Se você ainda não ouviu falar em Coma Beach, chegou a hora de se atualizar. A banda vem conquistando fãs com sua mistura única de Punk, post-punk, e pitadas de grunge. ‘Passion/Bliss’ é a terceira e última parte do tríptico EP ‘Scapegoat Revisited’, que celebra o 30º aniversário do álbum de estreia ‘The Scapegoat’s Agony’ (1995), que já se tornou um marco na cena alternativa. Em uma explosão de quase 20 minutos dividida em cinco faixas, Coma Beach nos convida para um passeio vibrante pelos becos sombrios com a promessa assustadora de uma experiência altamente incomum. Uma crueza sonora e uma energia desenfreada. As composições são diretas, com ênfase em acordes simples e profundos que criam um som visceral e poderoso.
A estética sonora da banda é um verdadeiro banquete para os ouvidos. Com uma produção que sabe balancear o etéreo e o cru, o álbum nos leva por uma viagem sonora onde o punk encontra o post-punk, com flertes ocasionais com o grunge. As guitarras criam uma muralha de som que tanto pode ser suave quanto penetrante, enquanto a base rítmica mantém tudo no trilho, alternando entre momentos introspectivos e explosões catárticas.
A banda dividiu o álbum de estreia em 3 EPs com as versões originais/singles das canções, que são mais curta do que a versão do álbum. O título do álbum é uma alusão à peça “Waiting for Godot” do dramaturgo e romancista irlandês Samuel Beckett e aponta para a odisseia emocional — em grande parte — dolorosa e excruciante do anti-herói sem nome.
O EP leva o nome de duas faixas, abrindo com “Passion” – é a faixa nº 6 do álbum -, que já mergulha num mar de reverb e ambiência etérea, um prelúdio perfeito. Os vocais são sombrios e ganham força com agressividade, remetendo ao punk rock dos anos 70. Seguindo de “Bliss” – 5° faixa do disco -, que traz um som mais encorpado, onde o baixo grave e distorcido brilha na introdução e a guitarra assume um tom quase dançante, embora nunca perdendo a aura sombria. Aqui temos o verdadeiro punk rock.
Astray (Fallen Angel)” mantém a fórmula da primeira faixa, com uma pegada mais introspectiva, deixando um tom de shoegaze mais intenso – embora os riffs e os vocais lembrem levemente o black metal. Com suas melodias sombrias e uma linha de baixo lineares e pulsante, a faixa altera entre um refrão pesado digno de mosh, com os tons mais densos e a guitarra arrastada.
Um destaque interessante são os vocais, que consegue transmitir a leveza e o caos, tudo sintetizado com sua voz arrastada e cheia de expressão. O vocal brilha em cada faixa, tanto do álbum completo, quanto dos EPs. “Nothing Right” retoma para o punk rock lisérgico, com guitarras sujas, dedilhadas e molhadas e uma bateria simples e linear. Sem perder intensidade, é uma canção onde a melodia encontra um propósito e tom sombrios, uma verdadeira joia para os fãs de punk – posso dizer com certeza é a faixa mais emblemática do álbum.
“The Final Door” é a última faixa do EP, e do álbum. Com energia à tona, com guitarras distorcidas e dedilhadas e uma bateria dinâmica, a faixa tem o gran finale, e não poderia ser melhor. A vontade de estar no show, no mosh. Coma Beach fez um trabalho intenso de divulgação em seu disco, lançado em 1995, que foi revivido anos depois com EPs muito bem produzidos. É possível achar no Headbangers News outras resenhas das faixas, dos EPs e do álbum ‘The Scapegoat’s Agony’.
A obra de Coma Beach não se encaixa facilmente em um único gênero, mas isso só contribui para a sua beleza. A banda prova que é possível criar algo novo e emocionante ao fundir influências variadas de maneira coesa e original. Se você ainda não ouviu, não perca tempo; esse álbum é uma verdadeira joia do underground.