Resenhas

Borders of Infinity

Prime Prophecy

Avaliação

9.0

Temos aqui um disco de uma banda de metal, mas acredite, este não é só mais um “álbum de uma banda de metal”. A banda Prime Prophecy nos leva a uma intensa imersão e uma belíssima viagem já nos primeiros minutos da audição. A introdução é algo magistral, uma sonoridade muito bem localizada culturalmente, com claras influências e referências, tanto na inserção de instrumentos típicos quanto do uso das escalas e digitações árabes /egípcias.

“Truthful Meaning” encontra epicidade sombriedade em uma só canção. Dando sequência, é trazido a nossos ouvidos a canção “Here I Am”, que segue a mesma intenção da canção que abre o álbum, mas com um diferencial, aqui o peso e a sombriedade estão mais evidentes, é incrível como o respeito a escala Arábica e suas sequências nos leva a uma viagem ao passado. A canção parece nos guiar por um momento heróico, no qual o medo é evidente mas o peso das guitarras nos dá coragem para enfrentar o possível inimigo, tendo todo esse background, é impossível dizer que há algo de negativo na produção e na composição de todo esse disco, afinal o cuidado com a narrativa é evidente.

Ao fim de “Here I Am” temos o que posso traduzir como “pausa dramática”, que nos leva ao primeiro momento de calma desse álbum, localizado em “End of the Beginning”, canção lúgubre, com uma introdução de pianos lentos e muito melódica. “End of the Beginning” tem um belíssimo piano, encantador e envolvente que aos 1min30 abre caminho para as guitarras cadenciadas e pesadas, dando lugar a um metal épico e desbravador, que se tranquiliza ao iniciar das vozes calmas e tranquilas de Martin Wilczek que explodem na chegada do solo igualmente épico e emocionante. “End of The Beginning” é fácil uma trilha sonora de batalha.

Chegamos a faixa título do álbum ,”Borders of Infinity”, e é fácil descobrir o porquê essa faixa é o título deste trabalho, ela é um ade a destruição e a reflexão, pesada, cadenciada, épica e emotiva tudo isso ao mesmo tempo. Desde “End of the Beginning” vemos a sensação de “viagem”, dar lugar a sensação de medo e terror, mas um terror atraente e sedutor, que te faz pensar “tudo aqui me dá medo, mas o que será que tem no final dessa grande jornada!?eu preciso chegar lá” – em “Borders of Infinity” essa sensação é evidente , Martin Wilczek usa sua voz de forma muito eficaz e arrisca até um gutural, que surpreende pela qualidade e veracidade imposta. Não há mais o que comentar sobre as partes instrumentais –  afinal é tudo muito profissional e bem pensado, tanto dos instrumentos padrões quanto os de apoio e preenchimento, como teclados e efeitos sonoros – fica claro que não estamos falando de amadores aqui.

Em “Memories from the Past”,a calmaria e a cautela voltam em cena, mas dessa vez com uso de sintetizadores que nos trazem a sensação de espaço, um lugar esse conhecido pelo silêncio, imensidão e curiosidade – afinal, ao olhar o infinito o questionamento e a vontade da descoberta ficam muito evidentes – há muita tranquilidade nessa e na canção seguinte, ” Unborn Ressurection”  que segue o mesmo caminho que sua anterior, com uma pequena variação em seu minuto final, aos 3min20 a música cresce de forma maravilhosa e em seguida cai subitamente até o seu fim.

A Sétima Faixa é uma belíssima surpresa, é um tributo. A faixa escolhida pelo Prime Prophecy foi “Small Town Boy” do grupo Bronski Beat.O Bronski Beat foi uma banda britânica de synthpop, formada em 1983. Seus membros eram Jimmy Somerville (vocais), Steve Bronski e Larry Steinbachek (ambos tocavam teclados e percussão). Os três sempre foram assumidamente homossexuais, e isso se refletia nas letras de suas músicas, e é por esse detalhe que a homenagem de Prime Prophecy é surpreendentemente interessante e positiva! Afinal, estamos falando de uma banda de metal fazendo tributo a uma canção que em sua letra carrega todo peso moral e dos conflitos de aceitação do narrador para com sua sexualidade e a reação de todos em sua volta, o fazendo correr e se colocar como um homem sozinho. A música consegue trazer toda essa aura que é a base e alma da canção original, mas ela agrega um peso ÉPICO! Fico feliz com o que fizeram com essa canção aqui, realmente poderoso.
Seguido de “Smalltown Boy” o peso e a raiva voltam a ser evidenciados em primeiro plano. Martin Wilczek inicia seus vocais com um gutural leve, acompanhado das guitarras brutalmente cadenciadas e a canção é claramente uma daquelas que fazem os fãs agitarem e baterem cabeça de forma enérgica. “My Confession” é bruta, agressiva e traz trechos melódicos em seus refrões dinâmicos, que com certeza vão te fazer cantar junto.

“Question to Ask” é a penúltima faixa, e ela segue o nível de tudo que já foi apresentado aqui, alta qualidade, peso, dinâmica, e tudo que Prime Prophecy sabe fazer tranquilamente – Talvez, mas só talvez essa me soou a mais fraca do álbum – Isso não porque a faixa é ruim, mas por ela ser a mais “linear” não carregar a bateria com pausas e variações, a carga dramática dessa música é talvez a carga de um “co-piloto” que aprecia a vista, mas não tem o caos nas māos. Somente nos 4min20 que a canção ganha “gás” e acelerações, Martin Wilczek se mantém tranquilo nessa faixa, seu vocal me lembrou muito o de David Draiman do Disturbed,que é uma voz que carrega dinâmica de variações de forma muito eficaz, ele vai de guturais, Dry, Drive, e longas notas de forma muito agradável ,suave e bem encaixada. É com essas qualidades que Martin Wilczek se mostra poderoso em “Back to Reality”, faixa que encerra o álbum e expõe Martin as longas notas, as quais ele agarra e “mata no peito” com maestria! “Back to Reality” é o fim da nossa viagem às bordas do infinito, e nos deixa com a sensação de que podíamos muito bem ter continuado a bordo dessa nave que a banda Prime Prophecy nos posicionou.

‘Borders Of Infinity’, como dito no começo, não é só mais um álbum de metal lançado, ele tem conceito, ele tem peso legítimo e é original, se você é fã de Metal Progressivo como Symphony X, Disturbed, Therion e After Forever, o Prime Prophecy e este disco será seu próximo vício.

Formação:

Martin Wilczek (vocais)
Peter Statkiewicz (guitarras)
Darek Pakula (guitarras)
Tom Tworek (teclados)
Valerio Celentano (baixo)
Kris Niewiarowski (bateria )