Memory Remains

Memory Remains: The Beatles – 56 anos de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Band Club” e o auge da criatividade e produção musical

26 de maio de 2023


Há 56 anos, em 26 de maio de 1967, o The Beatles lançava “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Band Club”, ou somente Sgt. Pepper’s, ou aportuguesando, Sargento Pimenta, cujo nome batiza um bloco carnavalesco no Rio de Janeiro que desfila tocando músicas da banda em ritmo de samba. O oitavo álbum da banda de Rock mais famosa de todos os tempos é tema do nosso Memory Remains desta sexta-feira.

O aniversariante tem duas datas de lançamento distintas: a de hoje refere-se ao lançamento em terras britânicas, pela gravadora Parlophone. O lançamento nos Estados Unidos via Capitol ocorreu uma semana depois, em 2 de junho. Escolhemos a data de hoje para celebrar. Esse é o primeiro álbum da banda a ser lançado com a ordem das faixas unificadas, já que cada selo colocava as músicas de maneira diferentes em suas próprias versões.

O álbum foi gravado em meio as tensões que a banda já atravessava. Em 1966, o quarteto já havia decidido a não mais fazer apresentações ao vivo. A turnê de divulgação do álbum anterior, “Revolver” foi bastante caótica, com direito a ameaça de morte aos integrantes da banda, recebida via carta; novas ameaças ao chegar nas Filipinas, pelo fato de eles não terem visitado a primeira dama. E no meio disso, diante do fato do público japonês ser muito comedido, eles perceberam o quanto a performance da banda no palco havia decaído. O leitor achou pouco? Ainda tinha mais, a banda encarou rejeição por parte do público estadunidense e muito disso se deve ao fato de John Lennon ter afirmado que a banda era mais famosa do que Jesus Cristo. A tour pela terra do Tio Sam teve shows com baixo número de presentes. Nenhuma música do álbum recém-lancado foi tocada nos shows, uma vez que a complexidade de reproduzir aqueles sons ao vivo era quase impossível de se realizar. John Lennon faloucerta vez sobre aqueles shows. Aspas para ele:

“Era melhor enviar quatro bonecos de cera… e seria o bastante para satisfazer a multidão. Os concertos dos Beatles já não tinham nada a ver com música. Eram apenas malditos ritos tribais.”

Ao regressarem da turnê, eles resolveram dar uma pausa. George Harrisson ameaçou sair da banda, mas foi convencido a ficar sob a promessa de que eles não mais fariam shows ao vivo e ele foi descansar na Índia; Paul McCartney colaborou para a trilha sonora do filme “The Family Way”; Lennon atuou no filme “How I Won the War” e participou de eventos relacionados a arte, onde conheceu sua esposa Yoko Ono, enquanto que Ringo Starr passou mais tempo em casa com sua família.

Em dezembro de 1966, quando voltava de uma viagem para o Quênia, Paul McCartney teve uma ideia do que seria o embrião do conceito do vindouro álbum: era uma música, tocada por uma banda fictícia, uma vez que eles estavam fartos de ser o The Beatles. E em 1967, Paul deu a ideia de fazer um álbum inteiro sob essa banda criada por eles e que lhes daria maior liberdade de experimentos. Parecia louca, mas a ideia deu muito certo. Até o meio do processo de criação do álbum, não existia nem o nome Sgt. Pepper’s, como afirmou Sir. Paul McCartney certa vez:

“Porque não fazemos um álbum como se a banda de Pepper realmente existisse, como se o ‘sargento Pepper’ estivesse gravando? Gravaremos efeitos e tudo mais.” Eu amei a ideia, e, daquele momento em diante, foi como se Pepper tivesse vida própria.”

E “Sgt. Pepper’s” nasceu depois que a banda estadunidense Beach Boys lançou o icônico álbum “Pet Sounds”. E para compôr esse álbum, Brian Wilson, compositor e fundador da banda, se inspirou em um outro álbum do The Beatles, que era “Rubber Soul”. O lançamento do Beach Boys inspirou tanto Paul McCartney que ele quis repetir a expertise que os americanos utilizaram no modo como produziram o álbum. O produtor George Martin chegou a afirmar que “sem Pet Sounds, nunca teria existido Sgt. Pepper’s e que esse álbum foi uma tentativa de se igualar ao álbum lançado pelos americanos”.

Eles utilizaram de dois estúdios durante o período de gravação que foi de 6 de dezembro de 1966 a 21 de abril de 1967: o Abbey Road, claro foi um desses estúdios e o outro foi o Regent Sound Studios, ambos em Londres. Eles dispunham de um orçamento ilimitado, o que proporcionou horas e horas de sessões em ambos os estúdios. Então, no desejo de se conseguir o mesmo resultado que o Beach Boys alcançou com seu já citado álbum, os caras investiram em efeitos de estúdio que reverberassem tudo o que eles gravavam. Porém, a bateria gravada por Ringo Starr foi pouquíssimo utilizada, o que fez com que ele lanentasse e tivesse afirmado de que “a principal memória de que tinha em relação ao álbum era de que havia aprendido a jogar xadrez”. A banda passou 700 horas em estúdio e foi gasto um total de £25.000 para deixar tudo como nós escutamos no álbum hoje.

Musicalmente falando, temos 39 minutos em 13 canções, sendo que a faixa título se repete, no LP ela é registrada em ambos os lados. Trata-se de um disco de Rock com uma infinita gama de influências, que vão desde o pop até o Rock and Roll, passando pelo Blues, Jazz, música circense, música clássica ocidental, música clássica indiana, entre outros. Dentre os vários rótulos que o álbum recebeu, estavam os de Rock Progressivo, Art Rock e Rock Psicodélico. Algumas das músicas mais famosas do álbum com certeza são “Lucy in the Sky With Diamonds” (que anos mais tarde ganhou dos brasileiros do Ira! uma versão em português, chamada “Você Ainda Pode Sonhar”), “With a Little Help From my Friends” e “A Day in the Life”.

“Sgt. Pepper’s” está entre os 20 álbuns mais vendidos da história da música. E se a lista for restrita apenas ao Rock, eles sobem a 9ª posição, com mais de 32 milhões de cópias vendidas, 11 milhões somente nos Estados Unidos. Foi certificado com Disco de Ouro no Brasil (quem diria, só o The Beatles para conseguir essa façanha por essas terras), França e Itália; Platina na Alemanha, Duplo Platina na Argentina, Triplo Platina no Reino Unido, 4 vezes Platina na Austrália, 6 vezes Platina na Nova Zelândia e 11 vezes Platina nos Estados Unidos.

Nos charts, entre os anos de 1967 e 1968, foram poucos os países que o álbum ficou listado, porém, a posição foi a mesma: topo na Alemanha, Austrália, Canadá, na “Billboard 200” (onde reinou por quinze semanas consecutivas), Noruega, Reino Unido e Suécia. Em 1987, quase duas décadas após a separação da banda, o álbum retornou às paradas de sucesso, ficando em 2° nos Países Baixos e 3° no Japão e Reino Unido. Novo retorno, desta vez em 2009, quando ficou em 4° em Portugal, 5° no Reino Unido, 8° na Suécia, 9° na Itália e Finlândia, 12° na Nova Zelândia, 16° na Austrália, 20° no Brasil, Dinamarca e Japão, 22° na Bélgica e Espanha e 31° na Noruega. É um álbum que atravessou décadas fazendo sucesso e isso só mostra a importância que ele tem não só para o Rock, mas para a música de uma maneira geral.

“Sgt. Pepper’s” é também o álbum número um na lista dos 200 Álbuns definitivos do Rock and Roll Hall of Fame. É também um dos dez álbuns da banda presentes na lista dos 500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos, da revista Rolling Stone, além de ser um dos 4 que a banda emplacou no Top 10 da mesma lista. É um álbum que provocou todo esse tufão na música e que por isso merece todo o reconhecimento. Hoje é dia de celebração deste álbum. O The Beatles transformou o Rock no que o conhecemos hoje. O caro leitor pode até não gostar da banda, faz parte, mas se não fosse a existência de Lennon, McCartney, Starr e Harrisson, nada do que a gente escuta hoje existiria.

Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Band Club – The Beatles

Data de lançamento – 26/05/1967

Gravadoras – Parlophone/ Capitol

 

Faixas:

01 – Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Band Club

02 – With a Little Help From my Friends

03 – Lucy in the Sky With Diamonds

04 – Getting Better

05 – Fixing a Hole

06 – She’s Leaving Home

07 – Being for the Benefit of Mr. Kite!

08 – With You With Without You

09 – When I Sixty-Four

10 – Lovely Rita

11 – Good Morning Good Morning

12 – Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Band Club (reprise)

13 – A Day in the Life

 

Formação:

John Lennon – vocal principal, harmonia e vocal de apoio; guitarras solo e rítmica; piano e órgão Hammond; harmônica, loops de fita, efeitos sonoros e pente e papel de seda; palmas, pandeireta e maracas.

Paul McCartney – vocal principal, harmonia e vocal de apoio; guitarra solo e contrabaixo; pianos elétrico e acústico, órgãos Lowrey e Hammond; palmas; vocalizações, loops de fita, efeitos sonoros e pente e papel de seda.

George Harrison – harmonia e vocal de apoio; guitarras solo e rítmica; sitar; tambura; harmônica e kazoo; palmas e maracas; vocal principal em “Within You Without You”.

Ringo Starr – bateria, congas, pandeireta, maracas, palmas e sinos tubulares; vocal principal em “With a Little Help from My Friends”; harmônica em “Being for the Benefit of Mr. Kite!”; acorde final de piano em Mi em “A Day in the Life”.

 

Participações especiais:

Sounds Incorporated – sexteto de saxofones em “Good Morning, Good Morning”.

Neil Aspinall – tambura e harmônica.

Geoff Emerick – engenharia de som; loops de fita e efeitos sonoros.

Mal Evans – contagem, harmônica, alarme de relógio e acorde final de piano em Mi.

George Martin – produção e mixagem de áudio; loops e efeitos sonoros; cravo em “Fixing a Hole”, harmônio, órgão Lowrey e glockenspiel em “Being for the Benefit of Mr. Kite!”, órgão Hammond em “With a Little Help from My Friends”, piano em “Getting Better” e solo de piano em “Lovely Rita”; acorde final de harmônio.

 

Participações adicionais:

quatro trompas francesas em “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”: Neill Sanders, James W. Buck, John Burden, Tony Randall, arranjadas e conduzidas por Martin e McCartney.

seção de cordas e harpa em “She’s Leaving Home”, arranjada por Mike Leander e conduzida por Martin; harmônio, tabla, sitar, dilruba, oito violinos e quatro violoncelos em “Within You, Without You”, arranjados e conduzidos por Harrison e Martin.

trio de clarinetes em “When I’m Sixty-Four”: Robert Burns, Henry MacKenzie e Frank Reidy, arranjados e conduzidos por Martin McCartney; saxofones em “Good Morning, Good Morning”, arranjados e conduzidos por Martin e Lennon; e orquestra de quarenta integrantes, incluindo cordas, metais, madeiras e percussão em “A Day in the Life”, arranjada por Martin, Lennone McCartney e conduzida por Martin e McCartney.