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Rock In Rio 40 anos: Problemas, frustrações e a perda de sua essência

Rock In Rio 40 anos: Problemas, frustrações e a perda de sua essência

22 de setembro de 2024


Mais uma edição do Rock in Rio se aproxima do fim, marcando os 40 anos do festival. No entanto, esta edição foi permeada por uma série de problemas amplamente noticiados em diversos veículos da grande mídia. Este ano, não estivemos presentes no evento, pois nossa solicitação de credenciamento foi negada pela assessoria do festival.

Nossa perspectiva, construída a partir de anos cobrindo a cena musical, certamente traria um contraponto necessário à cobertura midiática tradicional. A preferência por influencers pode ser uma estratégia de marketing, mas é lamentável que isso ocorra em detrimento de veículos que oferecem uma análise mais aprofundada e consistente. A presença de influenciadores e veículos com menos experiência ou foco no cenário musical levanta uma preocupação sobre a superficialidade das análises oferecidas ao público.

Mesmo assim, acompanhei à distância por meio de relatos de colegas jornalistas, do público presente e dos principais veículos de mídia, que não economizaram nas críticas.

Já publicamos no HBN textos explicando que o Rock in Rio nunca foi exclusivamente sobre rock, algo que faz parte da visão mercadológica de Roberto Medina desde o início. No entanto, há uma discussão que gostaria de destacar: a equivocada ideia que circula na internet de que “rock não vende ingressos”. Isso é completamente absurdo. Quem acompanha nossa agenda de shows sabe que tanto bandas nacionais quanto internacionais de rock atraem grandes públicos no Brasil. A demanda depende muito da banda, já que o público roqueiro é extremamente exigente.

No mercado de São Paulo, cidade onde vivo e acompanho de perto a cena musical, o rock vende muitos ingressos, tanto no cenário underground quanto no mainstream.

Dito isso, afirmo que o lineup do Dia do Rock nesta edição de 40 anos foi decepcionante. Esperávamos algo mais impactante do que Avenged Sevenfold e Evanescence, especialmente considerando que Evanescence se apresentou em São Paulo há menos de um ano, em outubro. Desde a minha primeira cobertura profissional do Rock in Rio, em 2001, sei que o público roqueiro, principalmente de São Paulo e de outros estados, costuma lotar o festival no Dia do Rock. Mas sem uma atração realmente marcante, o dia acabou sendo uma decepção.

Problemas técnicos também marcaram o show de encerramento do Palco Mundo ontem, no especial “Para Sempre Rock”, com Capital Inicial, Tony Garrido, Rogério Flausino, Detonautas, NX Zero e Pitty. Muitas falhas de som e microfone foram relatadas pelo público.

O Dia Brasil teve outro problema grave, com uma série de atrasos que desgastaram até os fãs mais dedicados. Luan Santana, por exemplo, cancelou sua participação ao lado de Chitãozinho e Xororó, Orquestra Heliópolis, Ana Castela, Júnior e Simone Mendes, por conta desses atrasos. Ele preferiu honrar o compromisso com seu público em São José, Santa Catarina, e acredito que ele tomou a decisão certa. Já o MC Ryan, que alegou estar gripado, foi visto no jogo do Corinthians, em vez de viajar ao Rio. Prioridades, não é?

Compreendo a diversidade de estilos no lineup, incluindo rock, MPB, rap, trap, bossa nova e até a estreia do sertanejo no festival. O que não entendo é a inclusão de artistas que não têm qualquer ligação com a história do Rock in Rio e, muitas vezes, parecem não se importar em prestigiar o evento.

Além dos problemas técnicos, no sábado, chamou a atenção a desistência de 27 vigilantes da Segurpro, a empresa de segurança oficial do Rock in Rio. As reclamações sobre a alimentação oferecida aos trabalhadores levantam questões sérias sobre as condições de trabalho em grandes eventos. A segurança é um aspecto fundamental para a realização de um festival dessa magnitude, e a falta de atenção aos profissionais responsáveis por isso revela uma falha organizacional grave.

O tratamento inadequado dos trabalhadores pode comprometer tanto o sucesso do evento quanto a experiência do público. Afinal, a segurança de todos depende de uma equipe bem tratada e motivada, o que deveria ser uma prioridade em qualquer evento de grande porte.

É inegável que o Rock in Rio é um sucesso comercial e impressiona com suas cifras. Desde o início, o festival gerou mais de 265 mil empregos e, em 2022, trouxe mais de R$ 2 bilhões para a cidade. Reconhecido como patrimônio cultural imaterial do estado, já atraiu mais de 11,6 milhões de fãs desde 1985.

No entanto, apesar dos esforços para modernizar o festival e agradar a uma audiência diversificada, parece que o Rock in Rio está perdendo parte de sua essência. Resta saber se, nos próximos anos, conseguirá equilibrar sua vocação original com as demandas do mercado atual, sem comprometer a experiência dos fãs que, ao longo de quatro décadas, ajudaram a construir essa história.