The Silent Era, um quarteto londrino formado em meio à pandemia, entrega em Wide And Deep And Cold uma obra que é tão sombria quanto arrebatadora. A banda, composta por Bri Macanas (vocal), Chris Schwarten (guitarra), Nicolas Zappa (baixo e multi-instrumentos) e Jo Eiffes (bateria), constrói uma sonoridade que mistura o peso industrial com a melancolia do post-punk, passando pelo metal alternativo e nuances de gótico lírico. Inspirados por nomes como Deftones, Nine Inch Nails, The Cure e Chelsea Wolfe, eles criam um universo musical que é profundo, gelado e totalmente imersivo.
O álbum começa com a faixa-título Wide and Deep And Cold, uma introdução atmosférica composta por chiados de televisão e vozes desconexas. É como abrir uma porta para o desconhecido — misterioso e desconfortável, preparando o terreno para o que está por vir. Quando On The Run começa, o peso explode. O que começa de forma gradual logo se transforma em uma parede de som poderoso, misturando riffs industriais, batidas nu metal e vocais líricos cheios de emoção. A voz de Bri se destaca, navegando entre o melódico e o imponente, enquanto os sintetizadores e guitarras densas criam uma base moderna e carregada de energia.
Em seguida, Vendetta traz um som cadenciado e brutal, que lembra a pegada de bandas como Fear Factory. O ritmo é calculado, mas cheio de peso, com guitarras distorcidas que colidem com batidas secas, enquanto o baixo entrega uma força esmagadora. É uma faixa urbana, que soa como a trilha sonora de uma cidade industrial em ruínas. Já Matter of Time nos transporta para um lugar completamente diferente: sons que evocam ancestralidade e misticismo abrem a faixa, como se estivéssemos ouvindo um chamado dos deuses antigos. Quando a guitarra pesada entra, o impacto é imediato, remetendo a algo que GZR faria em Zodiac. É grandiosa, cheia de textura, e facilmente uma das melhores do disco.
Strange To Me abraça um lado mais fantasmagórico. O baixo grave e abafado se alia à bateria seca e simples, enquanto as guitarras distorcidas se perdem entre sintetizadores etéreos. Há um magnetismo nostálgico aqui que nos leva direto aos anos 2000, mas com uma produção contemporânea que mantém tudo fresco. A transição para Peur é sutil e introspectiva, dando um respiro antes da virada que acontece em Dead of Night. Essa faixa acelera o ritmo com uma energia versátil e dinâmica. O gótico industrial domina, com vocais líricos que flutuam sobre uma base sólida e pesada, criando uma atmosfera que parece estar em constante movimento.
Paradise Beach retorna ao clima soturno, com um som que evoca imagens de universos como Blade ou O Corvo. É impossível não fechar os olhos e imaginar um mundo brutal, sombrio e dramático. A produção aqui é impecável, com camadas instrumentais que se elevam e trazem um toque quase cinematográfico à faixa. Em contraste, Cliffs começa mais delicada e vai crescendo de forma a transmitir uma sensação de liberdade, como se estivéssemos voando para longe do caos.
Oscillations é uma surpresa. Com um início seco e lúgubre, ela abraça o post-punk em sua forma mais pura. Bateria simples e riffs discretos criam uma atmosfera gótica autêntica, até que elementos industriais entram e transformam a faixa em algo ainda mais interessante — uma ode às baladas góticas dos anos 80. Para encerrar, Raining, Again é um instrumental sombrio que soa como a conclusão inevitável de uma jornada intensa, deixando o ouvinte refletindo sobre tudo o que foi vivido.
Com Wide And Deep And Cold, The Silent Era entrega um álbum que não só desafia rótulos, mas também cria um espaço sonoro único. É para quem ama o peso emocional do Deftones, a escuridão atmosférica de Chelsea Wolfe e a melancolia do post-punk clássico. Se você busca algo que misture intensidade, beleza e um toque de mistério, esse é o disco para ouvir — de preferência com as luzes apagadas e a mente aberta.