Os próximos dias serão especiais para o Slayer, pois iremos celebrar os aniversários de dois dos três álbuns mais importantes da banda: “Reign in Blood” e “Seasons in the Abyss“. O Memory Remains deste sábado vai tratar do primeiro citado, o número três da discografia do quarteto de San Francisco, lançado há 37 anos, em 7 de outubro de 1986.
“Reign In Blood” é um disco que mudaria a vida de todos: da banda, do Thrash Metal, da sua vida, caro leitor, da vida deste redator que vos escreve, enfim… O disco mais violento, rápido, agressivo da história do Heavy Metal. Muitos colocam “Reign In Blood” e “Master of Puppets” no mesmo patamar, e de fato estão: são apenas 7 meses de diferença entre um e outro, ambos são reconhecidos não só pelos fãs, mas também pela crítica como os melhores álbuns das respectivas bandas e referências das próprias.
Se “Master Of Puppets” é mais técnico, sem abrir mão da velocidade do Thrash Metal em certos momentos, em “Reign In Blood“, Tom Araya, Kerry King, Jeff Hanneman e Dave Lombardo são mais diretões, priorizando os riffs rápidos e solos ainda mais rápidos. Bem, chega de comparações, pois hoje o homenageado é o álbum do Slayer, cujas letras sofreriam uma importante mudança: sairiam os temas satânicos e entravam temas como morte, assassinatos, anti- religião e loucura.
A banda já tinha gravado dois álbuns muito bons, mas ainda faltava o pulo do gato. Quis o destino que fosse no mágico ano de 1986, quando diversas bandas lançaram suas melhores obras, como citado no início deste texto. O aniversariante do dia foi gravado entre junho e julho de 1986, no “Hit City West Studio”, em Los Angeles e lançado pelo selo Def Jam, de propriedade do produtor Rick Rubin, que se aventurava pela primeira vez no Metal, uma vez que seu selo era mais voltado para o Rap. Mas o disco foi concebido de forma tão avassaladora que a parceria que iniciava aqui, tornou-se duradoura.
“Reign in Blood” é um álbum que nasceu clássico, o melhor da história do Thrash Metal. Ele é direto, pode ser considerado tosco se comparado com outras obras em que os músicos são mais virtuosos, mas aqui falamos em feeling, e nisso, os caras do Slayer são mestres. Os riffs matadores contidos aqui, entraram para a história como sendo um dos melhores de todos os tempos. São os 34 minutos mais devastadores e arrebatadores da vida do ouvinte. E se por ventura, você tiver sido herege ao ponto de nunca ter ouvido esse álbum, pare de ler esse texto agora, escute o play e depois volte aqui para constatar tudo o que estou afirmando sobre esse baita álbum.
Não dá para eleger a melhor faixa do play, que é impecável do início ao fim. Quem consegue mantar o pescoço inerte durante faixas matadoras como “Angel of Death‘, “Piece by Piece“, “Altar of Sacrifice“, “Jesus Saves” ou a introdução sombria e ao mesmo tempo épica da obrigatória faixa-titulo? É um dos poucos álbuns da história que não tem sequer uma música ruim. É para se ouvir no talo e programando para repetir quantas vezes forem necessárias.
Após o lançamento, o Slayer saiu em turnê juntamente com o Overkill no ano de 1987 pela Europa e depois foi banda de abertura do W.A.S.P., em alguns shows nos Estados Unidos. Durante essa tour, o baterista Dave Lombardo saiu da banda, alegou que não estava ganhando dinheiro nela e que havia acabado de se casar. Após muita insistência de Rick Rubin, que passou a lhe oferecer um salário, Lombardo retornou, Rubin foi buscar o batera em casa, o colocou dentro de seu Porsche e o deixou dentro de um estúdio, novamente reunido com seus colegas de estúdio, para um ensaio. Enquanto esteve afastado, o baterista Tony Scaglione, do Whiplash assumiu a responsa das baquetas do Slayer.
“Reign in Blood” foi amplamente elogiado por crítica e público, do underground ao mainstream. A revista “Kerrang!” o classificou na 27ª posição entre os 100 melhores álbuns de Heavy Metal; a “Metal Hammer” afirmou na época que o disco era o melhor do Heavy Metal dos últimos 20 anos; a “Spin” o colocou em 67º lugar na lista dos 100 melhores álbuns lançados entre 1985 e 2005; é um dos discos que figuram no livro “1001 Álbuns que tem de Ouvir Antes de Morrer”, do autor Robert Dimory’ om 2017.
Kerry King certa vez foi perguntado sobre a popularidade de “Reign in Blood” entre os headbangers e eis a resposta dele:
“Foi tudo uma questão de tempo; uma mudança no som. No thrash metal da altura, ainda não tinha havido uma boa produção num álbum daqueles. Foi uma série de coisas que se juntaram todas ao mesmo tempo. Penso que, musicalmente, estava à frente do seu tempo. Ninguém estava preparado para ouvir aquilo. Se Reign in Blood fosse lançado hoje, ninguém lhe dava importância. Mas naquela altura, as pessoas tinham fome por algo assim, tanto que ‘levantou voo’.”
“Reign in Blood” não teve músicas tocadas nas rádios e apesar disso, obteve boas classificações nos charts pelo mundo: 47° no Reino Unido, 94° na “Billboard 200“, sendo a primeira aparição da banda na lista mais badalada da indústria musical e 264° no Japão. Foi ainda certificado com Disco de Ouro nos Estados Unidos. A faixa “Criminally Insane” conseguiu a posição de número 64 na categoria “UK Singles Chart”, no Reino Unido. Parece pouco, mas é um feito e tanto para um disco de Metal Extremo, lançado nos anos 1980, quando estilos como o Hard Rock e o Glam Metal eram os que estavam em evidência e ocupavam posições de destaque em rádios e nas paradas musicais. Por isso também, “Reign in Blood” merece ser ainda mais exaltado.
Hoje é dia de celebrar essa obra de arte do Thrash Metal, escutando-a no volume máximo. “Reign in Blood” é um tesouro e merece ser lembrado não só no dia de hoje, mas todos os dias. O Slayer não está mais em atividade, mas deve ter seu legado preservado. Foi uma das gigantes e quem pôde vê-los ao vivo, sabia do poder letal que este quatro cavaleiros tinham.
Reign in Blood – Slayer
Data de lançamento – 07/10/1986
Gravadora – American Recordings
Faixas:
01 – Angel Of Death
02 – Piece By Piece
03 – Necrophobic
04 – Altar of Sacrifice
05 – Jesus Saves
06 – Criminally Insane
07 – Reborn
08 – Postmortem
09 – Rainning Blood
Formação:
Tom Araya – vocal/baixo
Kerry King – guitarra
Jeff Hanneman – guitarra
Dave Lombardo – bateria