Resenhas

Witch Club Satan

Witch Club Satan

Avaliação

9.0

A banda norueguesa Witch Club Satan lançou seu aguardado álbum de estreia autointitulado, trazendo uma nova energia e perspectiva ao black metal. Composta por Nikoline Spjelkavik na guitarra, Victoria Røising no baixo e Johanna Holt-Kleive na bateria, o trio surgiu da cidade de Bergen, trazendo consigo o desejo em comum de romper com a apatia e buscar uma forma de expressão radical.

Desde o início,  a banda se diferenciou por abordar temas como feminismo, bruxaria e questões sociopolíticas em suas letras, combinando a ferocidade característica do black metal com uma profundidade temática rara. A combinação de riffs cortantes, baixo pulsante e bateria implacável revela a brutalidade crua do black metal, enriquecida com melodias atmosféricas, criando um equilíbrio perfeito entre agressividade e profundidade lírica.

Com 12 faixas, a obra, produzida por Vetle Junker (Aurora) e Sindre Nicolaisen, e co-produzida por Anders Odden (ex-guitarrista do Satyricon/Celtic Frost/Cadaver), destaca-se pela profundidade e coesão. O trio norueguês não tem medo de abordar temas complexos e frequentemente tabu dentro do black metal.

 

 

A faixa de abertura, “Birth”, estabelece imediatamente o tom do álbum com sua sonoridade pulsante e letras provocativas. Através de uma narrativa poderosa sobre transformação e renascimento, Witch Club Satan cria uma metáfora visceral para a criação e a maternidade, com uma musicalidade crua. “Fresh Blood, Fresh Pussy” é um grito de guerra brutal e provocador, abordando temas de ciclo menstrual e sexualidade feminina com uma honestidade brutal. A repetição de “I need blood” ressalta a intensidade do desejo e a necessidade de sangue como símbolo de vida e morte.

Black Metal Is Krig” critica a hipocrisia e a destruição associadas ao conflito humano, usando a metáfora do Black Metal como um tipo de guerra. Com letras como “War against lies” e “Do we leave this crippled world with nothing?“, Witch Club Satan questiona a moralidade e o impacto das guerras, enquanto a música mantém um ritmo feroz e implacável.

Inspirada em histórias de bruxas na Noruega, “Steilneset” é uma faixa atmosférica e quase espiritual. Com versos que falam de invisibilidade e poder oculto, a música cria uma sensação de mistério e reverência. É um dos ápices desta obra ritualística de Witch Club Satan, que busca suas referências na raízes punk do Black Metal dos anos 80, incorporando temáticas que levam a reflexão e desafiam as convenções.

Reverse This Fuck” mescla o sagrado e o profano, em um manifesto de resistência e empoderamento feminino. As guitarras criam paisagens sonoras densas e envolventes, alternando entre riffs agressivos e melodias etéreas. A bateria dinâmica sustenta a intensidade das composições, enquanto os vocais variam entre gritos angustiantes e passagens mais suaves, criando uma atmosfera que oscila entre o caos e a serenidade.

As músicas do Witch Club Satan exploram uma variedade de temas profundos e muitas vezes desconfortáveis, refletindo a complexidade e intensidade da experiência feminina e a rebeldia contra as injustiças sociais. Através de suas letras, Witch Club Satan cria uma narrativa que é ao mesmo tempo perturbadora e catártica.

Mother Sea“. Esta faixa é a minha ode preferida do coven de Witch Club Satan. A combinação de uma melodia hipnótica com letras poéticas que evocam imagens de dissolução e transformação. A música cria uma atmosfera meditativa, explorando a conexão entre a humanidade e a natureza. E “Hex” e “I Was Made By Fire” são feitiços que revelam a relação simbiótica entre o fogo e a vida, com letras que falam de destruição e renascimento.

A sonoridade é fortemente enraizada no black metal tradicional, com arranjos que alternam entre momentos de agressividade pura e passagens mais atmosféricas. Os vocais, tanto ferozes quanto evocativos, percorrem uma gama emocional que vai do grito visceral ao lamento melódico.

Mother” encerra o ritual de Witch Club Satan, que em seu álbum de estreia evoca imagens de força feminina e conexão com a natureza. O trio norueguês mergulha nas profundezas do feminismo e da história das bruxas, resgatando narrativas silenciadas e celebrando a rebelião feminina. Cada faixa é um convite para confrontar e refletir. O álbum de estreia do Witch Club Satan é uma mistura poderosa de brutalidade e melodia, que desafia convenções e honra as raízes do gênero com profundidade temática rara.

Witch Club Satan (2024)

Gravado no Estúdio Tomb.
Produção: Vetle Junker e Sindre Nicolaisen
Mixagem: Vetle Junker
Masterização: Martin Bowitz
Foto da capa: Helge Brekke
Capa: Nikoline Spjelkavik e God Strek