Na última sexta-feira (19), aconteceu a esperada estreia ao público do segundo episódio que compõe o documentário “Andre Matos: Maestro do Rock”. O episódio II teve sua primeira exibição ao público durante um dos dias do festival Summer Breeze e, dessa vez, pôde contar com um teatro cheio de fãs que buscavam assistir, talvez, o mais esperado dos episódios; afinal, a segunda parte do documentário fala, por meio de entrevistas, sobre a fundação, ascensão e separação do Angra em sua fase com Andre Matos. Na plateia, nomes da cena como Nando Fernandes (Sinistra, ex-Hangar), os membros do Viper Pit Passarell, Leandro Caçoilo e Guilherme Martin, além de membros da família de Andre, também estavam presentes André Linhares Bastos e Marco Antunes, primeiros guitarrista e baterista do Angra, respectivamente.
O local escolhido para o evento foi o Teatro J. Safra, na Barra Funda, onde logo na entrada era possível encontrar produtos de merchandising do documentário e itens pessoais da coleção de Andre Matos, em especial seu antigo piano, usado em muitas de suas composições e reuniões familiares (como o primeiro episódio do documentário nos mostrou). Enquanto o público chegava, o pianista e afinador Thomas Wladek apresentava nesse piano trechos de músicas da carreira do Andre como Carry On, Last Child, Make Believe, Holy Land, Lisbon, Fairy Tale, Innocence, entre outras. Pontualmente, às 20h, as luzes da plateia se apagaram para que fossem recebidos Anderson Bellini e Eco Moliterno, os grandes responsáveis pelo documentário. Anderson, o diretor, agradeceu a presença de todos ali e Eco, primo de Andre Matos que auxilia no documentário, anunciou a presença dos familiares no teatro, todos recebidos com calorosas palmas. Ambos comentaram sobre o desejo de fazer o filme acontecer para os fãs e também sobre as dificuldades encontradas no caminho, mas também sobre a felicidade em apresentar o segundo episódio, previsto inicialmente para março de 2022. Após o filme, ambos responderam perguntas da plateia.
Diferente do primeiro episódio, que retrata um lado pessoal de Andre desconhecido pela maioria, a segunda parte do documentário é dividida em entrevistas voltadas para toda a história do período que Andre estava no Angra, trazendo respostas e curiosidades. O ponto alto do filme é que o diretor, em nenhum momento, toma partido de algum lado da história. Pelo contrário, a todo momento é apresentado pontos e contrapontos de cada lado, com opiniões diversas entre os membros. Nessa parte, o documentário é bem focado nas versões de Andre Matos e Rafael Bittencourt, contando também com várias falar de Kiko Loureiro. Outro ponto positivo é o espaço dado para que André Bastos e Marco Antunes expusessem os seus lados da história, lados esses pouquíssimos conhecidos pelo público, assim como André “Zaza” Hernandes, guitarrista que ocupou o cargo na banda antes de Kiko entrar. Infelizmente não ouvimos as versões de Luis Mariutti e Ricardo Confessori, que, apesar de terem gravado suas partes para o episódio, pediram que removessem seus depoimentos do corte final. Sobre isso, Anderson Bellini disse que respeitava a decisão de ambos, mas que não escondia sua decepção com isso. Músicos e produtores que participaram dessa fase da banda como Charlie Bauerfeind, Sasha Paeth e Kai Hansen deram seus depoimentos, além de grandes nomes da cena Metal como Rob Halford, Blaze Bayley, Andreas Kisser, entre outros. Alex Holzwarth, baterista que gravou “Angels Cry”, disco de estreia do Angra, também conta sua versão sobre como foi convidado para participar. De todos os envolvidos na história do Angra, o empresário da época, Antonio “Toninho” Pirani foi o único que se recusou a participar do documentário, nem chegando a participar das gravações. Partes marcantes da história dessa época, como a ascensão da banda no Japão e na França, assim como a participação de Bruce Dickinson no icônico show do grupo no Le Zenith também são destacadas. Sobre a separação, a conhecida história sobre a pirataria dos discos em um possível esquema que poderia envolver o Antonio Pirani também é citada, porém, fica claro que não foi a única coisa que motivou a ruptura da banda. Para os fãs curiosos sobre todas as discussões envolvidas nesse período, o filme é um prato cheio. O segundo episódio traz uma história muito detalhada.
Os episódios vêm sendo apresentados em um formato em que fica claro que a ideia é trazer algo voltado especificamente para os fãs. Para se ter uma ideia, apenas o segundo episódio tem duas horas e meia de duração, contando com cinco horas no corte original. Para um público que talvez não conheça o trabalho do Andre, algo dessa forma pode ser um tanto arrastado de se assistir. Porém, Anderson e Eco sempre disseram que a ideia de fazer o documentário da forma mais detalhada possível é, de fato, um presente aos fãs. Ambos confirmaram a ideia de reduzir os episódios para um único filme, depois que todas as partes forem apresentadas separadamente, o que facilitaria o lançamento em plataformas de streaming e tornaria a história do Andre mais “acessível” a um público que talvez não o conheça. O terceiro episódio foi confirmado, mas não foi apresentada nenhuma previsão de estreia. Anderson comentou que houveram grandes problemas com partes burocráticas nada baratas, o que atrasou o lançamento do segundo episódio. Durante as perguntas no fim da noite, o diretor confirmou a participação de Tobias Sammet no documentário depois de toda a confusão causada pelas reclamações de alguns fãs, em um movimento ocorrido nas redes sociais de Tobias, por conta de sua recusa original de gravar seu depoimento para o documentário. Segundo ele, houve uma conversa entre os dois no festival Summer Breeze e Tobias aceitou colaborar no futuro. Existe também a ideia de trazer Bruce Dickinson para comentar sobre o show citado que ele participou com o Angra, mas que ainda não foi possível.
O futuro é promissor para o documentário. Os presentes no teatro receberam Anderson e Eco de pé com muitos aplausos após a apresentação. Em mais de uma ocasião, eles deixaram claro que a ideia não é lucrar com tudo isso. Eles querem registrar o legado do Andre e de tudo o que ele fez. Eco, inclusive, comentou que Dona Sônia, mãe de Andre, o disse durante o filme que Andre “era muito maior do que a gente (família) imaginava”. Andre sempre foi um ídolo para muitos. O documentário deixará eternizada a história de um vocalista que marcou para sempre seus fãs, cada um de forma diferente. Eco também ficou emocionado ao ouvir o relato de uma mulher transsexual presente no público que escolheu seu nome em homenagem à uma música do Andre. Mesmo depois de ter partido, ele ainda marca as pessoas. Isso é ser um ídolo.
Crédito da galeria: Pedro Bertasso