Resenhas

Time Away

Syndarian

Avaliação

8.0

Syndarian não quer te impressionar. Não vem com firula, não tem refrão chiclete, nem produção cheia de elementos e sofisticalismo. Casey Daniels, direto de algum canto americano que ele prefere não glamourizar, montou um home studio, trancou as portas e gravou Time Away sozinho, sem plateia, sem manual de instruções. O disco soa como alguém que não tem tempo pra agradar ninguém — e é justamente aí que ele acerta. Em vez de mirar no hype, Syndarian entrega sete faixas que mais parecem páginas arrancadas de um caderno surrado, com melodias simples, timbres crus e aquela pegada meio torta que só aparece quando o músico está tocando para ele mesmo.

A estética sonora é minimalista, mas não simplista. Ele usa uma estrutura mais crua, quase desprotegida, como se cada som estivesse ali porque realmente precisava estar. Nada é exagerado ou grandioso demais, mas tudo tem intenção. As influências vão do folk tradicional à melancolia do post-grunge, passando por paisagens sonoras dignas de trilha de filme indie. Dá pra sacar ecos de  City and Colour, um pouco de Elliott Smith e até um leve toque à la Staind nos momentos mais crus.

“Loving You” abre o disco com uma urgência delicada — tem algo meio corrido nos arranjos, mas ao mesmo tempo tudo soa sonhador. “Spirits” mergulha numa ambientação mais soturna, quase fantasmagórica, com instrumentos que flutuam e criam uma profundidade emocional que dá o tom para o resto. “Mirage” é desconcertante: camadas sonoras dissonantes e texturas que parecem vir de um mundo distorcido criam uma sensação de desorientação muito bem construída – e não sei porquê mas é ouvir a introdução e se transportar para Holiday Cambodia Dead Kennedys. Mas diferente da minha referência, essa faixa não cresce com bateria, gritos ou coisa do tipo, ela se mantém linearmente perturbadora com esse riff se repetindo e a adição de um solo cru e direto logo após seus 2 minutos. É uma música urgente e espiritual!

No meio do álbum, “Vanity” chega como ponto de virada. É o momento mais rasgado, mais nu — um misto de Neil Young e Nirvana com vocais mais pé no chão. “Harm” carrega uma aura mais rock n roll acústico e melancólico. “Bird Eye View” é uma balada tensa, construída sobre ritmo contido, com arranjos que crescem aos poucos até atingir um clímax emocional. A voz, quase conversada, vai guiando a música com calma, criam um clima introspectivo e ligeiramente paranoico. É o tipo de faixa que parece simples na superfície, mas esconde uma sofisticação emocional enorme por trás de cada escolha de timbre e pausa com a voz de Syndarian sempre guiando tudo com muita personalidade. O fechamento vem com “Hindinlight”, faixa lenta e carrega um clima de despedida. Os acordes simples sustentam vocais carregados de emoção contida. Uma faixa que soa como um adeus calmo — daquelas tipo que a gente solta quando entende o fim.

Time Away é simples, mas profundo. Calmo, mas inquieto. Se você curte Willie Nelson, Neil Young e familiares do som acústico, esse disco tem tudo pra te pegar. É daqueles trabalhos que não gritam por atenção — só pedem que você pare e escute com calma. Vale demais o tempo.