Resenhas

Oh Felicity

Al Shalliker

Avaliação

8.0

Al Shalliker é um daqueles artistas que parecem carregar décadas de histórias em cada acorde. Diretamente de Plymouth, Inglaterra, ele consolidou sua carreira como a força criativa por trás do Watershed, banda que deixou sua marca no folk-rock britânico com uma mistura de reggae, soul e composições cheias de identidade. Agora, em sua trajetória solo, Al nos apresenta Oh Felicity, um álbum que abraça o folk de forma crua e visceral, mas que não tem medo de flertar com o blues, o country e até o rock.

Logo de cara, Six White Horses nos transporta para um universo que parece saído diretamente das prateleiras de vinil dos anos 60. A gaita de Alex McGinnes e o violão rústico de Al criam um clima que evoca mestres como Bob Dylan e Pete Seeger. É uma abertura que deixa claro: este é um álbum feito para ser sentido, não apenas ouvido.

Em seguida, Time Out Of Mind vira a chave e nos dá um blues rock robusto e cheio de atitude. Com uma pegada quase malandra, essa faixa carrega uma energia que contrasta perfeitamente com o restante do disco. Mas, como que para nos acalmar, Nothing Moves Gently retorna ao clima bucólico, trazendo de volta o lado mais romântico e campestre do folk, com uma execução que parece feita sob medida para uma tarde preguiçosa no campo.

A faixa-título, Oh Felicity, traz um ar reflexivo, com uma pegada de folk estradeiro que lembra viagens de carro sem destino certo, onde a paisagem se transforma em uma trilha sonora para pensamentos perdidos. Já Strange Day é um mergulho no dark folk, com uma melodia envolvente e uma profundidade instrumental que talvez a torne a joia do álbum.

O disco continua a nos guiar por paisagens sonoras cuidadosamente construídas. Old Ireland destaca a rouquidão natural da voz de Al, que adiciona um charme rústico e autêntico à faixa, enquanto Dancing In the Rain e Bird mergulham em territórios melancólicos, com arranjos minimalistas que dão espaço para a interpretação emocional brilhar.

Please Be Free é um respiro mais leve, introduzindo elementos de um folk tradicional, quase trovadoresco, que parece pedir para ser cantado em volta de uma fogueira. E então vem Tonight The Words Were Falling, que conecta habilmente os momentos mais introspectivos e orgânicos do disco.

Northern Lights e Don’t Do Me Wrong ecoam o lado mais introspectivo de Dylan, com arranjos que, embora simples, carregam uma intensidade emocional inegável. O álbum encerra com The Ancient Mariner, um fechamento lento e contemplativo que nos deixa com a sensação de termos atravessado um rio calmo, mas profundo.

Oh Felicity demonstra um domínio impressionante da simplicidade vinda de Al Shalliker, entregando músicas que, sem apelar para grandiosidades, conseguem ser incrivelmente poderosas. É um trabalho que pede atenção aos detalhes e recompensa quem se deixar levar por suas nuances. Se você ama Dylan, Johnny Cash, Neil Young – esse álbum vai te abraçar!