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Memory Remains: Shaman comemora os 20 anos de “Ritual”, seu álbum de estreia e o estouro em novela da TV Globo

Memory Remains: Shaman comemora os 20 anos de “Ritual”, seu álbum de estreia e o estouro em novela da TV Globo

3 de agosto de 2022


Vinte anos se passaram desde que o imortal Andre Matos, juntamente com Luis Mariutti e o hoje Bolsominion (que coisa, não é mesmo? Dói no coração ver alguém do Rock/ Metal defender um ser asqueroso como esse dublê de presidente) Ricardo Confessori saíram em conjunto do Angra, banda que naquele momento estava no ápice de sua carreira e resolveram montar uma banda nova. Assim o Shaman lançava o seu disco de estreia, em 2 de agosto de 2002 e o nosso Memory Remains desta quarta-feira vai prestar uma homenagem a esse lindo disco, com um dia de atraso. Venha conosco.

Ritual” já havia saído no Japão em 21 de junho daquele mesmo ano, e ainda que a própria banda tenha optado por comemorar naquela data, nós estamos seguindo a data que o play foi lançado no restante do mundo.

Antes de falarmos deste disco em si, precisamos voltar um pouco no tempo, mais precisamente cinco anos antes: em 1997, logo após o término da turnê do álbum “Holy Land“, Andre Matos já não sentia o desejo de continuar no Angra. Chegou a sair da banda, mas foi convencido a retornar, gravando o álbum “Fireworks“. Mas o caldo entornou quando Luis MariuttiRicardo Confessori ficaram insatisfeitos com os rumos que o empresário do Angra estava dando à banda e os três resolveram pular fora para montar um novo projeto. Recrutaram o guitarrista Hugo, irmão de Luis e o Shaman estava formado. O nome da banda, é uma referência a uma das faixas do álbum “Holy Land“, “The Shaman“. Eles iniciaram o processo de composição e lançaram uma demo em 2001, contendo 4 músicas, das quais, 3 estariam presentes no homenageado do dia: “Time Will Come“, “For Tomorrow” e “Blind Spell“, além de uma faixa chamada “Be Free“. E entre a demo e o álbum, a banda também soltou a música “Fairy Tale” como single. A ansiedade era grande pelo vindouro álbum.

Trata-se de um álbum conceitual que trata de diversas culturas indígenas, sobretudo o xamanismo e musicalmente traz alguma semelhança com o que o próprio trio apresentou com “Holy Land“, pela mistura de ritmos e utilização de instrumentos incomuns para uma banda de Heavy Metal. Aliás, esse era o diferencial destes caras, pois não tinham apenas a intenção de fazer algo que já era produzido no velho mundo e sim mesclar os ritmos fazendo com que todos ficassem boquiabertos com a capacidade que nós brasileiros temos em dar a nossa cara ao Metal. Isso é impressionante.

O álbum foi quase que inteiramente gravado na Alemanha, à exceção das partes de percussão, gravadas no Brasil. A produção foi do parceiro de longa data de Matos, o alemão Sascha Paeth, com quem o vocalista tinha gravado pouco tempo antes o projeto Virgo, voltado ao Hard Rock. Eles permaneceram no estúdio entre os meses de janeiro e março se 2002 e depois foram ao Pathway para a mixagem e masterizacão. Vamos então destrinchar cada uma das dez faixas deste disco.

O começo se dá com a intro bem longa chamada “Ancient Winds“, executada por Miro Rosenberg, tecladista alemão com trabalhos no Avantasia, Virgo, Edguy, Kamelot, Angra, Luca Turilli, entre tantos outros. Aqui temos um clima de paz e tranquilidade nos arranjos da música que mescla batidas indígenas, flautas e teclados.

Após três minutos, o que realmente nos interessa, começa para valer e a primeira música do trio recém saído do Angra mostra que os caras vieram para arrebentar tudo. E esse é o recado da música “Here I am“, um Power Metal arrebatador, cheio de melodias. “Distant Thunder” é a faixa a seguir e é um dos destaques do álbum, uma música que viaja pelo Progressivo e tudo aqui é perfeitamente calculado: melodias, timbres dos instrumentos e a voz inconfundível de Andre Matos.

For Tomorrow” é outra faixa que se destaca e aqui temos uma influência da Word Music em uma música que vai se tornando interessante a medida que se desenvolve, com o guitarrista Hugo Mariutti é a estrela com ótimos riffs e impondo certo peso. Excelente. “Time Will Come” é a faixa número cinco e o belo piano de Andre Matos em sua intro é só uma enganação para quem pensa que a música se desenvolverá como uma balada: logo logo ela vira um Prog/Power da melhor qualidade, mostrando que naquele momento o trio estava no auge da forma e que ainda que o Angra recrutasse ótimos músicos para substituí-los, era uma perda inestimável. Certamente esta faixa está entre as minhas favoritas não só da carreira do Shaman, mas do Heavy Metal brasileiro. Destaco o bumbo duplo de Ricardo Confessori.

“Over Your Head” aposta no Prog Metal com um ótimo clima e conta com a participação do tecladista Derek Sherinian, abrilhantando ainda mais a música. Aqui Confessori se destaca novamente com suas batidas e o bumbo duplo falando bem no refrão. Agora é a vez da balada “Fairy Tale“, que fez a banda ficar conhecida em praticamente todo o território nacional pela grande massa. E isso se deu por conta da inclusão desta faixa na novela O Beijo do Vampiro, da TV Globo. Era a primeira vez que uma banda de Heavy Metal nacional figurava em uma trilha sonora das novelas da maior rede de televisão que temos no Brasil. Isso não é um feito a ser desmerecido. A música é cheia de melodias e o destaque é a performance vocal de Andre Matos. De pensar que essa música fora apresentada aos membros do Angra e fora vetada.

Blind Spell” é uma faixa mais Hard Rock em que os bons riffs de guitarra vão conduzindo a música. A faixa título traz a banda de volta ao Prog, uma música bem agradável de se ouvir e que Hugo Mariutti deu conta do recado mais uma vez com bons riffs.A faixa final, “Pride“, é carregada de uma energia cavalar. É rápida e pesada, e deixa aquele gostinho de quero mais.

Enfim, em quase uma hora de disco que passa tão rápido que nem percebemos. “Ritual” mostrava que os caras estavam bem resolvidos e que a mudança de ares só os fez bem, marcando a estreia com o pé direito de mais uma banda no cenário Metal do nosso Brasil. Um senhor disco, com certeza absoluta, o melhor lançado naquele já longínquo ano de 2002.

Ritual” vendeu mais de 500 mil cópias e proporcionou uma turnê longa que durou quase dois anos e só deu ainda mais visibilidade para a banda. Deixa também um legado sem tamanho para o Heavy Metal tupiniquim e está marcado como um dos mais importantes da história do estilo. Merece toda aclamação possível. Um álbum que envelhece bem e que merece toda nossa celebração.

O Shaman segue na ativa e embora seu mais recente disco (“Rescue“) não seja nem sombra do que os músicos apresentaram aqui neste play, ao menos eles seguem na ativa, sobreviveram a dois baques, que foram a perda do grande Andre Matos e a essa pandemia interminável. Mas eles estão aí, tocando e fazendo a alegria de todos nós.

Ritual – Shaman

Data de lançamento – 02/08/2002

Gravadora – Universal Music

 

Faixas:

01 – Ancient Winds

02 – Here I am

03 – Distant Thunder

04 – For Tomorrow

05 – Time Will Come

06 – Over Your Head

07 – Fairy Tale

08 – Blind Spell

09 – Ritual

10 – Pride

 

Formação:

Andre Matos – Vocal/ Teclado

Luis Mariutti – Baixo

Ricardo Confessori – Bateria/ Percussão

Hugo Mariutti – Guitarra

 

Participações especiais:

Tobias Sammet – vocal em “Pride

Derek Sherinian – teclado em “Over Your Head

Fabio Ribeiro – teclado em “Blind Spell

Axel Naschke – teclados adicionais/ backing vocal

Rannveig Sif Sigurardóttir – vocais femininos em “Ancient Winds” e “Fairy Tale

George Mouzayek – derbak, bandolim, percussão em “Over Your Head

Ademar Farinha – instrumentos de sopro, percussão e violão em “For Tomorrow

Claudia Lemos – instrumentos de sopro, percussão e Violão em “For Tomorrow

Anette Barryman – flautas em “Fairy Tale

Vanessa Desiderio – gaita de fole em “Time Will Come

Cristiano Bicudo – gaita de fole em “Time Will Come

Marcus Viana – violino, cordas e harpa indiana em “Ancient Winds“, “For Tomorrow” e “Over Your Head

Sascha Paeth – guitarra solo em “Pride” e violão em “For Tomorrow” e “Fairy Tale