Memory Remains

Memory Remains: Type O Negative – 30 anos de “Bloody Kisses”, o primeiro álbum da Roadrunner a ganhar Disco de Ouro

17 de agosto de 2023


Em 1993, as bandas de Heavy Metal enfrentavam a famosa crise de criatividade, o Metallica já não mais fazia Thrash Metal, mas lotava arenas por onde passasse; os grandes nomes do Rock eram as bandas de Seattle, Pearl Jam, Nirvana, Alice in Chains e Soundgarden. Mas havia uma banda, que em 17 de agosto daquele ano, lançaria seu maior clássico: estamos falando do mais novo trintão da cena, “Bloody Kisses“, do Type O Negative, tema do nosso Memory Remains desta quinta-feira.

Após o lançamento do álbum anterior, “The Origin of Feces“, a banda se reuniu no Sistems Two, no Brooklyn, para registrar o aniversariante do dia. Gravações adicionais aconteceram no Sty in the Sky, que fica localizado também no Brooklyn. Membros do Life of Agony contribuíram, ajudando nas letras e também gravando vocais adicionais. A produção ficou a cargo da dupla Peter Steele e Josh Silver.

O resultado foi o álbum mais consistente da banda. Embora bastante extenso, com seus 73 minutos, divididos em 14 faixas, com alguns interlúdios entre elas, trazem uma mistura de Black Sabbath com Sisters of Mercy, além de alguns espasmos de Hardcore. As músicas arrastadas, que mais se parecem marchas fúnebres, ganharam o público. O baterista Sal Abruscato tem uma explicação plausível para esse boom do Type O Negative a partir deste álbum. Aspas para ele:

Todo o fascínio pelos vampiros se relacionou com as pessoas. Foi na época do filme Interview with the Vampire [Entrevista com o Vampiro], e tudo explodiu depois disso. Eu lembro que tinha uma loja em East Village que começou a vender camisas rendadas, casacos de veludo e coisas assim. A banda logo começou a atrair muitas fãs por causa disso”.

As letras continuam abordagens sobre sexo, morte, imagem e racismo, sempre carregadas de sarcasmo: assim se deu no maior hino da banda, “Black No 1“, onde Peter Steele brinca com a aparência das garotas góticas, mas a principal referência é uma ex-namorada narcisista do frontman. “Christian Woman” fala sobre uma adolescente que vê em Jesus Cristo um símbolo sexual (metaleiros conservadores irão cancelar a banda neste momento). “We Hate Everyone” e “Kill All the White People“, esta última, rendeu até acusações de que a banda seria nazista, refutadas por Kenny Hickey. O argumento, bastante sólido, Josh Silver é judeu.

Os grandes destaques do álbum são, além da já citada “Black No 1“, também podemos citar “Christian Woman“, além do cover inusitado para “Summer Breeze“, do Seals & Crofts. A grande curiosidade foi que eles tentaram fazer com essa música, o mesmo que fizeram com a versão para “Hey Joe“, de Jimi Hendrix. Peter Steele reescreveu a letra, gravou e a batizou “Summer Girl“, porém, os autores originais acharam a letra desagradável, fazendo com que Steele regravasse os vocais com a letra original. A música virou um hino e hoje é tema do festival de Heavy Metal homônimo.

Com ótima recepção tanto da crítica quanto do público, “Bloody Kisses” frequentou as paradas alemãs, ficando em 60°, e também na “Billboard 200“, onde alcançou a 166ª posição. A ótima performance nas vendas fez com que o aniversariante do dia fosse o primeiro álbum lançado pela Roadrunner a ser certificado com Disco de Ouro, isso no ano de 1995. No ano de 2000, o álbum foi certificado com Disco de Platina. Ambas as honrarias nos Estados Unidos. A “Rolling Stone” classificou o álbum em 53° em sua lista dos 100 Melhores Álbuns de Heavy Metal de Todos os Tempos.

Bloody Kisses” passou a marcar um hábito da banda, que era a de incluir vários interlúdios entre as músicas, bem como o uso de samples, fazendo do Type O Negative uma banda única e difícil de ser rotulada. Alguns classificam como Doom Metal, outros como Gothic. Mas é inegável que o quarteto influenciou toda uma geração de bandas que vieram depois, como o Tristania, Lacuna Coil e o Moonspell, por exemplo.

Este foi o último álbum com a formação original da banda, uma vez que o baterista Sal Abruscato saiu ainda no ano de 1993. Sua saída estava relacionada à falta de comprometimento por parte de Peter Steele em manter a banda em turnês, ainda que a banda tivesse feito alguns shows. Abruscato se juntou ao Life of Agony, que teve seu álbum de estreia também produzido por Josh Silver e ambas as bandas saíram em turnês entre os anos de 1993 e 1994. Abruscato ainda gravou o videoclipe para a música “Black No 1“, mas em “Christian Woman“, havia alguém tocando bateria. O mistério terminou em março deste ano quando Johnny Kelly confirmou no Instagram que era ele o baterista a gravar aquele vídeo.

Hoje é dia de celebrar esse álbum que marcou uma época e inspirou roda uma geração. Enquanto as principais bandas do Metal estavam perdidas naquela época, o Type O Negative ia fazendo história. E se a banda foi enterrada junto ao corpo de Peter Steele, nós temos o lindo legado desta banda que, com seu humor ácido e sua musicalidade que nos remetia à morbidez, ganhou fãs mundo afora. Como sempre digo aqui: eu ouço gente morta!

 

Bloody Kisses – Type O Negative

Data de lançamento – 17/08/1993

Gravadora – Roadrunner 

 

Faixas:

01 – Machine Screw

02 – Christian Woman

Body of Christ (Corpus Christi)

To Love God

J.C. Looks Like me

03 – Black No 1

04 – Far Wray Come Out and Play

05 – Kill All the White People

06 – Summer Breeze

07 – Set me on Fire

08 – Dark Side of the Womb

09 – We Hate Everyone

10 – Bloody Kisses (A Death in the Family)

11 – 3.0.I.F.

12 – Too Late Frozen

13 – Blood & Fire

14 – Can’t Lose You 

 

Formação:

Peter Steele – vocal/ baixo

Kenny Hickey – guitarra/ violão/ backing vocal

Josh Silver – teclados/ sintetizadores/ programação eletrônica/ backing vocal

Sal Abruscato – bateria

 

Participações especiais:

Bensonhoist Lesbian Choir – backing vocal

Paul Bento – cítara/ tambura

Bonnie Weiss – vocal adicional

Keith Caputo – vocal adicional

Karen Rose – vocal adicional

Debbie Alter – vocal adicional

Chris Zamper – vocal adicional

Alan Robert – vocal adicional

Joey Zampella – vocal adicional

Mike Palmeri – vocal adicional