Há exatos 31 anos, em 8 de outubro de 1991, o Soundgarden lançava “Badmotorfinger“, o terceiro e mais icônico álbum deste quarteto de Seattle e que é tema do nosso Memory Remains deste sábado. Vamos contar um pouco da história deste belíssimo play, venha conosco.
O álbum marca a estreia do baixista Ben Shepherd, que passou a ocupar a vaga deixada por Jason Everman, que saiu em abril de 1990. É também um dos três principais álbuns lançados no ano de 1991, pelas bandas do chamado movimento Grunge de Seattle, que começava a se expandir além da chuvosa cidade encravada no noroeste dos Estados Unidos. O Pearl Jam já havia lançado “Ten” em agosto e o Nirvana, “Nevermind“, em setembro. Ou seja, o álbum tinha “concorrentes” duríssimos.
Apesar de o termo Grunge não necessariamente significar um “estilo musical”, o Soundgarden tem uma sonoridade bem singular, com suas influências que viajam pelo Hard Rock e até mesmo pelo Stone Metal de ninguém menos que o Black Sabbath. Tanto que a banda viria a gravar pouco tempo depois uma versão para “Into the Void”, dos pais do Heavy Metal, com uma mudança na letra. Isso explica a boa aceitação que eles têm dentre os fãs de Heavy Metal.
Quanto a essa veia Metal, o guitarrista Kim Thayil disse certa vez que considera “Badmotorfinger” a versão Heavy Metal do “White Album“, dos Beatles. O saudoso frontman Chris Cornell, certa vez deu uma declaração acerca do processo de composição do aniversariante do dia. Aspas para ele:
“Acho que há músicas no novo álbum que são quase mais viáveis comercialmente porque têm aquela sensação memorável, e acho que se alguém esperava que saíssemos e fizéssemos algo mais comercial do que Louder Than Love, então estou feliz que eles ficaram surpresos.”
O estreante Ben Shepherd tinha o Soundgarden como sua banda favorita antes de fazer parte do lineup. Chris Cornell disse que Shepherd trouxe uma abordagem fresca e criativa no processo de composição. Já Kim Thayil disse que o estreante ajudou a tornar o álbum mais rápido e estranho. Ele é o compositor da faixa “Somewhere” e também ajudou com algumas outras músicas no play.
Outro fator que contribuiu para que o álbum soasse tão pesado, e, consequentemente, mais interessante, foi a afinação das guitarras em algumas músicas, como “Searching With my Good Eye Closed” e “Holy Water“, onde Chris Cornell e Kim Thayil usaram seus instrumentos afinados em si. A banda também incluiu instrumentos de sopro em algumas músicas, como trompete e saxofone. Cornell disse também que “Badmotorfinger” espelhava a energia da banda quando em cima dos palcos.
Para gravar o play, a banda se juntou novamente ao produtor Terry Date. Ele que já havia produzido “Mother Than Love“, o disco antecessor, faria seu último trabalho com o quarteto. Eles utilizaram três estúdios durante a primavera no hemisfério norte daquele ano de 1991: o Studio D e o A&M Studios, ambos na Califórnia e Bear Creek Studios, localizado em Woodinville, no estado de Washington. E saíram com essa pérola do Rock dos anos noventa.
Em relação ao conteúdo lírico, os caras trouxeram abordagens variadas, como “Holy Water“, que trata de um tema tão atual no Brasil de hoje, que é essa coisa de o fanático religioso tentar te convencer de que a religião dele deve ser a que prevalece. “New Damage” critica, ainda que de maneira sutil, o governo de direita dos Estados Unidos. O headbanger conservador (se é que isso faz algum sentido, a pessoa gostar de um estilo que sempre foi contestador e subversivo, optar por discursos retrógrados e conservadores) irá cancelar a banda, como fizeram alguns acéfalos quando descobriram que o Rage Against the Machine, por exemplo, aborda temas libertários e de cunho social em suas letras. O maior hit da banda, “Outshined” trata da autoconfiança que pode depois se tornar um desastre total.
Em 57 minutos, temos um álbum pesado, denso e em alguns momentos até mesmo sombrio, climas que a banda iria manter no seu álbum posterior, o não menos excelente “Superunknown“. Os destaques aqui são para a já citada “Outshined“, que se tornou um clássico dos anos 1990, “Rusty Cage“, “Drawing Files” e a apoteótica “Jesus Christ Pose“. “Badmotorfinger” seria lançado em 24 de setembro, mesma data de outros álbuns de extrema importância no Rock, como “Nevermind“, “Blood Sugar Sex Magik” (Red Hot Chilli Peppers). Porém, a gravadora A&M acabou por adiar o lançamento. Em um primeiro momento, o álbum foi um pouco ofuscado pelo sucesso destes dois, mas acabou tendo o seu devido reconhecimento.
“Badmotorfinger” foi muito bem recebido tanto pela crítica quanto pelo público. Buzz Osbourne, do The Melvins, afirma que este é o seu disco favorito dentre as bandas Grunge. O álbum foi indicado ao Grammy Awards de 1992, na categoria Melhor Performance Metal e ganhou no mesmo ano o Northwest Area Music Award, na categoria Melhor Álbum de Metal. Em 2006, o álbum ficou classificado em 45° em uma lista compilada pela revista Guitar World, que contempla os 100 melhores álbuns de guitarra de todos os tempos.
Nos charts, a banda figurou por diversas vezes ao longo dos anos. Em 1992, “Badmotorfinger” alcançou a 39ª posição na “Billboard 200” e no Reino Unido, 50° no Canadá e 54° na Austrália. Foi certificado com Disco de Prata no Reino Unido, Ouro na Austrália, Platina no Canadá e Nova Zelândia e duplo Platina nos Estados Unidos. Eram outros tempos, onde o público consumia música comprando discos, diferentemente de hoje quando as plataformas de streaming são uma verdadeira coqueluche e tornando as pessoas escravas da internet.
Após o lançamento, a banda caiu na estrada, onde atuou como banda de abertura para o Guns N Roses, Skid Row e Faith no More, depois tocou no Lollapalooza original, aquele que era itinerante, ao lado de Pearl Jam e Red Hot Chilli Peppers. Sobre a tour com a banda de Axl Rose e Slash, Chris Cornell disse não ter sido legal ter que subir todos os dias e tocar para um público de 40 mil pessoas que não conhecia o som da banda nem tampouco se importavam com eles. Mas certamente ajudou a dar notoriedade ao quarteto, que passou a caminhar sozinho, sendo uma das grandes da década de 1990.
Infelizmente o Soundgarden não está mais na ativa, mas hoje é dia de celebrarmos o lançamento deste disco maravilhoso e também de manter vivo o legado deixado pelo incrível Chris Cornell, que infelizmente cometeu suicídio. Vamos escutar esse disco no volume máximo, pois ele é merecedor de toda homenagem.
Badmotorfinger – Soundgarden
Data de lançamento – 08/10/1991
Gravadora – A&M
Faixas:
01 – Rusty Cage
02 – Outshined
03 – Slaves and Bulldozes
04 – Jesus Christ Pose
05 – Face Pollution
06 – Somewhere
07 – Searching With my Good Eye Closed
08 – Room a Thousand Years Wide
09 – Mind Riot
10 – Drawing Files
11 – Holy Water
12 – New Damage
Formação:
Chris Cornell – vocal/ guitarra base
Kim Thayil – guitarra solo
Ben Shepherd – baixo
Matt Cameron – bateria
Participações especiais:
Scott Granlund – saxofone em “Room a Thousand Years Wide” e “Drowing Files”
Ernest Long – trompete em “Face Pollution”, “Room a Thousand Years Wide” e “Drawing Files”
Damon Stewart – narração em “Searching With my Good Eye Closed”