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Paul Di’Anno: Retrospectiva de um punk dentro do heavy metal

Paul Di’Anno: Retrospectiva de um punk dentro do heavy metal

23 de outubro de 2024


Em homenagem a Paul Di’Anno, o Headbangers News preparou uma breve retrospectiva de sua trajetória que marcou profundamente o heavy metal. Aos 66 anos, o icônico ex-vocalista do Iron Maiden faleceu em sua residência em Salisbury, no Reino Unido, conforme anunciado em 21 de outubro de 2024.

Foto: Carlos Pupo/Headbangers News

Localizado a cerca de 15km do centro de Londres, Chingford é um típico bairro suburbano inglês, tranquilo e aconchegante. Foi nesse local que no dia 17 de maio de 1958 nascia Paul Andrews.

A segunda metade da década de setenta foi marcada pela febre punk que assolava a Inglaterra; ancoradas pelo ‘do it yourself’ (faça você mesmo) bandas surgiam em praticamente todos os cantos e claro que o adolescente Paul seria contaminado por todo esse ambiente, emprestando sua voz agressiva enquanto trabalhava como açougueiro e cozinheiro no mesmo bairro onde nasceu.

No leste de Londres, uma grupo iniciante chamado Iron Maiden começava a chamar a atenção em suas apresentações nos pubs locais. Com a saída de Dennis Wilcock, a banda estava procurando um novo vocalista e o baterista Doug Sampson resolveu indicar seu amigo – já então autodenominado Paul Di’Anno – para o posto.

A primeira audição com Di’Anno acabou não acontecendo pois o mesmo se encontrava preso, acusado de ameaçar um homem com uma faca em via pública. De qualquer forma, ele acabou sendo admitido há tempo de gravar a lendária demo “The Soundhouse Tapes”.

As 5.000 cópias do EP foram vendidas em pouco tempo, o que valeu um contrato com a gravadora EMI para a gravação do primeiro álbum de estúdio. Lançado em abril de 1980, “Iron Maiden” se tornou um clássico instantâneo ao fundir riffs do heavy metal, complexidade do rock progressivo e a agressividade punk – cortesia de Di’Anno, inclusive no visual já que era o único que usava cabelos curtos.

Menos de um ano depois, em fevereiro de 1981, lançam aquele que é considerado por muitos fãs como o melhor álbum da Donzela até os dias atuais, “Killers”.

Com o sucesso, a banda inicia a ‘Killer World Tour’, onde tocam pela primeira vez no Japão – que rendeu o lançamento ao vivo “Maiden Japan” – e na América do Norte. Essa turnê marcou o início das desavenças entre Di’Anno e banda por conta de seu comportamento.

Abusando de bebidas alcoólicas e outras substâncias, alguns shows foram cancelados pelo estado em que se encontrava o vocalista e ainda há relatos de outros que não aconteceram por ‘falta de vontade’ do mesmo em se apresentar.

Todos esses problemas culminaram com a sua saída após uma reunião com a banda e o manager Rod Smallwood. Di’Anno saiu disparando: “É como ter Mussolini e Adolf Hitler comandando sua banda. Porque é Rod Smallwood e Steve Harris e é isso. Não pode haver mais ninguém e meu caráter é forte demais para isso, então eu e Steve estávamos sempre brigando”, sua última apresentação com o Maiden foi no dia 10 de setembro de 1981 em Copenhague na Dinamarca.

Após ser demitido do Iron Maiden, Paul Di’Anno se envolveu em diversos projetos e lançando inúmeros registros ao vivo.

Seu primeira banda foi chamada simplesmente de ‘Di’Anno’. Com um som que se afastava da NWOBHM para se aproximar do AOR estadunidense de bandas como o Journey, lançaram em 1984 um autointitulado álbum. Em 2000, ele utilizou o nome para lançar “Nomad” – gravado apenas com músicos brasileiros – focado no heavy metal tradicional;

Em 1985, integrou um supergrupo chamado ‘Gogmagog’. Formado por Paul Di’Anno, os guitarristas Janick Gers e Pete Willis (ex Def Leppard), o baixista Neil Murray (ex Whitesnake) e seu companheiro dos tempos de Maiden o baterista Clive Burr, a banda chegou a lançar um EP “I Will Be There” se desfazendo logo em seguida.

Dois de seus projetos merecem destaque: ‘Battlezone’ e ‘Killers’. Formado em 1985, o ‘Battlezone’ lançou dois álbuns: “Fighting Back” (1986) e “Children Of Madness” (1987). Já o ‘Killers’ sendo praticamente uma continuação com os lançamentos de “Murder One” (1992) e “Menace To Society” (1994) – em 1998, Di’Anno utilizou o nome ‘Battlezone’ para o álbum “Feel My Pain”.

Como ‘Paul Di’Anno’ sairam “The Worlds First Iron Man” (1997) e “The Living Dead” (2006). Sua ultima aparição foi nesse ano de 2024 com um novo grupo, o “Paul Di’Anno’s Warhorse”.

Nos últimos anos, Paul Di’Anno enfrentou vários problemas de saúde, como uma sepse que contraiu em 2015 e o deixou oito meses internado em um hospital, além de uma cirurgia para remoção de um abcesso pulmonar em 2016.

Por conta de um grave problema que acometia seus joelhos, foi criado um ‘crowdfunder’ em janeiro de 2021 para arrecadar dinheiro visando uma cirurgia. Em novembro daquele ano, ele se muda para Croácia para realizar a cirurgia e o tratamento.

Apesar de todos esses problemas, continuou a fazer turnês se apresentando em uma cadeira de rodas – seu último show foi dia 30 de agosto deste ano em Cracóvia na Polônia executando um setlist com doze canções do Iron Maiden.

O dia 21 de outubro de 2024, ficará marcado para todo fã de heavy metal com o comunicado da gravadora Conquest Music:

“Em nome de sua família, a Conquest Music lamenta confirmar a morte de Paul Andrews, profissionalmente conhecido como Paul Di’Anno.

Paul faleceu em sua casa em Salisbury, aos 66 anos.”

Sem confirmar a causa do falecimento – foi falado apenas ‘graves problemas de saúde nos últimos anos’ – o comunicado gerou enorme comoção com homenagens surgindo em todo mundo.

Filho de pai brasileiro, Paul Di’Anno sempre teve uma estreita ligação com nosso país onde viveu por vários períodos. Dois de seus seis filhos que teve em cinco casamentos nasceram no Brasil e era comum vê-lo trajando uma camisa do Corinthians.

Em 2023, Di’Anno fez sua última turnê por essas paragens com 31 shows que englobaram todas as regiões, levando ao pé da letra o refrão “Oh Well, wherever / Wherever you are / Iron Maiden’s gonna get you / No matter how far”.

Paul Di’Anno deixa um legado enorme e imortal, bastando dizer que sua entrada no Iron Maiden influenciou os rumos que o heavy metal percorreu nos anos seguintes.

No futuro, o Iron Maiden realizará sua última apresentação. Nesse dia, seria maravilhoso ver os três vocalistas interpretando os clássico que marcaram a vida de muita gente. Infelizmente, esse desejo não se concretizará.

R.I.P. e muito obrigado Paul Di’Anno!

UP THE IRONS!