O Memory Remains desta quinta-feira vai tratar de um álbum épico: “Never Mind the Bollocks, Here’s the Sex Pistols“, o único full-lenght do maior nome do cenário Punk britânico e juntamente com os Ramones, a banda mais influente do estilo.
O álbum é de 1977, mas a banda foi formada em 1975, tendo o empresário Malcom McLaren como a pessoa que estava por trás dos negócios envolvendo a banda. Malcom, como se sabe, era dono de uma loja de roupas no bairro londrino de Chelsea e usou a banda, claro, em benefício próprio.
A cena Punk, que já era ativa em Nova Iorque, começava a se proliferar na Inglaterra e assim os Pistols conseguiram um contrato com a EMI. Em 1976, lançaram um single que abalaria todas as estruturas do mundo musical: “Anarchy in UK.“. Depois de uma apresentação em um canal de tv inglês, no horário das 5 da tarde, do tradicional chá, o vocalista Johnny Rotten soltou uma frase que jamais havia sido proferida em rede nacional por aquelas terras: ele mandou um sonoro fuck off (desnecessário traduzir, não é mesmo, caro leitor?).
Como resultado, os tablóides ingleses caíram em cima da banda, que passou a ter uma relação de amor e ódio para com os londrinos: o single vendeu horrores por conta disso, mas o incidente causou a expulsão da banda pela gravadora EMI. No início de 1977, uma mudança no lineup da banda veio a ser decisivo: saia Glen Matlock e entrava Sid Vicious. Vicious não sabia tocar, tanto que não registrou quase nada nesse álbum, mas seu visual e sua atitude são o que melhor podem representar o movimento Punk.
A banda consegue outra gravadora, a A & M, mas o contrato não durou muito e novamente eles foram expulsos por conta das confusões arrumadas pela banda. Porém, eles encontraram na Virgin, a gravadora perfeita: seu diretor, um jovem milionário tão excêntrico quanto a banda, bancou as polêmicas e peitou a BBC pelo veto a música “God Save the Queen“. Johnny Rotten certa vez deu uma declaração explicando a revolta da banda:
“A música precisa dar assistência a todo esse lixo (a sociedade britânica). A música tem que mostrar saídas para se vencer a estagnação. Ela tem que ser verdadeira mas também bem-humorada. E isso não é política.”
O material foi gravado no “Wessex Studios“, em Londres, durante diferentes períodos: outubro de 1976, depois entre março e junho de 1977, e finalmente, em agosto de 1977. A produção foi assinada por Chris Thomas e Bill Price. Sid Vicious gravou a faixa Bodies, mas sua performance não agradou e por isso, quem acabou gravando o baixo foi o guitarrista Steve Jones. O ex-baixista Glen Matlock é creditado por gravar o baixo em “Anarchy in UK“. Ele foi convidado a voltar para gravar o baixo, porém, exigiu receber um cachê antes de ir ao estúdio e por isso acabou não rolando sua participação. Vamos passear pelas doze faixas que compõem o aniversariante do dia.
“Holidays in the Sun” abre o play e embora se trate de uma música simples, do ponto de vista técnico, é uma música agradável. “Bodies” dá sequência e é um dos hinos do movimento Punk. O Raimundos fez um cover bem legal para essa música em seu disco “Cesta Básica“, de 1996.
“No Feelings” é uma música bem legal e aqui a gente pode perceber como essa sonoridade veio a inspirar as bandas que vieram depois, bebendo nessa fonte. “Liar” é bem executada, guardando-se as proporções do estilo e das limitações técnicas dos músicos.
Em seguida temos a clássica e escrachada “God Save the Queen“. Ela é uma das mais legais de todo o disco e o curioso que quando foi lançada, comemorava-se 25 anos da ascenção da Rainha Elisabeth II ao trono britânico, onde ela reina até os dias atuais, sendo a música um claro escracho na família real. Essa faixa ganhou versões de Foo Fighters, Anthrax e Motörhead. A sequência de clássicos continua com “Problems“, que anos mais tarde ganhou homenagem do Megadeth, que gravou uma versão para seu EP “Hidden Treasures“, no ano de 1995.
Koen Suyk/Anefo Nationaal Archief
“Seventeen” é uma música ok, que apenas serve de ponte para o maior clássico do disco e do Punk de maneira geral: “Anarchy in UK.“, que embalou toda uma geração e influenciou tantos outros. Essa é outra música que recebeu homenagem do Megadeth, no seu álbum “So Far, So Good… So What!” O Motley Crue também prestou sua homenagem a essa canção. Submission tem mais cara de Classic Rock do que Punk mesmo e é uma boa música.
Em “Pretty Vacant“, percebemos a essência do Punk londrino. New York é uma faixa, digamos, um pouco mais trabalhada, se é possível dizer isso de alguma canção do Sex Pistols. Mas ela agrada. O ato final é a faixa que presta uma “homenagem” a antiga gravadora da banda: “EMI.“, cuja letra zomba da gravadora homônima. No entender da banda, a gravadora queria lucrar com o crescimento do Punk no Reino Unido, contratando a banda para depois dispensá-los após o incidente na TV.
São 38 minutos de boa música, descompromissada com a virtuose, é bem verdade, mas o Punk está muito mais envolvido com a atitude do que com o som. E no quesito atitude, o Sex Pistols deu aula, ainda que sua passagem tenha sido bem efêmera. No Reino Unido, a ansiedade era grande em torno do lançamento do play: 125 mil cópias foram antecipadas, o que gerou um grande boom no cenário.
Houve um estresse entre a Virgin e o empresário Malcom McLaren, pois o contrato assinado entre banda e gravadora previa que o disco também seria distribuído pela Virgin nos Estados Unidos. Porém, Mclaren acabou fechando contrato com a Warner em terras estadunidenses, o que irritou o diretor da Virgin. Assim mesmo, a gravadora optou em não entrar em guerra judicial para não fazer parecer com as outras antigas gravadoras que expulsaram a banda de seu cast. O álbum acabou sendo lançado nos Estados Unidos em 11 de novembro de 1977.
Em 1985, os redatores da revista eletrônica “NME” elegeram o aniversariante do dia como o 13° melhor disco de todos os tempos. Em 1993, una nova eleição pôs o disco na 3ª posição. Em 1987, a “Rolling Stone” colocou o disco na 2ª posição dentre os melhores discos lançados nos últimos 20 anos, ficando atrás somente de “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band“, dos Beatles. O álbum era um dos 50 favoritos de Kurt Cobain, do Nirvana, banda que foi muito influenciada pelo Sex Pistols. Em 2005, no livro “Rock Hard Magazine“, “Never Mind the Bollocks, Here’s the Sex Pistols” ficou na posição de número 276 dentre os 500 melhores álbuns de Rock e Metal de todos os tempos. Por fim, a revista “Time” enumerou o play como um dos cem melhores álbuns de sempre.
A banda foi certificada com Disco de Ouro na Bélgica, Itália, Holanda e Suécia; Platina nos Estados Unidos e dupla platina no Reino Unido. Nos charts, topo no Reino Unido, 23° na Austrália e 106° na “Billboard 200“. Em 2005, o disco alcançou a 7ª posição no Reino Unido, na categoria Top 40 Vinyl Albuns.
Um disco de extrema importância, que marcou completamente uma geração. Com esse legado impressionante. Esse é “Never Mind the Bollocks, Here’s the Sex Pistols“, a pedra fundamental do Punk Rock britânico. Um disco que influenciou e ainda influencia muitos ao redor do mundo. Completando 44 anos de lançamento, segue sendo um cult do Punk Rock. Os caras até ensaiaram alguns retornos, inclusive o Brasil foi agraciado em 1997 com a presença de banda, mas nada foi tão mágico como na década de 1970.
Never Mind the Bollocks, Here’s the Sex Pistols – Sex Pistols
Data de lançamento – 28/10/1977
Gravadora – Virgin/ Warner Bros
Faixas:
01 – Holidays in the Sun
02 – Bodies
03 – No Feelings
04 – Liar
05 – God Save the Queen
06 – Problems
07 – Seventeen
08 – Anarchy in UK.
09 – Submission
10 – Pretty Vacant
11 – New York
12 – E.M.I.
Formação:
Johnny Rotten – vocal
Steve Jones – guitarra/ baixo/ backing vocal
Sid Vicious – baixo em Bodies
Glen Matlock – baixo em God Save the Queen
Paul Cook – bateria