O grande hype do momento é a notícia da reunião dos membros remanescentes do Pantera, o vocalista Phil Anselmo e o baixista Rex Brown, para celebrar o legado deixado pela banda, sobretudo durante os anos 1990. Juntamente com o Sepultura, os texanos estavam no topo e ajudaram a manter o Heavy Metal vivo, em meio ao deserto de ideias e de criatividade que o estilo atravessou, deixando margem para que a MTV tentasse matar essa vertente que tanto amamos. Agora em 2022, as duas bandas têm chamado atenção pela reunião de seus ex-membros.
Tudo porque os irmãos Cavalera estão em turnê promovendo os 25 anos do álbum “Roots“, o mais emblemático da banda, queira ou não o fã xiita que acha que a banda a acabou no “Schizophrenia“. Max e Iggor não estão mais na banda que eles próprios formaram, mas estão a alimentar a sede de fãs nostálgicos. Semana passada Anselmo e Rex anunciaram os convites feitos e aceitos para o guitarrista Zakk Wylde e o baterista Charlie Benante. É um timaço, não é mesmo, caro leitor? E o texto aqui tem a intenção de fazer um exercício de reflexão sobre a legitimidade em tratar essa reunião como uma retomada do Pantera.
Zakk Wylde já afirmou que não, não é o retorno da banda e que se trata de uma celebração, muito justa por sinal. Há tempos que vinha se falando sobre um possível retorno, ainda quando Vinnie Paul estava vivo. Ele refutava toda e qualquer tentativa, afinal, o Pantera acabou por conta do desinteresse de Phil Anselmo e Dimebag morreu por conta de um “fã” lunático, durante apresentação do Damageplan, a banda que os irmãos fundaram para tentar levar uma vida pós-Pantera, em 04/12/2004. Este infeliz atribuiu aos irmãos uma culpa que na verdade pertencia a Anselmo. Vinnie também era alvo daquele cidadão, que acabou sendo morto pela polícia e foi salvo pelos pratos de sua bateria, que serviram lhe de escudo para as balas. Era compreensível sua mágoa com Anselmo, pois indiretamente pelo vocalista, ele perdeu seu irmão de forma covarde e cruel.
Carlos Pupo/Headbangers News
Os fãs, claro, estão numa empolgação como pouco se viu na cena. Tanto na turnê dos irmãos Cavalera quanto nesta celebração anunciada por essa verdadeira seleção do Heavy Metal. Porém, há uma questão que pode confundir o leitor: por quê a turnê com os Cavaleras pode ser considerada legítima e a de Anselmo e Rex nem tanto? Irei ajudar o leitor a compreender melhor os paralelos.
Ambas as bandas tem origens semelhantes. O Sepultura foi formado pelos irmãos Cavalera e até hoje não se sabe ao certo as razões pelas quais eles abriram mão do nome e deixaram com Andreas Kisser e Paulo Xisto. O Pantera também foi formado pelos irmãos, os Abott, Vinnie e Dimebag. Por muito pouco, o Pantera não estourou, pois Dimebag foi convidado por ninguém menos do que o vacilão do Dave Mustaine para integrar o Megadeth. O convite só não se realizou porque Dimebag não abriu mão de levar consigo seu irmão. No entanto, Dave já havia fechado com Nick Menza, o que inviabilizou a mudança de Dime do Texas para a Califórnia. O lado bom é que com isso, tivemos um excelente banda surgindo, e convenhamos, o Pantera só ficou bom e relevante mesmo depois que lançaram “Cowboys From Hell” (1990), porque antes disso, até os irmãos tinham vergonha do passado Glam.
Nem Rex nem Anselmo são membros fundadores da banda. O baixista entrou em 1982 e o vocal em 1986. É bem verdade que o baixista tocou em todos os álbuns de estúdio do Pantera. E também é verdade que a partir da entrada de Anselmo, a banda foi evoluindo em sua sonoridade até atingir o que foi conhecido por todos nós (N. do R: os que tem mais de 40 anos e que acompanharam o Pantera no seu ápice), mas definitivamente, sem os irmãos Abott entre nós, não é o Pantera.
No site Metal Archives o Pantera aparece com o status de banda ativa, a mesma informação que consta na versão em inglês da Wikipedia. Óbvio que chamar a banda de Pantera vai atrair mais a atenção da mídia e do público, diferente dos irmãos brasileiros, que usam apenas seus próprios nomes, até mesmo porque o Sepultura segue por aí gravando discos e fazendo shows, e não sabemos se Max e Iggor iriam reinvindicar o nome da banda que criaram caso a famosa discussão sobre futebol entre Andreas Kisser e Paulo Xisto tivesse de fato acabado com o Sepultura, conforme o próprio guitarrista confessou, tempos atrás.
Toda forma de homenagem a quem prestou ótimos serviços para a música pesada é justa e bem-vinda, mas a tour dos irmãos que seguem vivos parece ser mais honesta pela simples razão de que eles estão vivos. Dimebag e Vinnie certamente não concordariam com essa reunião, que não parece ser uma coisa genuína da parte dos dois remanescentes, sobretudo pelo fato de ambos não terem lançado algo de tão relevante assim nos últimos tempos. Não restam dúvidas de que Zakk Wylde e Charlie Benante são dois talentos inquestionáveis e de que eles irão dar um brilho absoluto a esse tributo e os fãs têm mais é que prestigiarem ambas as turnês, mas toda cautela se faz necessária e não é justo com a memória dos irmãos que hoje repousam lado a lado, tratar essa reunião como o retorno da banda que eles fundaram.
O leitor pode questionar por exemplo o Black Sabbath que por muitos anos teve em Tony Iommi como seu único membro fundador ou até mesmo o Napalm Death que hoje não tem nenhum integrante que esteve no primeiro ensaio. São exemplos diferentes, o Napalm Death jamais chegou a encerrar suas atividades e o Black Sabbath teve seu primeiro final com o retorno dos quatro membros originais. O Pantera tem a sua imagem ligada diretamente aos irmãos Abott.
Seja como for, ambas as turnês prometem ser matadoras. Os Cavaleras desembarcarão no Brasil no próximo mês. Já a reunião de Anselmo com Rex ainda não tem datas divulgadas, mas, com certeza vai lotar as arenas por onde quer que eles venham a tocar e deve ser uma boa oportunidade para que os fãs antigos matem um pouco as saudades dos anos 1990, além de ser uma boa chance para o jovem que apenas escuta os discos do quarteto e não teve a chance de vê-los em ação. Este que vos escreve é muito fã do Pantera, mas não teve a chance de ver a banda in loco. Obviamente que eu vou querer testemunhar esse show, caso o Brasil seja lembrado. Mas não vou cometer o equívoco de chamá-los de Pantera, em respeito a Dimebag e Vinnie Paul.