixo

Igor Cavalera – bateria

Jairo Guedz – guitarra/ baixo